Os candidatos Guilherme Boulos (PSOL), José Luiz Datena (PSDB), Pablo Marçal (PRTB), Ricardo Nunes (MDB) e Tabata Amaral (PSB) participaram nesta quinta-feira, 8, do primeiro debate na corrida eleitoral pela Prefeitura de São Paulo.
Durante o encontro, transmitido pela Band, Nunes foi o alvo principal dos demais candidatos, já que lidera as pesquisas e atualmente ocupa o cargo de prefeito. O debate também foi marcado por poucas propostas e muitos ataques, com destaque para a ira de Marçal e a ironia de Datena.
Primeiro bloco
Durante a sabatina, mediada pelo jornalista Eduardo Oinegue, cada candidato começou tendo um minuto e meio para responder sobre suas propostas para revitalizar o centro da cidade, que tem problemas como a Cracolândia e a situação de abandono.
O atual prefeito Ricardo Nunes foi o primeiro a responder. Ele ressaltou a importância do turismo para a cidade e citou eventos que atraem visitantes, como a Fórmula 1, Fórmula E e a NFL. Nunes também destacou os investimentos em reurbanização e segurança, mencionando o aumento do efetivo da Guarda Civil Metropolitana e projetos de revitalização de praças e parques no centro.
Em seguida, Pablo Marçal enfatizou a necessidade de combater a criminalidade e melhorar a segurança no centro. Ele mencionou a importância de uma abordagem multifacetada, que inclui melhorias na zeladoria urbana e a requalificação de áreas como Santa Efigênia.
Já Tabata Amaral destacou a criação de um órgão executivo para articular diferentes secretarias com o objetivo de revitalizar o centro. Ela também propôs a criação de um parque tecnológico e a ocupação de imóveis desocupados.
Em sua vez, Datena criticou duramente a atual administração, afirmando que o centro de São Paulo está destruído, e a cidade, de modo geral, insegura. Ele defendeu um reforço na segurança pública como medida essencial para atrair turistas e investimentos.
Por fim, Guilherme Boulos focou na transformação de imóveis abandonados em moradias e no desenvolvimento do comércio popular e da economia criativa. Ele propôs o programa Novo Centro para requalificar áreas degradadas e promover a cultura e a economia local.
Na sequência, ocorreu a primeira rodada de confronto direto entre os candidatos a prefeito de São Paulo.
Marçal e Nunes
Marçal iniciou escolhendo Nunes e já fez críticas à gestão, destacando que “192 mil pessoas precisam de cirurgia” e “aumentou em 23% a população em situação de rua desde dezembro do ano passado”. Ele questionou Nunes sobre a falta de calçadas e a gestão das UPAs, afirmando que “uma cidade tão rica não trata a pessoa que precisa de exame com respeito”.
Nunes, em sua resposta, destacou as realizações de sua gestão, mencionando que dobrou o orçamento da saúde de R$ 10 bilhões para R$ 20 bilhões e que “a cidade de São Paulo realizou o maior número de consultas e exames na história”. Ele mencionou a construção de novas UPAs e a redução de óbitos por infarto, afirmando que “quando você entrava no equipamento de urgência e emergência com infarto, 30% das pessoas em óbito. Com o novo protocolo, caiu para 4%”.
Marçal continuou suas críticas, acusando Nunes de não responder diretamente às perguntas e chamando a gestão de “bagunça”. Nunes rebateu, defendendo que sua equipe é comprometida e que ele trabalha sete dias por semana para melhorar a qualidade de vida na cidade. Ele finalizou afirmando que “os próximos quatro anos serão os melhores quatro anos da cidade de São Paulo com a continuidade do nosso governo”.
Boulos e Nunes
Nunes voltou a ser escolhido para responder perguntas. Desta vez, ele foi alvo de Boulos, que acusou o atual prefeito de gastar R$ 6 bilhões em obras sem licitação e de falta de transparência, perguntando sobre Pedro José da Silva, que teria recebido contratos irregulares. Nunes respondeu que Pedro José da Silva é um trabalhador que presta serviços para a prefeitura há 20 anos e defendeu sua gestão mencionando as 1.425 obras realizadas.
