Em meio à polarização entre bolsonaristas e petistas, a divulgação feita pelo PL destacando a presença de representantes das principais big techs (Meta, Google e TikTok) em seu seminário de comunicação foi explorada nas redes tanto para exaltar a oposição, em contraposição a posições do governo, quanto para criticar as plataformas.
No caso da Meta (dona do Facebook, Instagram e WhatsApp), no entanto, ao mesmo tempo em a empresa ofereceu um treinamento no evento organizado pelo PL, sigla do ex-presidente Jair Bolsonaro, também chegou a agendar um workshop com o PT, partido de Lula, o atual presidente.
O PT, por sua vez, cancelou a data inicialmente prevista para o dia 17 de fevereiro, conforme o seu secretário nacional de comunicação, Jilmar Tatto, afirmou devido à realização do aniversário do partido, que ocorreu na mesma semana no Rio de Janeiro.
Da parte das empresas, Meta e Google afirmam que realizam treinamentos para diferentes atores, incluindo partidos, há anos.
Ambas, porém, não informaram quantos treinamentos do tipo realizaram com siglas partidárias. A intenção desses eventos, em linhas gerais, seria a de explicar as ferramentas de cada empresa e suas principais regras.
“Treinamentos com partidos políticos com presença no Congresso Nacional são parte recorrente do nosso trabalho há muitos anos. Oferecemos esses encontros para capacitar suas equipes sobre boas práticas em nossas plataformas”, disse a Meta em nota à reportagem.
O Google também afirmou que, ao longo dos últimos anos, “ministrou treinamentos para organizações pelo país, incluindo partidos políticos de todos os campos, órgãos públicos, empresas e empreendedores.”
Apesar de não haver um impedimento em divulgar a realização dos treinamentos, a ampla publicidade que foi dada pelo PL não é costumeira.
Em post sobre o seminário, que ocorreu em Brasília em 20 e 21 de fevereiro, o secretário-geral da sigla e senador, Rogério Marinho (RN), afirmou que o evento ia “reunir lideranças do partido de todo o País, incluindo especialistas e representantes de big techs, para alinhar e fortalecer a comunicação da legenda”.
Também o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) destacou “a presença de especialistas das big techs” enquanto seu pai afirmou que o evento era importante para o aprendizado de “técnicas de uma boa comunicação” para que o PL possa “enfrentar aqueles que não querem liberdade de expressão”.
Como mostrou a revista Veja, material interno do PL chegou a divulgar em comunicado interno, com as big techs constando como “parceiras”. Na versão amplamente divulgada nas páginas dos políticos do partido, o termo foi substituído por “participação”.
Kim Paim, dono de um canal de YouTube expressivo na direita, contrapôs a participação ao que chamou de tentativa do governo Lula de querer “censurar as redes sociais” —como a direita se refere aos projetos que discutem desenhos de regulamentação das redes sociais.
“Eu não estou entendendo nada, o maior evento de comunicação partidária do Brasil. Meta, TikTok e Google participando do seminário de comunicação do PL”, disse. “O ano de 2025 está muito louco. Você vai concordar comigo, isso aqui não é algo tão trivial assim.”
Um episódio recente que acabou pesando contra as empresas no debate público foi o fato de elas não terem comparecido a uma audiência pública organizada pelo governo Lula em janeiro, após terem sido convidadas pela AGU (Advocacia-Geral da União).
Organizado pelo órgão em resposta ao anúncio de alteração de políticas de moderação da Meta, o contexto do encontro assim, além de negativo para as empresas, acabava sendo atrelado a medidas tomadas por uma delas.
A Meta realizou em 2021 dez treinamentos individuais com partidos e tem outros programados para 2025. Já no ano passado, organizou uma conferência de eleições online, antes do início oficial da campanha, aberto a todos os partidos e candidatos.
O conteúdo dos treinamentos das sessões com cada partido individualmente seguiria linha bastante semelhante ao oferecido na ocasião, cujas apresentações estão disponíveis online.
Entre os temas abordados estão os padrões de comunidade da empresa, onde consta o que é ou não permitido em suas plataformas, melhores práticas de atuação orgânica (como responder comentários de seguidores), além de instruções sobre o uso de anúncios.
No caso do Google, segundo interlocutor, a proposta dos treinamentos passa por apresentar formas de uso da ferramenta de buscas da empresa, além de explicar como fazer comandos na plataforma de inteligência artificial chamada Gemini, em um formato que seria mais voltado para profissionais de comunicação dos partidos.
O TikTok, por sua vez, tem em suas regras limitações específicas para contas classificadas como de políticos, governos ou partidos, o que inclui restrição de anúncios e de participar dos recursos de monetização.
Segundo a Folha apurou, a empresa ofereceu aos partidos a oportunidade de realizar este tipo de reunião, como a do PL, antes das eleições do ano passado.
Renata Galf/Folha de S.Paulo