O crescimento do empresário Pablo Marçal (PRTB) na corrida à prefeitura de São Paulo vem gerando sinais difusos da família do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em relação ao ex-coach. Enquanto o deputado federal Eduardo Bolsonaro e o vereador carioca Carlos Bolsonaro alternaram críticas e acenos a Marçal — o último deles, na quarta-feira, simbolizou uma trégua pública entre Carlos e o candidato, no X —, o senador Flávio Bolsonaro tem evitado se envolver na ofensiva contra o ex-coach, por identificar similaridades entre ele e o pai.
O ex-presidente adotou postura ambígua nas últimas semanas: fez elogios a Marçal às vésperas da campanha, mas depois pediu voto no atual prefeito Ricardo Nunes (MDB), que tem perdido aderência entre bolsonaristas. Na quarta-feira, o ex-presidente deu aval para que Marçal apareça a seu lado em um ato organizado por bolsonaristas para o dia 7 de Setembro, que contará com a presença do prefeito.
Na quarta-feira, Carlos, que já havia sugerido apoio ao candidato do PRTB em um eventual segundo turno contra Guilherme Boulos (PSOL), postou no X que conversou com Marçal:
“Expusemos nossos pontos e fico feliz em ter a consciência que queremos rumar nas mesmas direções quando falamos de Brasil”.
O ex-coach também falou sobre o tema ao podcast Flow:
— O Nikolas (Ferreira, deputado federal), me ligou e disse: “Você topa falar com ele?” Resolvemos o problema.
Na campanha de 2022, quando Marçal se aproximou de Bolsonaro no segundo turno, Carlos sugeriu que o ex-coach agia em benefício próprio e o chamou de “malandrão”. Marçal, por sua vez, culpa Carlos pelo fracasso de uma estratégia que teria montado para ajudar Bolsonaro nas redes.
Em reunião na última quinta-feira com governadores que almejam disputar a Presidência em 2026 com apoio de Bolsonaro, Flávio ouviu um pedido do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), para que todos os presentes se engajassem na campanha de Nunes, considerada um termômetro para a força do bolsonarismo antes do próximo ciclo presidencial.
O senador, em sua resposta, disse que Marçal, assim como seu pai, “tem fãs, o que é diferente de ter eleitores”. No encontro, Flávio avaliou ainda que não seria simples enfrentar alguém com este perfil. Procurado pela reportagem para comentar as declarações, o senador não respondeu.
Apesar de expor um desconforto unânime no entorno de Bolsonaro com a concorrência de Marçal, o relato de Flávio mostra que não há consenso na família do ex-presidente, por ora, sobre a viabilidade de atacá-lo. Segundo pesquisa de quarta-feira, da Quaest, Marçal é o preferido por 39% dos eleitores de Bolsonaro, seis pontos a mais do que Nunes.
Desafeto de Marçal há tempos, Carlos Bolsonaro chegou a reconhecer, na última sexta, que haveria uma “entendível resistência ao tal do Nunes” entre os bolsonaristas. Como alternativa, propôs um apoio dos eleitores do pai à candidatura de Marina Helena (Novo), por considerar que ela teria “afinidades com a direita”.
Eduardo já havia aparecido em vídeos ao lado de Nunes frisando seu apoio ao atual prefeito. Apesar das críticas a Marçal, Eduardo também se solidarizou após a suspensão de seus perfis em redes sociais.
O próprio Bolsonaro, embora declare apoio a Nunes, evita críticas a Marçal. Há cerca de dois meses, posou ao lado do ex-coach e lhe entregou uma medalha. Há duas semanas, disse que o candidato do PRTB “tem suas virtudes”.
Bernardo Melo/O Globo — Rio de Janeiro