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sexta-feira, dezembro 5, 2025

De Roma à Papuda: o autoexílio que azedou o vinho bolsonarista

Prisão de Zambelli em Roma enterra mito do exílio bolsonarista e deixa o clã Bolsonaro refém do próprio medo

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Carla Zambelli sonhou com Roma. Quis transformar a condenação de dez anos e oito meses em filme italiano, daqueles em que a mocinha injustiçada caminha pela Fontana di Trevi, comendo gelato e posando de mártir. Mas esqueceu que a vida real não é roteiro de Olavo de Carvalho nem novela da Record: é processo, extradição e tornozeleira no calcanhar. Saiu do Brasil de mansinho, cruzou a Argentina, deu pinta nos Estados Unidos e se aboletou na Itália, amparada pela cidadania europeia que, na cabeça dela, funcionaria como capa de invisibilidade para escapar do STF. A estratégia parecia genial — até ser flagrada, nesta terça-feira, no coração de Roma, por uma denúncia que deixou o bolsonarismo mais nervoso que live de quinta-feira sem superchat.

Nos bastidores da extrema-direita, sempre houve um plano não oficial: se apertar, corre pro aeroporto. Foi assim com Allan dos Santos, que jurava estar em exílio “teológico”; com Abraham Weintraub, que confundiu fuga com intercâmbio; e, agora, com Eduardo Bolsonaro, que anda pelos Estados Unidos com mais medo de oficial de imigração que de pergunta sobre o pai. Mas o caso Zambelli muda o jogo: mostra que a lenda do refúgio acabou. Nem cidadania italiana salvou. A cooperação internacional funciona, a Interpol não dorme e, no fim, a “perseguida” vira foragida de luxo — aquela que troca o esvoaçar da bandeira verde e amarela pelo frio da cela compartilhada.

O impacto vai além da prisão. Eduardo Bolsonaro, o “03” do clã, que também se refugia sob o pretexto de “missão diplomática”, percebeu que a fila anda: se antes fugir era prova de esperteza, agora é atestado de pânico. O bolsonarismo vive sob o fantasma da Papuda: um por um, seus ícones vão caindo como dominó mal empilhado na mesa de churrasco. Bolsonaro, por sua vez, de tornozeleira reluzente, assiste de casa ao desfile de ex-aliados rumo ao xilindró. Já não grita “liberdade” nas lives: cochicha “quem será o próximo?”.

A grande imprensa se limita ao óbvio: prisão decretada, extradição pedida, STF endurece. Faltou contar que o enredo desabou por dentro. O “autoexílio” deixou de ser ato político e virou comédia pastelão. A militância, que antes via mártires, agora enxerga fugitivos. O discurso do “injustiçado” perde força quando a própria base percebe que a fuga é reconhecimento silencioso de culpa.

O Brasil vive um ciclo curioso: de Collor a Bolsonaro, todo líder que vendeu heroísmo acabou em meme. Zambelli, que empunhou pistola em rua de São Paulo e berrava “Xandão!”, agora encara o silêncio frio de Roma — sem lives, sem likes, sem aplausos. No fim, é lição e aviso: a impunidade venceu por muito tempo, mas já não segura o fôlego no cenário global. A Justiça, tão lenta para os pobres, quando resolve andar, atropela os poderosos. E, ao que parece, já não há passaporte diplomático capaz de frear o rolo compressor do STF.

Roma, como se vê, pode não ter sido construída em um dia, mas a paciência da Interpol — pela primeira vez dirigida por um brasileiro, o delegado da Polícia Federal Valdecy Urquiza — com fugitivos bolsonaristas acabou em menos de dois meses. O STF agradece.

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