Para driblar a falta de candidaturas competitivas em determinadas capitais, o PT aposta em reforçar campanhas em outras cidades populosas de estados como Minas Gerais, Bahia e Santa Catarina. A estratégia é investir em municípios com mais de 100 mil habitantes nesses locais para minimizar possíveis derrotas de nomes da própria sigla e de aliados.
Como Dourados se encaixa nesse perfil, o candidato petista Tiago Botelho não perdeu a esperança de contar com o apoio presencial do amigo Lula, nem que seja para um café na padaria do fuxico. A candidatura de Botelho, que disputa com o ex-prefeito Tetila de vice, não conseguiu decolar ainda, mas ele faz questão de lembrar nas mídias sociais que é o candidato que mais cresce nas pesquisas.
Integrantes da cúpula do partido avaliam como difícil o cenário, por exemplo, em Belo Horizonte, Salvador e Florianópolis e têm apostado em ampliar hegemonia em cidades médias e grandes desses estados. A legenda tenta se recuperar do tombo sofrido em 2020, quando não elegeu nenhum prefeito em capitais e perdeu 11 das 15 disputas de segundo turno.
Na Bahia, o PT trabalha com a possibilidade de vitória em seis das dez maiores cidades, entre as quais Feira de Santana (616 mil habitantes), Vitória da Conquista (370 mil habitantes), Camaçari, (370 mil habitantes), Lauro de Freitas (203 mil habitantes), Ilhéus (178 mil habitantes) e Barreiras (159 mil habitantes). Uma das estratégias é usar presença constante do governador Jerônimo Rodrigues (PT), aprovado por 63% da população, segundo pesquisa Quaest de agosto, e mostrar que o alinhamento com presidente Luiz Inácio Lula da Silva pode trazer ganho aos municípios.
Este eixo de campanha, no entanto, ainda não se mostrou suficiente para reverter o cenário de Salvador, considerado o mais adverso para o PT entre as capitais do Nordeste. Na cidade, o PT tem a vice Fabya Reis na chapa de Geraldo Junior (MDB). Os dois iniciaram a campanha diante da possibilidade de o atual prefeito, Bruno Reis (União Brasil), ser reeleito no primeiro turno. O mandatário tem apoio do ex-prefeito ACM Neto e está à frente do grupo político que governa a capital há 12 anos.
Nova tentativa
Para compensar, o partido de Lula tenta conquistar a segunda maior cidade da Bahia, Feira de Santana, onde o deputado Zé Neto enfrenta o ex-prefeito José Ronaldo (União Brasil). É sexta vez que o parlamentar tenta o comando da cidade. Em 2020, chegou perto: venceu no primeiro turno, mas foi derrotado no segundo.
— Temos uma disputa muito acirrada e polarizada, mas o cenário agora é melhor, com sentimento de mudança mais latente. Nós perdemos muitas cidades grandes em 2020 e agora estamos tentando reconquistá-las, buscando nos fortalecermos com alinhamento com Lula e Jerônimo — afirma o candidato.
Ainda que a legenda perca essas disputas, o PT vê ganho político de manter a militância mobilizada para dar visibilidade a nomes locais e que façam a defesa do governo Lula pelo interior do país. Na avaliação do coordenador do Grupo de Trabalho de Eleição do PT, senador Humberto Costa (PT-PE), eleger prefeitos em médias e grandes cidades irradia posicionamentos políticos favoráveis à legenda para cidades menores daquela região:
— São municípios populosos com muitos eleitores, onde a extrema-direita se fortaleceu muito nas eleições recentes. E obviamente que ter um governo do PT outra vez nessas cidades, que na maior parte já foram governadas por nós e tiveram bom desempenho nas prefeituras, representa uma mudança significativa — avalia Costa.
Atrás nas pesquisas em Belo Horizonte
Na capital de Minas Gerais, estado considerado estratégico para o PT por ser pêndulo das eleições presidenciais, Rogério Correia (PT) tem demonstrado dificuldade para avançar ao segundo turno e aparece com 7% das intenções de voto, segundo o Datafolha. O deputado divide os votos da esquerda em Belo Horizonte com a deputada federal Duda Salabert (PDT), que aparece com 10%. Na ponta está Mauro Tramonte (Republicanos), com 27%.
Petistas consideram que Correia integra uma ala mais radical do partido que tem um voto mais segmentado, o que dificulta o avanço numa cidade que tem dado vitórias à direita — em 2022, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) venceu nos dois turnos.
No interior, o PT aposta em cidades polo, como Juiz de Fora (540 mil habitantes), Contagem (621 mil habitantes), Governador Valadares (257 mil habitantes) e Teófilo Otoni (137 mil habitantes).
Uma das principais vitrines petistas é Contagem, cidade que Marília Campos já governou três vezes, é bem avaliada e tem chances de ser eleita novamente. Em Juiz de Fora, Margarida Salomão também é vista com boas chances de reeleição. Um dos focos é reconquistar o comando de Governador Valadares, chefiada pelo partido até 2016. O candidato petista na cidade é o deputado Leonardo Monteiro (PT-MG).
— Minas tem várias capitais. Valadares é a capital do Leste de Minas, uma região que compreende quase 2 milhões de habitantes, integra bacia do Rio Doce e é uma cidade fundamental para a gente governar e direcionar políticas públicas — afirma Monteiro.
Dificuldade em Florianópolis
Em Florianópolis, onde Bolsonaro superou Lula com 53,33% dos votos em 2022, o petista Vanderlei Faria aparece com dificuldades. Porém, depois de a legenda conseguir pela primeira vez ir ao segundo turno da eleição ao governo do estado em 2022, o partido tenta se reerguer apostando em candidaturas mais competitivas em Blumenau (361 mil habitantes), Joinville (616 mil habitantes), Chapecó (254 mil habitantes) e Criciúma (214 mil habitantes).
Candidata em Blumenau, terceira maior cidade de Santa Catarina, Ana Paula Lima tem buscado se aproximar do centro, conversando com empresários, profissionais liberais e setores acadêmicos. Deputada federal mais votada da cidade em 2022, Ana Paula disputa o segundo lugar com o candidato do Novo, Odair Tramontin, para tentar enfrentar candidatura bolsonarista do delegado Egídio (PL) no segundo turno.
—Já houve uma mudança grande na cidade. O centro hoje consegue nos ouvir. E devido a investimentos do governo federal na região, aumento do número de empregos, temos mais margem para trabalhar pelo segundo turno — afirma Ana Paula.
C/Jeniffer Gularte/O Globo — Brasília