Boulos rebateu, dizendo que Nunes beneficia amigos e citando outro caso de investigação do Ministério Público envolvendo Genário Nascimento da Cruz. Nunes afirmou que sua administração é transparente, combatendo a corrupção com a contratação de 70 controladores, e acusou Boulos de atacar sem propostas concretas.
O debate seguiu com Nunes defendendo seu histórico como vereador e prefeito, destacando seu compromisso com a cidade e a melhoria da qualidade de vida.
Datena e Boulos
Datena e Boulos usaram seu tempo para criticar a gestão de Ricardo Nunes. Datena iniciou atacando Nunes por supostas mentiras e irregularidades que estão sendo investigadas pelo Ministério Público. Ele também questionou Boulos sobre suas associações, sugerindo que ele tinha ligações com a prática de rachadinha.
Boulos se defendeu afirmando que não favorece amigos com contratos na prefeitura e criticou a administração de Nunes por má gestão do dinheiro público, resultando na falta de serviços essenciais como merenda escolar e atendimento médico adequado. Ele mencionou a falta de médicos e remédios nas UBSs e UPAs, destacando a necessidade de uma gestão mais eficiente.
Datena apresentou suas propostas para a saúde, como estender o horário de funcionamento das UBSs e contratar mais médicos. Ele também criticou Boulos por suas supostas associações e mencionou a necessidade de combater a prática de rachadinha, independentemente de quem a pratica.
Boulos propôs a criação do “Poupa Tempo da Saúde”, com 16 centros diagnósticos e consultas com especialistas para reduzir filas, e o programa “Mais Médicos e Especialidades” em parceria com o governo federal. Ele enfatizou que a saúde pública precisa melhorar significativamente em São Paulo, convidando os eleitores a apoiarem suas propostas.
Nunes e Marçal em mais um embate
Em mais um embate entre Ricardo Nunes e Pablo Marçal, Nunes questionou Marçal sobre a estabilidade e atração de investimentos em São Paulo, mencionando casos de vandalismo em instituições como a Fiesp e a Bolsa de Valores. Marçal respondeu de forma irônica, afirmando que sua prioridade seria “tirar você da prefeitura” e que planejava implementar a “empresarização,” ensinando profissões do futuro como tecnologia e inteligência emocional nas escolas e empresas da cidade.
Nunes replicou, destacando iniciativas de sua gestão, como o programa Meu Trampo, que oferece cursos profissionalizantes a 10 mil jovens, e a Fundação Paulistana, que capacita 23 mil jovens com um auxílio financeiro de R$ 700 por mês. Marçal rebateu, criticando Nunes por não investir adequadamente em educação e propondo criar uma secretaria para abrir empresas, enfatizando que “a empresa gera emprego e renda, não o governo.”
Tabata e Marçal
A candidata Tabata Amaral tentou questionar Pablo Marçal sobre a operação urbana Água Branca, na zona oeste, mas Marçal afirmou não saber do que se tratava. Amaral então mencionou uma condenação de Marçal por formação de quadrilha em 2010, em Goiânia, que teve a pena extinta. Marçal prometeu se retirar da disputa se a informação fosse confirmada, mas logo em seguida atacou Amaral, chamando-a de “para-choque de comunista”, e também se dirigiu a Boulos, chamando-o de “comedor de açúcar” e “apoiador de Hamas”. Boulos recebeu o direito de resposta e anunciou que publicaria a sentença contra Marçal em suas redes sociais — e publicou.
Segundo bloco
Já no segundo bloco do debate, jornalistas fizeram perguntas aos candidatos, escolhendo quem iria responder e quem iria comentar. Nessa dinâmica, os políticos seguiram em tom mais ameno e foi um bloco mais frio, em comparação ao primeiro.
Também foram apresentadas mais propostas – principalmente no setor de mobilidade. Boulos, por exemplo, afirmou que pretende investir na expansão de corredores e faixas exclusivas no transporte, assim como ‘passar a limpo’ os contratos de ônibus de São Paulo. Já Marçal, em outro momento, disse sobre seu plano de criar linhas de teleféricos para auxiliar no trânsito da cidade.
Terceiro bloco
Os candidatos continuaram a se atacar, com poucas propostas concretas sendo apresentadas. Pablo Marçal escolheu Boulos para responder sua pergunta, no entanto, o questionamento acabou sendo secundário.
