A política sul-mato-grossense andava em paz. Rumo traçado, cenários controlados, tucanos empoleirados, e o governador Eduardo Riedel – com sua técnica de gestão low profile – surfando sem ondas no cerrado. Mas eis que, de Brasília, sopra uma brisa capaz de virar vendaval: Simone Tebet voltou a se mover.
E quando Simone se move, meio mundo se desalinha.
A ministra do Planejamento, que ficou em terceiro lugar na eleição presidencial de 2022, não esconde mais seu desconforto na vitrine simbólica de Lula. Tem prestígio, tem discurso, tem ambição — e tem um pé fincado em Três Lagoas e outro na cozinha do Palácio do Planalto. Lá, serve de “carta democrática” para o lulopetismo. Aqui, segue sendo a única figura em condição real de embaralhar o baralho político controlado pelo azambujismo.
Mais do que presença de governo, Simone tem voz — e vem usando. Em recente declaração, deixou o centro do palco para dizer:
“A gente precisa mostrar o Brasil real. E o Brasil real é o Brasil que está dando certo. Fala alguém aqui que não é do PT, que é da frente ampla, que é uma pessoa de centro.”
E foi além:
“Há muito tempo o Brasil não crescia dois anos consecutivos acima de 3%. Isso significa mais renda, significa movimentar o comércio, a indústria. Eu não me lembro, nos 25 anos que faço vida pública, de um momento onde todos os números da macroeconomia caminhavam tão bem.”
Quando uma ministra não petista defende o governo com essa convicção, é sinal de que tem projeto. A dúvida é: qual?
Se decidir mirar o Senado ou, quem sabe, até o governo do Estado, Simone não apenas reposiciona a si mesma — ela desmonta o tabuleiro inteiro. Reinaldo Azambuja, hoje se preparando para uma tranquila campanha senatorial com o apoio do governador Riedel, teria de encarar a mais indigesta das adversárias: mulher, com currículo, palanque nacional e, pasme-se, benção do Lula.
Riedel, por sua vez, se veria encurralado. Como sustentar um discurso de continuidade administrativa, com o chefe da Casa Civil, Eduardo Rocha — marido da ministra —, costurando votos para um retorno à Assembleia Legislativa e, talvez, mais além? Ou a dupla joga em campos opostos e finge que não se conhece, ou o teatro implode.
Mas o dilema não se limita à política estadual.
No plano nacional, Simone Tebet é hoje uma peça rara. Não pertence nem ao lulismo nem ao bolsonarismo. Tem imagem pública de moderação, linguagem didática, defesa da democracia e um estilo que agrada ao centro. Lula sabe disso — e talvez esteja guardando-a como uma “carta na manga” para 2026: vice novamente? Candidata? Ou apenas fiadora de alguma frente ampla à la 2022?
Seja qual for o roteiro, uma coisa é certa: se Simone vier para o corpo-a-corpo eleitoral em MS, o tucanato (ou o que sobrar dele) treme. A harmonia do ninho se desfaz, os acordos sobem no telhado e o MDB, que andava sonolento, ganha nova musculatura.
Por ora, são só sinais. Mas como bem se sabe na política: quem tem prestígio em Brasília e voto no interior, nunca se aposenta de verdade. E Simone, ao que tudo indica, ainda não decidiu se quer continuar ministra… ou governadora.
