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quinta-feira, abril 24, 2025

Bate-boca com Zelensky confirma alinhamento de Trump com Putin e reforça sonho de ‘Grande Rússia’

Americano quebra com tradição da Segunda Guerra e parece preferir Moscou à mesa dos 'grandes', mesmo que seja ao custo da Ucrânia

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Ao discutir com o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, e trazer para os olhares públicos tensões restritas a conversas privadas, o líder dos EUA, Donald Trump, escancarou não apenas uma mudança em relação a seu antecessor, Joe Biden, mas também o abandono de ideais herdados da Segunda Guerra Mundial. E o principal beneficiado está a alguns milhares de quilômetros de distância da Casa Branca.

Desde seu primeiro mandato, Trump tenta se desvencilhar do papel histórico dos EUA na segurança europeia, simbolizado pela Otan, mas agora, em seu retorno à Presidência, o republicano quer reduzir ainda mais sua pegada militar no continente, mesmo que às custas da Ucrânia.

Como revelou diante das câmeras na Casa Branca, Trump desdenha de Zelensky, e o considera um líder indigno de sentar à mesa com os grandes. Quase sempre usando um tom magnânimo, diz querer resolver a guerra o mais rápido possível, e que os ucranianos devem concordar com todos os termos.

Um exemplo disso veio na própria negociação do acordo sobre os recursos minerais da Ucrânia, que (supostamente) seria assinado caso a altercação não tivesse acontecido. O principal entrave era a exigência de Kiev de obter garantias dos americanos de que a Rússia não os invadiria novamente.

A insistência não era em vão. Em 1994, Kiev, ao lado da Bielorrússia e Cazaquistão, assinou o Memorando de Budapeste, que determinava que os países enviassem à Rússia os arsenais nucleares herdados da extinta União Soviética. Em troca, os demais signatários, Rússia, EUA, Reino Unido e França se comprometeram a não atacá-los.

O descontentamento com o plano é evidente em Kiev: no ano passado, no 30º aniversário de assinatura, o líder ucraniano afirmou que o acordo “não funcionou por um dia sequer”. Nas negociações, Zelensky e os europeus sugeriram a criação de uma força de paz após o cessar-fogo. Trump disse que apoia a ideia, desde que sem americanos.

A aposta no plano para dar aos americanos acessos às riquezas minerais de seu país era uma forma encontrada por Zelensky para garantir o envio das armas e dinheiro de Washington. Afinal, o republicano questiona os pacotes, afirmando que, ao invés de ajudar a trazer a paz, eles contribuem para a guerra.

Ao autorizar o envio de armas pesadas para Kiev, Biden e seus aliados da Otan mandavam a Moscou uma mensagem: nós não queremos que Putin conquiste a Ucrânia e se sinta empoderado para voos mais altos.

Trump faz o oposto. Sem se comprometer com a segurança da Europa, abre mão do papel de liderança do pós-Segunda Guerra. Ao silenciar sobre novos pacotes de ajuda, parece autorizar as forças de Putin a avançarem no campo de batalha.

O aval para a anexação de terras ucranianas e o desdém por Zelensky, confirmam que Washington prefere uma ordem mundial com a Rússia à mesa. Além disso, parece não se incomodar com novas incursões do líder russo em busca da “Grande Rússia”: em 2022, ele disse que “também é nosso destino devolver [o que é da Rússia] e fortalecer [o país]. E se partirmos do fato de que esses valores básicos formam a base da nossa existência, certamente teremos sucesso em resolver as tarefas que enfrentamos.”

Filipe Barini/O Globo

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