A escritora e advogada Victória Dandara, 26 anos, se tornou a primeira travesti brasileira a conquistar uma vaga no mestrado da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos. Além disso, ela também foi pioneira ao se formar na tradicional Faculdade de Direito da USP (Universidade de São Paulo), no Largo São Francisco.
Dandara, que já está no campus da universidade norte-americana para começar o curso, foi aprovada em outras Instituições renomadas como Berkeley, Columbia, UCLA, NYU e Northwestern.
“Com certeza aquela criança viada não imaginava que se tornaria uma travesti, que isso sequer seria possível. Tampouco sonhava que sendo travesti, poderia ser amada, se formar, ter uma carreira e estudar na mais prestigiosa faculdade de direito do mundo. Tudo isso parecia tão inatingível”, publicou nas redes sociais.
Em entrevista ao UOL, ela compartilhou que sua dedicação aos estudos sempre foi um meio de transformar sua vida, mesmo diante de comentários que tentavam desmotivá-la.
“A educação é a única ferramenta para nós. Ouvi de pessoas da família, quando transicionei, que minha única opção era ser cabeleireira”, disse.
Dandara afirmou que não há desmerecimento em ser cabeleireiro, mas considerou prejudicial dizer a uma adolescente de 16 anos que essa é sua única alternativa. Ela destacou que, quando travestis conseguem ingressar e persistir na educação, isso permite à comunidade se mobilizar e exigir novas oportunidades.
“Hoje eu me sento nos mesmos bancos que Barack e Michelle Obama ocuparam anos atrás, e isso é muito potente”, ressaltou.
Trajetória
Um dos grandes incentivos para se dedicar aos estudos partiu primeiramente da mãe de Dandara, que foi vítima de violência doméstica.
“Os primeiros anos da minha vida foram vendo meu pai agredindo minha mãe de várias formas. Quando ela se separou e voltou a ser professora para garantir o sustento, ela sempre incentivou o estudo. Ela dizia: ‘Nós somos pobres, então a única possibilidade é estudar’. Isso sempre me marcou. Eu tinha que ser a melhor em todos os âmbitos e, quando me identifiquei como travesti, isso ficou ainda mais forte”, disse ao Terra em abril.
Durante a adolescência, ela conseguiu uma bolsa para fazer o ensino médico em um colégio particular religioso, momento em que iniciou sua transição. Embora a escola não tenha revogado sua bolsa ao descobrir a situação, também não ofereceu suporte.
Dandara enfrentou diversas dificuldades na escola devido à falta de acolhimento, como a proibição de usar o banheiro feminino da instituição e a negação dos professores e direção de usar seu nome social. Apesar dos desafios e da vontade de desistir, sua mãe a incentivou a seguir em frente com os estudos.
Isabella Wandermurem/Portal Terra