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quarta-feira, dezembro 24, 2025

‘Traição’ de Ramagem ao gravar reunião com Bolsonaro atinge campanha do deputado à prefeitura do Rio

Abin registrou reunião em que o então presidente discutia um plano para blindar o senador Flávio Bolsonaro no caso das 'rachadinhas'

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Ainda tímida nas pesquisas e prestes a entrar em momento agudo, a pré-candidatura de Alexandre Ramagem (PL) à prefeitura do Rio foi baqueada pela revelação de que o ex-diretor da Abin gravou uma reunião com o então presidente Jair Bolsonaro (PL) no Palácio do Planalto, em 2020, em que se discutia um plano para blindar o senador Flávio Bolsonaro no caso das “rachadinhas”, segundo a Polícia Federal. Se o mérito da investigação sobre a “Abin paralela” era algo precificado pela campanha, a suposta quebra de confiança simbolizada pelo áudio — já chamada de “traição” por alguns bolsonaristas — traz incertezas sobre a candidatura às vésperas da corrida eleitoral.

Ciente do problema, o pré-candidato desmarcou compromissos que teria no Rio no início da semana que vem e decidiu ir a Brasília, onde vai se reunir com o ex-presidente. Na quarta-feira, ele vai prestar depoimento à PF.

Conforme noticiou a colunista Bela Megale, do jornal O Globo, Bolsonaro ficou “furioso” com a existência do áudio e ficou incrédulo com o fato de um diretor da agência gravar o presidente da República. Na ocasião, segundo a investigação, falou-se em formas de minar a investigação sobre as supostas “rachadinhas” de Flávio Bolsonaro, filho do ex-presidente, conduzida à época pelo Ministério Público do Rio a partir de dados enviados pela Receita Federal.

A confiança de Bolsonaro em Ramagem, delegado da PF e segurança do então presidenciável depois da facada que levou na eleição de 2018, foi algo basilar para a escolha dele como representante do PL na eleição carioca — na qual o deputado federal registra apenas 7%, segundo a pesquisa Datafolha da semana passada, e vê o prefeito Eduardo Paes (PSD) pontuar confortáveis 53%. O nome entrou em cena depois de Flávio ser vetado pelo pai e de o general Walter Braga Netto ficar inelegível por decisão do Tribunal Superior Eleitoral.

Desempenho nas pesquisas — Foto: Editoria de Arte
Desempenho nas pesquisas — Foto: Editoria de Arte

O clima na campanha e no PL é de incerteza. Ainda se evita falar em substituição, mas é sabido o grau de imprevisibilidade de Bolsonaro. Eventuais desdobramentos da investigação nos próximos dias, como uma possível divulgação do teor completo do áudio encontrado no computador de Ramagem, são vistos como cruciais para a manutenção ou não da candidatura.

Estrutura

Cerca de 70 funcionários já trabalham na pré-campanha de Ramagem e vêm preparando o deputado para a disputa, sob comando dos marqueteiros Paulo Vasconcelos e Guillermo Raffo. A crise surge em momento decisivo, a poucos dias do início das convenções partidárias — que podem ser realizadas entre os dias 20 de julho e 5 de agosto. A do PL deve ser no dia 22. Há agendas de rua de Ramagem com Bolsonaro marcadas para os dias 18 e 19, nas zonas Norte e Oeste do Rio. Aliados reconhecem que, a depender dos desdobramentos, elas podem ser canceladas — o que seria um sinal da possibilidade de o PL rifar a candidatura.

Ontem, Flávio reforçou a realização dos eventos e o discurso de “perseguição” da PF e do Judiciário.

— O ex-presidente recebeu com surpresa todas as notícias sobre este áudio. Esperávamos que a PF investigasse o tema, não que houvesse este tipo de vazamento às vésperas das eleições, para minar o Ramagem — disse Flávio ao GLOBO. — As atividades de campanha estão mantidas, segue sendo candidato.

Na quinta-feira, Ramagem estava em um treinamento para melhorar o desempenho no programa eleitoral de TV quando a notícia da gravação veio à tona. Bolsonaristas receberam ordens para evitar generalizações em críticas à PF, já que o próprio Ramagem é delegado da corporação e pretende ter como mote de campanha o discurso da “inteligência a serviço da ordem, em parceria com o governo do Rio”. A segurança é citada como principal problema do Rio pela maioria dos entrevistados pelo Datafolha.

Estrutura da espionagem na Abin paralela — Foto: Editoria de Arte
Estrutura da espionagem na Abin paralela — Foto: Editoria de Arte

No partido, um dos cenários cogitados é que Ramagem possa se reerguer com mais facilidade se for indicado que o áudio foi gravado por um assessor. Nesta hipótese, não haveria o peso de uma “traição”.

A gravação foi apreendida pela Polícia Federal na casa de Ramagem, em 24 de janeiro deste ano, e compõe o inquérito que apura o suposto monitoramento ilegal realizado pela Abin durante o governo Bolsonaro. No caso dessa reunião, o foco seria usar a agência para auxiliar a defesa de Flávio no caso das “rachadinhas” que ele teria praticado quando era deputado estadual no Rio.

O arquivo foi encaminhado ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e deverá passar por uma perícia por profissionais do Instituto Nacional de Criminalística (INC) a fim de que a íntegra da reunião, de 1 hora e 8 minutos de duração, possa ser transcrita.

De acordo com a PF, no encontro, realizado no Palácio do Planalto em 25 de agosto de 2020, foram discutidas supostas irregularidades que teriam sido cometidas por auditores da Receita Federal na elaboração de um relatório de inteligência fiscal que originou o inquérito. Também estavam presentes a defesa de Flávio, e o então chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno. Nas redes sociais, o senador negou envolvimento com a chamada “Abin paralela” e disse ser vítima de “criminosos que acessaram ilegalmente” os seus dados sigilosos na Receita Federal.

O relatório da PF aponta ainda que integrantes da chamada “Abin paralela” tentaram levantar “podres e relações políticas” dos auditores.

Alvo incômodo

Um dos alvos da operação da PF foi José Mateus Gomes, contratado por meio do gabinete de Ramagem na Câmara e tido como figura fundamental na estrutura de campanha do bolsonarista, já que coordenaria as postagens. O profissional deve ser limado da campanha, por ordem de Bolsonaro.

Segundo interlocutores, Bolsonaro teria se irritado com o fato de Gomes ter sido vinculado a Ramagem. Ele é descrito pela PF como integrante do núcleo “Presidência”, uma espécie de ponto de contato do Planalto com os responsáveis por proliferar as fake news.

Gabriel Sabóia, Caio Sartori, Paolla Serra e Eduardo Gonçalves/O Globo — Brasília e Rio

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