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sexta-feira, dezembro 5, 2025

Sartori: da sala de aula ao tabuleiro da política

Cientista político e empresário da educação lança a Unifron, fala sobre a Faculdade de Medicina e analisa o cenário político de Dourados e do Brasil sem descartar o próprio futuro eleitoral

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Depois de mais de uma hora de conversa sobre Educação — sua principal área de atuação — o cientista político Henrique Sartori decide fazer uma breve viagem. Abre o computador em sua mesa de trabalho e, em segundos, pousa simbolicamente na terra de Marcelino Pires, que também é a sua. Para quem acreditava tratar-se apenas de um burocrata ou outsider político, Sartori resolve dar uma verdadeira aula de Dourados ao repórter insubordinado à sua frente.

Ele começa pelo traçado de uma das mais importantes obras do Fonplata — projeto da administração Alan Guedes que promete mudar a cara da cidade. Falando sempre na primeira pessoa do plural, explica como o projeto foi aprovado e iniciado. Conta também sobre o “parto” que foi viabilizar o Hospital da Mulher, bandeira do deputado Geraldo Resende: “Foi coisa do destino. Só saiu porque estávamos lá no Ministério e reforcei os argumentos do deputado junto ao ministro.”

Sobre suas pretensões políticas, Sartori desconversa. Joga bem com as palavras, mas não descarta possibilidades: “Acompanho as eleições, os movimentos partidários, analiso cenários, pesquisas, conjunturas… e acredito que todo mundo precisa participar das discussões políticas.”

Afinado com o líder tucano Reinaldo Azambuja e com o governador Eduardo Riedel, Sartori diz que sua proximidade com o ex-prefeito Alan Guedes foi momentânea, fruto da amizade e da parceria nos tempos de faculdade e de viagens internacionais para compreender melhor a política. Também nega vínculos com o ex-vice-governador Murilo Zauith: “Fui para Brasília com minhas próprias pernas e tudo o que aconteceu foi por meu esforço em estudar.”

Aproveita ainda para alfinetar Zauith, ao comentar a disputa pelo curso de Medicina: “Não é nada fácil empreender na área da educação privada e ainda ter que lidar com a concorrência chorona e pueril”, diz, sobre o sonho dourado — que virou pesadelo — do poderoso da Unigran em trazer Medicina para Dourados. “Quem trabalha com gestão precisa saber manejar, além da política, projetos audaciosos e ter um bom planejamento.”


A entrevista

Nasce a Unifron. A realização de um sonho, um grande projeto empresarial nesse boom que Dourados está vivendo ou um trampolim para a política?

Sim, a Unifron é a realização de um sonho de professor, a concretização de um projeto que nasce com o propósito de ajudar a desenvolver ainda mais a nossa região, de desenvolver a nossa cidade! É um motivo de orgulho poder crescer com Dourados e empreender na cidade onde nasci, onde minha família foi acolhida e na terra onde tenho minhas raízes. Aproveitar o crescimento da cidade é estratégico. Resolvi instalar a Faculdade da Fronteira Oeste em Dourados por suas vantagens estratégicas e pelo potencial de crescimento para os próximos anos.

Não é nada fácil empreender na área da educação privada e ainda ter que lidar com a concorrência chorona e pueril, mas estou avançando bem e me surpreendendo com os resultados iniciais. A conquista de uma Faculdade de Medicina é histórica e representará muitos investimentos para Dourados. Vai mudar o patamar da oferta de saúde, sem contar com os investimentos que a cidade receberá direta e indiretamente.

Ao final da fase de implantação das faculdades, serão mais de 200 empregos diretos e milhares de novos estudantes circulando, consumindo e investindo aqui. E vamos além disso: conectar a educação e a ciência com o empreendedorismo. Essa é outra grande missão. O meu empreendimento é vocacionado à oferta de uma educação de qualidade, mas estou atento às questões políticas, sim.


Por sua própria formação educacional, pode-se dizer que Henrique Sartori é um potencial nome para eventuais projetos políticos?

