A decisão de não comparecer a debates promovidos tradicionalmente por entidades como ACED, OAB e SIMTED é prerrogativa dos candidatos sempre melhor posicionados nas pesquisas eleitorais, em que pese o risco dessa estratégia, a depender de como os adversários exploram a situação. Dessa vez a bola está com Marçal Filho. Nenhuma dúvida de que se o ponteiro fosse Alan Guedes, Bela Barros, Racib Harb ou Tiago Botelho, entre os que competem de verdade, seria o nome um deles que estaria na plaqueta de fujão colocada na cadeira vazia, sempre explorada na óbvia tentativa de se jogar para a plateia. O resto, tudo, é conversa mole para boi dormir, a velha e boa “tertúlia flácida para bovino dormitar”, como dizia o senador pernambucano Marco Maciel.
Por exemplo, a desculpa esfarrapada da assessoria de Marçal Filho de que a ausência no debate se devia a agenda política com o governador Eduardo Riedel, que estaria em Dourados para “entrar de vez na campanha”. Uai, não havia entrado ainda? Pior para Riedel, pego no contrapé com um meme da campanha petista recapitulando uma fala dele quando candidato a governador tripudiando e chamando de covarde o capitão Contar – o azarão bolsonarista – por ter fugido ao debate com ele no segundo turno das eleições para o governo do estado dois anos atrás. Por tabela, claro, sobrando para Marçal Filho. Bela Barros também usou a mesma fala, de forma mais modesta. Um estrago, enfim, para o “fujão” de agora, nas redes sociais.
Da mesma forma a obviedade oportunista dos discursos de Alan Guedes e de Tiago Botelho “lamentando” a ausência, pela oportunidade perdida de colocar o tucano contra a parede. Como se o inverso da coisa não valesse para eles também. Alan Guedes até adiantando um dos assuntos que gostaria de ter discutido olhando nos olhos de seu amigo Marçal Filho. Não propriamente uma questão de interesse público, mas da vida particular e empresarial do radialista. Botelho, frustrado por não poder questionar Marçal sobre alguns pontos polêmicos de seu programa de governo, citando a promessa genérica do tucano para a saúde – “nós sabemos como resolver” –, dizendo que esta seria a oportunidade de Marçal contar este milagre não apenas aos adversários, mas principalmente ao eleitor. Para o petista o tucano “se apequenou”.
Também de forma orquestrada, até candidatos a vereador que não têm muito o que prometer, que só sabem desancar a administração, com o raso discurso da “preocupação” de Marçal Filho em priorizar o debate no tête-à-tête com o eleitor, outro desrespeito com as entidades que estão apenas buscando cumprir uma obrigação básica com a democracia. Em meio a tanta baboseira, um oportuno e bem-humorado contraponto do até pouco tempo homem forte de Murilo Zauith, comandante Renato Venturini, frustrado, ainda, por não ter conseguido levar adiante sua candidatura a prefeito pelo MDB:
— “O Marçal não foi ao debate porque tem ciúmes do microfone e ali cada candidato teria o seu, com tempo igual, até para réplicas e tréplicas”.
Aliás, falando em “fuga” e Murilo Zauith, até agora não se ouviu nessa campanha o tão aguardado “alo você!” do conceituado empresário, deputado, duas vezes prefeito, a mesma coisa vice-governador, cujo apoio sempre é tido como dos mais importantes. Será que vai deixar, de novo, para a última hora, como aconteceu nas eleições anteriores, de Délia Razuk e de Alan Guedes? Mais estranho ainda, depois do “alô você” que teria recebido do chefão Azambuja, não só para selar a paz entre ambos, como para a viabilização da entrada do União Brasil na chapa tucana.
A se lamentar, de verdade, fora as mumunhas da política partidária, o desrespeito para com entidades como Aced, OAB ou o Simted. Com o sindicato dos trabalhadores em educação, pela imperiosa necessidade de prioridade absoluta às demandas do setor, que tem gerado debates históricos com os últimos mandatários, até pela organização e determinação da categoria que exerce o sagrado sacerdócio de ensinar (inclusive, a não roubar o não menos sagrado dinheiro público). Um segmento tão aguerrido que pode até decidir uma eleição municipal. Com a Aced, por ser o desaguadouro dos reclames de toda a sociedade civil, por meio dos representantes de geradores de empregos e serviços, expressivas lideranças do comércio e da indústria.
Descortesia maior ainda o “nem tchum” de Marçal para a Aced pela coincidência do momento em que a entidade, por meio de seu Conselho de Desenvolvimento Estratégico, acaba de entregar aos postulantes à prefeitura uma cartilha contendo o resultado de trabalhos realizados nos últimos dois anos por voluntários de diversas áreas, a título de contribuição para as futuras gestões municipais, com projeção de 2024 a 2030. Mas, enfim, essas são as regras do jogo. Marçal, estiloso como é, deve ter consciência do quanto de gordura tem para queimar daqui até seis de outubro.