Nenhum rosnado, nada de abanar rabos efusivos, talvez pelo cansaço da exaustiva viagem na cadeirinha de uma bicicleta, da Argentina até Dourados, depois de passar por todos os países da América do Sul e do Caribe. Já o anfitrião, top três no ranking entre os pets-influencers brasileiros, beirando dois milhões e quinhentos mil seguidores nas redes sociais, era um abanar rabos de alegria e excitação, sinal de que estava feliz, animado e interessado em interagir com o recém-chegado.
Foi assim o encontro entre duas estrelas das redes sociais, o argentino Trompa, cujo pai, Cláudio Diaz, caminhoneiro, gráfico e cineasta, entre outras coisas, é um “sem destino” do pedal que já perdeu a conta de quantos mil quilômetros já pedalou pelas três Américas, e o douradense Alfredinho, também conhecido no Instagram, TikTok e YouTube como o peixão dourado do Pantanal. Mais do que por sua condição de popstar, “mais faceiro que ganso novo em taipa de açude”, como lembra o ex-vereador Juarez Fiel Alves, coordenador da campanha de prefeita da pedetista Bela Barros, porque exatamente na manhã desta quinta-feira Alfredinho entrou, oficialmente, na campanha eleitoral da avó.
O local do encontro, por uma dessas coincidências que só o Povo lá de cima explica, tinha que ser a famosa Padaria do Fuxico. Na ausência do padeiro-chefe Everaldo Leite, sua filha Mônica Siqueira Ortiz Dias fez as honras da casa. Craque na leitura labial canina, o candidato a vice de Bela, Paulão do Chama, traduziu o que garante ter sido o diálogo inicial dos bichinhos:
— “Bienvenido”, esnobou Alfredinho, já mais rodado que muitos artistas brasileiros.
— “Mira, habla español!”, entusiasmou-se Trompa.
— “Foi só pra impressionar”, devolveu Alfredinho, na língua pátria, contrariando “mamis” Maria Eduarda, inconformada com a nova condição do filhote tão acarinhado, como mascote de campanha da bisa Bela.
Desconfiado de que podia estar entrando numa fria, Trompa foi logo avisando, também usando sua prerrogativa de falar na língua dos hermanos:
— “A papá no le gusta la política, por culpa de Milei”.
O ex-vereador Juarez do Esporte, assessor para assuntos aleatórios de Marçal Filho, que a tudo assistia, sentado na cadeira cativa de Murilo Zauith na padaria, resmungava alguma coisa, incrédulo, mas – pela mesma leitura labial da conversa dele com o ali também habitué Reginaldo Ita – bem provável que mais esperançoso de que o inusitado evento de campanha de Bela Barros possa fazer com que o poderoso dono da Unigran se anime um pouco mais nessa reta final de campanha tucana.
Talvez pela conexão de pensamentos com o assessor Juarez, o do esporte, outra leitura labial feita por Paulão do Chama, mais intrigante ainda, de ex-integrante do estafe “murilista”, também presenciando o encontro político-canino-partidário:
— “O Murilo nem precisa tirar o escorpião que tem no bolso, basta aplicar na campanha o que o Azambuja mandou para o União Brasil (partido coligado com o PSDB de Marçal Filho), em nome do restabelecimento da paz entre eles”.
Dando-se por satisfeita, depois dos salamaleques entre seu bisneto famoso e o discreto visitante argentino, que aproveitou para selfies e mais selfies eleitorais, Bela Barros saiu às pressas, dizendo que iria arrumar as malas, e ante o espanto do coordenador Juarez Fiel e do vice Paulão, pegos de surpresa com a “viagem”, ela mostrou porque é hoje uma restaurateurs consagrada, principalmente na hora de caprichar no tempero, para quem gosta de muita pimenta:
— “Vou aproveitar que o Alan – “diz que” – entregou o aeroporto, quero ser a primeira a embarcar”.
Combinação, estratégia, já, para valorizar voto útil ou pura coincidência o candidato Tiago Botelho ter tido a mesma ideia e, mais, chegarem juntos ao aeroporto, cada um com sua maleta. Até porque não combinaram com o turco Racib. Como o coadjuvante da história de hoje é o Trompa, não custa achar que Bela e Tiago estejam forçando o vernáculo e torcendo por uma “trompada” entre Alan Guedes e Marçal Filho. Quem sabe no debate final, da TV Morena?
Juro que quando fiz a chamada deste post para as redes sociais não sabia ainda da história da “inauguração” e entrega do “novo” aeroporto de Dourados, inclusive com uma mais que simbólica e precisa (no sentido de necessário, urgente) decolagem do prefeito Alan Guedes, embora num teco-teco, não no Boeing que aparece na propaganda de Lula.
Daí a necessidade de esclarecer que a crônica de uma “cachorrada” anunciada seria literal, não no sentido do meu doce preferido, mas da confusão sempre gerada pelo encontro de vários cachorros, embora aqui não se trate de vira-latas. Exceto, claro, de alguns vira-latas da política.