Sou cientista político de formação, afeito aos assuntos de cooperação internacional, e dediquei por muitos anos minha energia à política. Acredito na ponderação de propostas, no diálogo franco e na construção de oportunidades. Desde a época de estudante estive envolvido em movimentos estudantis: liderei diretórios acadêmicos, fundei e presidi a União Estadual dos Estudantes junto com outras lideranças e me filiei a partidos políticos.

Acompanho eleições, movimentos partidários, analiso cenários e pesquisas e acredito que todo mundo precisa participar das discussões políticas. Gosto muito da política, mas me preparei para a gestão. Hoje, minha energia está voltada para consolidar meus projetos educacionais e cuidar dos meus filhos.


O fato de ter servido à administração Alan Guedes como secretário de governo já indica essa pretensão?

Conheci Alan Guedes na época em que presidi a Juventude do PFL/MS. Depois, como presidente da Juventude do Democratas Nacional, interagimos sobre assuntos do Mato Grosso do Sul. Surgiu daí nossa amizade, e pude acompanhar sua carreira política.

Quando ele me convidou para auxiliar a equipe de transição do governo municipal, aprofundei meu conhecimento sobre os assuntos da cidade. Naturalmente, colaborei como secretário. A SEGOV possuía uma boa equipe técnica e pude apresentar estratégias de captação de recursos internacionais, como o Fonplata, além de organizar a governança da gestão municipal. Durante o período em que servi à prefeitura, considero que entreguei bons resultados e aprendi muito.


Sua militância política proporcionou voos audaciosos pela política brasileira, com cargos de comando em legendas como o DEM e, depois, no Ministério da Educação, onde ocupou postos-chave como secretário-executivo e até ministro interino. Isso o credencia a pensar grande, olhando para a política estadual?

Como disse, comecei a gostar da política ainda como estudante. Quando fui continuar meus estudos em Brasília, consegui um estágio na Câmara dos Deputados. Foram quase dois anos de contato inicial com a capital federal. Lá conheci de perto o processo legislativo, a dinâmica parlamentar e a vida política como ela é.

Após essa experiência, retornei ao MS e iniciei trajetória como professor. Em 2009, fui aprovado em primeiro lugar para ocupar uma cadeira na Faculdade de Direito e Relações Internacionais da UFGD, onde servi por mais de 15 anos.

Em 2016, recebi convite do ministro Mendonça Filho para ingressar no MEC. Por lá, liderei equipes no Conselho Nacional de Educação, na Secretaria de Regulação e Supervisão da Educação Superior e na Secretaria-Executiva. Fui responsável pelo manejo de programas, políticas e orçamento do Ministério. No final do governo Michel Temer, substituí diversas vezes o ministro, assinei atos com o presidente da República e organizei a transição entre governos.

Em 2022, já dedicado a projetos pessoais e depois da passagem pela gestão municipal, fui designado pelo presidente Jair Bolsonaro para o Conselho Nacional de Educação. Hoje, auxilio o MEC, sob gestão do ministro Camilo Santana, em diversas pautas.


O prefeito Marçal Filho já falou que não pretende se recandidatar. Isso o anima a colocar seu nome à apreciação do establishment?

A política sempre buscará novos quadros, e as boas lideranças enxergam isso. O prefeito Marçal tem credenciais e experiência para fazer uma boa gestão, e acredito que ele vai entregar bons resultados para a cidade. Ele tem bons secretários e boa interlocução com o governo estadual, o que é muito importante.

Torço pela gestão. Como empresário e educador, espero que Dourados avance, pois quero gerar empregos, oportunidades e acolher meus estudantes. Meu foco é na estruturação da Unifron e da Faculdade de Medicina de Dourados.


No segundo governo Azambuja, seu nome foi cogitado para a presidência da Sanesul, onde seu pai, Chico D’Água, fez história. Nesse sentido, o que lhe apetece mais: a disputa política partidária ou uma carreira como burocrata?

