O vereador Sérgio Nogueira escapou de enfrentar um processo investigatório no âmbito do Jaguaribe, ante a prevalência do previsível, porém questionável, espírito corporativo, mas certamente poderá ser surpreendido nas urnas, pela derrapada ao brincar com coisa séria na tribuna da Câmara Municipal. A crítica ao governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, com uma conotação homofóbica, pode ser vista como uma estratégia de curto prazo para mobilizar um eleitorado conservador, mas que tem potencial consequência negativa a médio prazo, ou seja, nas eleições de outubro. Se, como pastor evangélico, espelhando-se na humildade de outro pastor, o Papa Francisco, que demonstrou empatia e pediu perdão pelo mesmo tipo de deslize, também esta semana, poderia evitar um mal maior, embora o estrago eleitoral esteja feito.
A crítica do vereador douradense ao governador gaúcho envolve diversas camadas de análise política, social e ética. Nogueira criticou a solicitação de doações via Pix para ajudar os gaúchos atingidos pela maior cheia da história do estado, chamando Eduardo Leite de pusilânime na condução dos trabalhos de socorro e reconstrução das cidades gaúchas. Crítica que ganhou um contorno polêmico e discriminatório ao insinuar que o governador estaria mais preocupado com seu “primeiro-damo”, uma referência pejorativa ao marido do governador, que é, assumidamente, gay.
Assim, a declaração de Sérgio Nogueira deve ser analisada à luz do contexto político e social. Como vereador e pastor evangélico, ele provavelmente tenta alinhar-se com uma base eleitoral conservadora, que muitas vezes mantém visões tradicionais e, em alguns casos, até discriminatórias em relação à comunidade LGBTQIA+. Este grupo representa uma parcela significativa do eleitorado evangélico, que, principalmente após o advento do bolsonarismo, tem mostrado crescente influência nas eleições brasileiras.
No entanto, a fala considerada discriminatória certamente repercutirá no projeto de reeleição do vereador, nesses tempos em que Brasil convive com uma crescente onda conscientização e apoio aos direitos LGBTQIA+, especialmente entre os jovens e grupos urbanos. A posição assumida por Nogueira pode afastar aqueles eleitores que veem a discriminação como um problema sério e que apoiam a inclusão e igualdade de direitos.
A referência ao Papa Francisco é mais que pertinente. Ao pedir desculpas por usar o termo “viadagem” ao se referir a pessoas gays, o papa mostrou uma abordagem de humildade e reconhecimento do erro, o que é uma estratégia eficaz para mitigar críticas e mostrar liderança ética. Ao contrário, a postura de Nogueira pode ser vista como uma recusa em reconhecer a dignidade e direitos da comunidade LGBTQIA+, o que pode ser prejudicial não só moralmente, mas também eleitoralmente, em um cenário político cada vez mais inclusivo.
Nessa balança a tentativa de Sérgio Nogueira de agradar seu eleitorado conservador pode ser contraproducente em um cenário onde a aceitação e apoio aos direitos LGBTQIA+ estão em ascensão. Embora ele possa manter o apoio de uma base mais conservadora, corre o risco de perder votos valiosos de eleitores moderados e progressistas. Além disso, a recusa da Câmara Municipal em investigar a fala pode gerar descontentamento entre aqueles que esperam uma postura mais firme contra a discriminação.