Antes de começar a sua fala, Marçal fez um gesto com o nariz após afirmar na semana passada, durante uma convenção, que revelaria dois candidatos que seriam “cheiradores de cocaína” no debate.
Ao confrontar Boulos, ele comentou que o psolista “deve ter visitado todas as biqueiras da cidade” em busca do que mais lhe agrada. Em resposta, Boulos chamou Marçal de “ladrão de banco”, afirmou que “estava diante de um psicopata” e que o político estava contando uma “mentira descarada”. O deputado então acrescentou: “Falando em drogas, você deve ter muito a dizer”, mencionando uma gravação revelada pela Folha de S.Paulo, onde o presidente do PRTB, Leonardo Avalanche, afirma ter conexões com o PCC.
Tabata Amaral confrontou Nunes sobre alegações de agressão feitas por sua esposa, que registrou um boletim de ocorrência na Delegacia da Mulher. Nunes negou a acusação, pediu “respeito” e afirmou que “não pode ser vale tudo numa campanha”.
Na plateia, Regina Nunes, esposa do prefeito, ficou visivelmente irritada: “Deixe minha família em paz! Mulher atacando mulher”, disse ela. Ela se levantou e precisou ser contida por assessores em duas ocasiões, enquanto a produção pedia silêncio ao público.
Em seguida, Nunes escolheu Datena para responder sobre áreas verdes e sustentabilidade. Datena aproveitou o tempo para rebater a ameaça de processo feita por Nunes no bloco anterior. Ele continuou associando o prefeito ao crime organizado e, ao apresentar sua resposta, defendeu a adoção de ônibus elétricos, o aumento das áreas verdes e a construção de mais parques “com licitações transparentes”.
Nunes, por sua vez, negou ter qualquer condenação em sua vida, afirmou que Datena “já foi condenado várias vezes por imputar crimes a inocentes” e chamou o apresentador de “valentão atrás das câmeras”.
Ainda durante a oportunidade para perguntas, Boulos se associou a Datena para atacar o atual prefeito, focando na concessão dos cemitérios. Datena criticou a privatização, afirmando que “é de morrer”, e acusou Nunes de falta de qualificação.
No entanto, ele ressaltou sua oposição à polarização e também fez uma crítica a Boulos. “Você parece uma marionete do presidente Lula, enquanto aquele outro parece uma marionete do Bolsonaro. Eu não colocaria nenhum dos dois na prefeitura de São Paulo”, afirmou Datena.
Em sua resposta, Boulos disse ter “posicionamentos firmes”, comparando Nunes ao “bolsonarista adotado” e Marçal ao “bolsonarista rejeitado”, o que provocou risadas na plateia e até uma reação brincalhona de Marçal, que fez uma expressão triste e apertou as mãos.
Nunes e Boulos estão à frente de corrida eleitoral
As eleições municipais de 2024 acontecem no dia 6 de outubro, o primeiro domingo do mês. Já o segundo turno, se for o caso, deve acontecer no último domingo de outubro, no dia 27.
A primeira pesquisa do Datafolha após as convenções que oficializaram os candidatos à Prefeitura de São Paulo este ano, divulgada nesta quinta-feira, mostra Ricardo Nunes (MDB) e Guilherme Boulos (PSOL) praticamente empatados, com 23% e 22%, respectivamente.
Em terceiro lugar na disputa, aparecem o apresentador José Luiz Datena (PSDB) e o influenciador Pablo Marçal (PRTB), ambos registrando um crescimento desde julho e atingindo 14% das intenções de voto.
Mais atrás na disputa estão a deputada federal Tabata Amaral (PSB) e Marina Helena (Novo), com 7% e 4%, respectivamente. Na sequência, aparecem João Pimenta (PCO) com 2% e Altino (PSTU) com 1%. Os demais candidatos não pontuaram. Votos brancos ou nulos somam 11%, e 3% dos entrevistados não souberam ou não quiseram responder.
O Datafolha entrevistou 1.092 eleitores na cidade de São Paulo na terça-feira, 6, e na quarta-feira, 7. A pesquisa, encomendada pela Folha de S.Paulo e registrada na Justiça Eleitoral sob o número SP-03279/2024, possui uma margem de erro de três pontos percentuais, para mais ou para menos.
Beatriz Araújo e Isabella Lima/Redação Terra