Admiro muito a liderança e o arrojo político do governador Reinaldo. Não é à toa que ele colocou o MS no rumo certo e que, agora, com Eduardo Riedel, nosso Estado apresenta indicadores positivos. Quem trabalha com gestão precisa manejar, além da política, projetos audaciosos e ter bom planejamento.

Naquele momento, devido a um compromisso de trabalho com o Grupo Estácio — um dos maiores grupos educacionais do país —, não consegui colaborar com a gestão estadual. Lamentei, pois meu pai, por muitos anos, foi gestor nessa grande empresa. Seria uma missão honrosa.


Pelo seu trânsito em Brasília e até pelos “corres” internacionais como cientista político, como avalia o atual momento? A democracia corre perigo?

Gosto muito de uma frase de Oscar Niemeyer: Espero que Brasília seja uma cidade de homens felizes; homens que sintam a vida em toda a plenitude, em toda a fragilidade; homens que compreendam o valor das coisas simples e puras – um gesto, uma palavra de afeto e solidariedade.”

Pode parecer piegas citar o “arquiteto” de Brasília, mas o fato de a frase estar cunhada na Praça dos Três Poderes representa muito. Brasília sempre esteve fervendo — foi assim na época de Juscelino e não é diferente na era Lula. Já vivemos momentos mais tensos que os atuais, mas é preciso vigiar pela democracia e garantir que as autoridades atuem dentro de suas alçadas.


Como vê a exacerbação de ânimos por ideologia política, com o ressurgimento da direita radical que havia sido sepultada com a redemocratização pós-64?

Se compararmos, o antagonismo político moderno vem desde a Revolução Francesa: esquerda e direita, uma nutrindo a outra. Acredito em visão equilibrada, com desenvolvimento sem ódio e propostas convergentes para o bem comum.

Do ponto de vista teórico, considero positivo um mundo liberal-conservador: liberdades individuais e econômicas, defesa de direitos humanos com ordem, respeito à propriedade, valorização da família, respeito à religião e moralidade pública. Respeito visões distintas, mas sigo a máxima da minha mãe, Dona Eny: “Tudo que é exagero faz mal”.


O bolsonarismo é uma corrente ideológica ou uma pandemia política?

O bolsonarismo, assim como o lulismo, não é ideologia política. São movimentos fortemente vinculados à personalidade de seus líderes. O lado bom (ou não) é que já experimentamos os dois formatos. Espero que consigamos evoluir para além desse momento e que as instituições sejam sempre preservadas.


Com o “tarifaço” de Donald Trump, pode-se falar em Apocalipse ou numa “venezuelização” do Brasil?

Tenho acompanhado o debate. Não acredito em “venezuelização”, mas não descarto os efeitos de um tarifaço. Além disso, a política de juros e o gasto público desenfreado podem ser ainda mais danosos. É hora de ponderação e temperança para buscar alinhamento internacional que atenda às necessidades do país.

O Brasil é muito diverso. As políticas públicas precisam atingir os mais pobres, apoiar empresas que geram emprego e, ao mesmo tempo, dialogar com as elites. O Brasil é um piano: precisa de bom pianista, ouvido refinado e mãos firmes para extrair as melhores notas — sabendo que nem sempre tocará sua música preferida.


Henrique Sartori de Almeida Prado

  • Douradense, 45 anos.
  • Diretor-Geral do Grupo Unifron Educacional.
  • Conselheiro Nacional de Educação (MEC) e vice-presidente da ABMES.
  • Doutor em Ciência Política (IESP/UERJ), mestre em Direito e Relações Internacionais (PUC-Goiás) e especialista em Relações Internacionais (IREL/UnB).
  • Bacharel em Direito (Uniderp).
  • Foi professor adjunto da UFGD e ocupou cargos estratégicos no Ministério da Educação, incluindo secretário-executivo e ministro interino.
  • Atuou como secretário de Governo de Dourados e chanceler do Grupo Estácio.
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