O critério de escolha de Marçal Filho como candidato do entorno tucano para a sucessão do prefeito Alan Guedes é dos mais questionáveis, daí às dificuldades que o radialista teve para emplacar. Pueril até, se, de verdade, foi com base em números de pesquisas. Pelo menos dessas encomendadas pelo governo, para o tal do consumo interno, feitas pelos mesmos “institutos” que erraram feio nas duas eleições anteriores para a mesma prefeitura, que apontavam as vitórias de Geraldo Resende sobre Délia Razuk e de Barbosinha sobre Alan Guedes. Além do que, desnecessário dizer, pesquisas refletem um momento. Ainda mais quando se trata do momento de um radialista de sucesso, mas um sucesso que não se reflete nas urnas, com apenas 50% de aproveitamento em todas as eleições em que disputou, sempre perdendo a primeira (como é esta, agora), para cada cargo, exceto na de deputado estadual, nesta, pior ainda, porque perdeu na reeleição, o que significa que não teve o mandato aprovado por seus eleitores.
Como Marçal Filho nem é do PSDB (foi “comprado” às pressas junto ao “PDQPD+”), a dedução mais lógica é de que sua candidatura a prefeito não passa de um puro capricho. Coisa de quem que ainda se engana achando que dinheiro compra tudo nessa vida. Isto, para não dizer do ranço, coisa que cheira a mofo, resquícios de um coronelismo – ainda bem! – já em seus estertores, principalmente se o que pode ser o último tiro da carabina (com o cano enferrujado) do deputado Zé Teixeira sair pela culatra. Ou seja, repetindo-se a surra de quatro anos atrás, com nova vitória do prefeito Alan Guedes ou no caso de uma polarização, com o eleito saindo da federalização das eleições entre o professor Tiago “amigo do Lula” Botelho e a queridinha de Bolsonaro, Gianni Nogueira.
Uma birra de Zé Teixeira que começou na eleição de Alan Guedes para a presidência da Câmara em 2018, quando o atual prefeito peitou pela primeira vez seu até ali chefe político. Zé Teixeira queria eleger o vereador Pedro Pepa (logo em seguida afastado por falta de decoro parlamentar e só não cassado por conta do corporativismo de seus pares), o mesmo Pepa em quem o deputado agora patrono da candidatura Marçal Filho aposta todas as suas fichas para retornar ao Jaguaribe como um dos mais votados.
Como de bobo não tem nada, o ainda jovem vereador Alan Guedes aproveitaria a presidência da Câmara como trampolim, com a ideia fixa no Casarão da Coronel Ponciano. Confortável na cadeira que havia sido de sua colega Délia Razuk no legislativo, por que não herdar dela também a tão cobiçada poltrona do executivo, determinado que estava a mudar a história política e administrativa da cidade? Se ainda estivesse vivo, o poeta Alcodan certamente adaptaria ao famigerado gerúndio sua famosa paráfrase: “Assim foi, assim é, assim poderá continuar sendo”.
“Seu Zé”, claro, subiu nas tamancas. Pior, não desceu até hoje. Tanto que com essa sede de vingança contra o ex-pupilo coloca em xeque o ambicioso e até aqui bem sucedido projeto de poder de seu superior hierárquico no coronelismo, o Azambuja, da mesma forma a promissora carreira política de Eduardo Riedel, que, até por ter começado por cima, já como governador, pode ser levado de roldão em consequência da inquietude e exasperação de um afortunado que não se conforma encerrar a vida pública por baixo. Sim, porque uma terceira derrota consecutiva do establishment em Dourados certamente será debitada na conta de Zé Teixeira. E, pelo andar da carruagem, já se vislumbra um novo déjà-vu, um repeteco do que aconteceu com Geraldo Resende e Barbosinha. Com os mesmos atores, contracenando no mesmo palco, tanto que Alan Guedes nem precisará se dar ao trabalho de refazer o discurso com o qual derrotou os mesmos adversários das eleições passadas.
As cenas dos próximos capítulos já estão sendo gravadas. Daqui para 05 de Agosto serão dias de muita tensão, tanto que já tem candidato a prefeito baixando ao hospital. A mala preta finalmente será aberta. No centro das atenções, o leilão promovido pelo fazendeiro e deputado federal Rodolfo Nogueira, sonhando arrecadar fundos para uma hipotética campanha da esposa, Gianni, inicialmente oferecida como candidata vice-prefeita, leilão prejudicado por um lance maior, de Reinaldo Azambuja, que foi direto ao dono dos bois e negociou o PL de porteira fechada, de Jair Bolsonaro.
A crônica de uma derrota anunciada não deixa de ser didática. Tanto que foi escrita com base numa avaliação, em off, em tom de vaticínio, de um dos mais experientes “tocadores” de campanha do estado, da “cozinha” de Reinaldo Azambuja. Para o chefão tucano, diz a fonte, tanto faz Marçal, Alan, Botelho, Gianni, o “novo” Racib, até mesmo Juninho Teixeira, dona Bela ou lendário Archimedes Ferrinho. Quem ganhar vai ter que se sentar com o governo para poder tocar a coisa. A diferença é que se o futuro interlocutor do Casarão da Coronel Ponciano junto ao governo continuar o mesmo, tanto Azambuja como Riedel estarão diante de outro Alan Guedes, mais encorpado e, pela lição que terá dado no velho coronelismo, podendo, enfim, assumir o vácuo deixado por João Totó Câmara, José Elias Moreira, Braz Melo, Laerte Tetila e Murilo Zauith, como liderança política de referência no estado, o único jeito de Dourados tentar chegar um dia ao alto do pódio da política do Mato Grosso do Sul.