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domingo, dezembro 22, 2024

A polêmica sobre a data de nascimento de Jesus

Por que Jesus não nasceu em dezembro? Clima, história e Escrituras explicam

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Minha filha de 14 anos me questionou por quais razões eu duvidava que Jesus havia nascido no mês de dezembro, como a tradição nos convencionou a acreditar ao longo dos séculos. 

Expliquei a ela que, para compreender minha teoria, seria preciso abandonar algumas tradições milenares e observar o contexto histórico, bíblico e até climático com mais atenção. 

A ideia de que o nascimento de Cristo ocorreu no final do ano não encontra respaldo nos registros do Evangelho, nem na realidade da Judeia daquele período tão sofrido para os judeus. 

Luiz Sayão e Rodrigo Silva, arqueólogos e estudiosos das Escrituras, apresentam argumentos que desafiam essa tradição, conduzindo-nos a um cenário mais plausível e alinhado aos fatos.

Primeiramente, é importante considerar a baixa temperatura da região no mês de dezembro, que corresponde ao mês de Tamuz no calendário hebraico, caracterizado por um inverno rigoroso na Judeia, muitas vezes acompanhado por neve. 

Em tais condições, é inconcebível que pastores permanecessem nos campos com seus rebanhos, como narrado pelo folclore. A cena descrita no Evangelho de Lucas – de pastores guardando suas ovelhas à noite – só seria possível em uma estação mais amena, como o outono ou a primavera, quando as temperaturas são mais favoráveis.

Além disso, a viagem de José e da adolescente Maria, de Nazaré a Belém, seria improvável durante o inverno. O decreto de censo, ordenado pelo Império Romano, exigia que todos retornassem às suas cidades de origem para registro. 

Realizar tal deslocamento em meio a condições adversas de frio, especialmente para uma mulher grávida, seria inviável e pouco prático. 

O próprio planejamento romano para censos, voltado à eficiência administrativa, dificilmente colocaria a população em movimento em plena estação gelada.

Outro ponto essencial está na cronologia bíblica. Segundo o Evangelho de Lucas, Isabel, mãe de João Batista, estava grávida de seis meses quando a prima Maria concebeu Jesus. 

Sabemos que o calendário judaico não começa em janeiro, como o nosso, mas na primavera. Dessa forma, a concepção de João Batista teria ocorrido entre junho e julho. Se adicionarmos os seis meses de diferença entre as gestações, chega-se a dezembro ou janeiro como o momento em que Maria ficou grávida. 

Assim, nove meses depois, o nascimento de Jesus aconteceria entre o final de outubro e o início de novembro.

Essa linha de raciocínio, apoiada em evidências bíblicas e no calendário hebraico, posiciona o nascimento de Cristo no outono. O outono no Oriente Médio, com suas temperaturas amenas e céu claro, é uma época de clima agradável, ideal tanto para o pastoreio quanto para viagens. 

Diferentemente do inverno, que limita atividades ao ar livre, o outono proporcionava condições favoráveis para a cena descrita no Evangelho: pastores nos campos, cuidando de suas ovelhas sob um céu estrelado.

A tradição de celebrar o nascimento de Jesus em dezembro está mais relacionada a adaptações culturais e religiosas ocorridas ao longo dos séculos, especialmente durante a romanização do cristianismo. 

O dia 25 de dezembro foi escolhido para coincidir com festas pagãs, como a Saturnália e o culto ao deus Sol Invictus, que marcavam o solstício de inverno. 

Essas festividades ajudaram a integrar cristãos e pagãos sob uma mesma celebração, mas não têm conexão com a realidade histórica do nascimento de Jesus.

Quando analisamos os textos sagrados e compreendemos as condições históricas e climáticas da Judeia, fica mais fácil entender que o nascimento de Cristo é mais coerente com o outono, entre os meses de outubro e novembro. 

Essa reflexão não diminui o significado espiritual do Natal, mas nos convida a olhar para a história com mais clareza, libertando-nos de tradições que, embora belas, não refletem necessariamente os fatos narrados nas Escrituras.

A ideia das famílias reunidas em torno de uma mesa farta, festejando o nascimento de Jesus, só apareceu no Ocidente, em 1843, pela inspiração do escritor inglês Charles Dickens. 

O fato surgiu no período vitoriano, depois que o autor presenciou um grupo de crianças pedindo esmola e comida nas ruas da cidade de Manchester, um dos berços da Revolução Industrial no século XIX, na Europa. 

Meses depois, nascia o clássico A Christmas Carol (Um Cântico de Natal), e, a partir daquela data, as festas natalinas passaram a ser associadas a homens e mulheres de bom coração celebrando o nascimento do menino Jesus. O resto é história.

Alexsandro Nogueira/Jornalista, músico e escritor

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