Ao final da primeira gestão Braz Melo, em 1992, seu principal aliado político, o deputado Valdenir Machado, credenciava-se como candidato natural à sucessão do prefeito que chegara para fazer história. Era o auge do poderio do PMDB no Mato Grosso do Sul, quando Wilson Barbosa Martins ainda reveza o mando político com Pedro Pedrossian. Mas Braz Melo, pelo estrondoso sucesso daquela administração, da mesma forma credenciando-se como forte candidato ao governo do estado – até pela vantagem de ter um pé na canoa de Wilson Martins outro na de Pedrossian –, preferiu optar por um outsider na política (seu secretário de obras Antônio Luiz Nogueira), só não contando com a determinação de Valdenir Machado de impor sua candidatura. Um racha histórico, que resultou na candidatura de Humberto Teixeira, apoiada por Valdenir, levando o projeto de governo de Braz Melo para o beleléu.
Sem o almejado poder da prefeitura, mas fortalecido com a vitória de Humberto Teixeira, Valdenir Machado continuou seu mandato como deputado estadual, respaldado apenas pela força da ali já famosa “República do Panambi” – um ajuntamento de ilustres migrantes da região de Santo Anastácio, mais propriamente do Distrito de Ribeirão dos Índios, no interior de São Paulo, que se transferiu para o ainda estado de Mato Grosso no final da década de 1970, alguns deles se estabelecendo no distrito de Panambi. Entre eles, dois ex-prefeitos de Dourados, Laerte Tetila e Humberto Teixeira e seu irmão, o deputado Zé Teixeira, os irmãos Mariano (Albano, Durval e Vazinho), os professores Ângelo Alves de Oliveira, Idenor Machado e José Mazarim, entre outros.
Por uma dessas voltas que a política dá, quatro anos depois Valdenir Machado conseguiu chegar à prefeitura, mas como coadjuvante, adivinhe, de quem? Do próprio Braz Melo, de quem foi vice-prefeito. Depois de três mandatos como deputados estadual ele ainda voltaria à Assembleia Legislativa, em 2005, para um quarto meio-mandato, assumido a vaga deixada por Flávio Kayatt, eleito no ano anterior prefeito de Ponta Porã.
Depois, num longo período de “vacas magras”, desde que deixou a Assembleia, Valdenir Machado nunca se afastou da política partidária. Foi um dos grandes apoiadores em Dourados da candidatura de Reinaldo Azambuja ao governo, destacando-se como seu principal cabo eleitoral, o que rendeu a ele o cargo de “governador regional” no primeiro mandato de Azambuja. Depois, indicado pelo governador para comandar o PSDB, cargo no qual comandou o processo de construção da candidatura de Eduardo Riedel em Dourados.
Agora, quando tudo apontava para uma confortável aposentadoria política, eis que o “Pintadinho” (apelido como é carinhosamente conhecido entre os fiéis seguidores) resolve recomeçar tudo do zero, disputando o cargo de vereador. Isto, exatos quarenta e oito anos depois de sua primeira eleição para a Câmara Municipal, no palanque de Lauro Machado de Souza, o vice-prefeito do grande líder político João da Câmara, de quem Valdenir Machado era aliado.
Sede de poder, orgulho, vaidade? Não, Valdenir diz que é humildade, o que ele resume numa frase que deveria ser o lema de todo o bom político: “vontade de servir, de verdade, à população”, o que define como um “vício”. Outra coisa, segundo ele, “político que é político não consegue viver sem disputar eleição”, diz, lembrando o banqueiro, ex-governador mineiro Magalhães Pinto e “eterno” deputado federal (autor da célebre frase “política é como uma nuvem, você olha está de um jeito, olha de novo já mudou”) que tinha dois sonhos: ser presidente da República, depois encerrar sua carreira como vereador em Belo Horizonte.
Para encerrar a carreira como vereador Valdenir Machado, que como deputado sempre teve um grande exército de seguidores, agora candidato pelo Republicanos terá que desbancar o vereador oposicionista Fábio Luiz e ainda ter mais votos que a ex-secretária de educação de Alan Guedes, Ana Paula Benitez, entre os favoritos nessa legenda. A menos que o partido consiga eleger pelo menos três representantes, aí ele até podendo ficar com o bronze. Mas, por todo seu histórico, ele quer – e acredita – ficar com o ouro.