A história militar adora suas ironias. Pirro, rei do Épiro, esmagou legiões romanas no século III a.C. e saiu do campo de batalha ouvindo palmas de bajuladores. Respondeu seco: “Mais uma vitória como essa e estarei arruinado.” Ganhou, mas perdeu — perdeu tropas, perdeu aliados, perdeu o fôlego. Ganhou para morrer.
Avancemos dois milênios e um punhado de boiadas depois: Mato Grosso do Sul, julho de 2025. O agro vibra com Brasília, torce por Trump, marcha com Bolsonaro e bate continência a qualquer tarifa que soe “patriótica”. Eis que Trump dispara seu tarifaço contra as exportações brasileiras, e os primeiros atingidos não são os “vermelhos do MST”, mas os medalhões do bolsonarismo raiz — Tereza Cristina, a rainha do agro, e Rodolfo Nogueira, o gordinho do Bolsonaro que agora descobrem que boi magro não passa na alfândega americana.
O resultado? Vitória de Pirro. Gritaram “EUA! EUA!” nas motociatas e agora roem as unhas porque o boi não atravessa a fronteira e o milho encalha nos silos. O tiro saiu pela culatra: Lula atirou no que viu (ou no que disseram que viu) e acertou no que não viu — de tabela, a picanha que prometeu na campanha agora vai sobrar no mercado interno. Se antes era “picanha e cerveja”, agora será “picanha e revolta”: o pobre vai comer carne, mas vai mastigar ódio junto.
Nos bastidores, o efeito psicológico é devastador. A base ruralista do bolsonarismo, antes unida na narrativa do “agro é pop”, hoje se divide entre a dor no bolso e a dificuldade de culpar o PT pela bronca que nasceu em Washington. Na esquina da Marcelino Pires com a Weimar Torres, já se ouve: “Cadê o Trump agora?”
Os romanos, na época de Pirro, perdiam batalhas mas ganhavam guerra porque se renovavam com sangue novo. O bolsonarismo do agro, porém, sangra e não se renova — é sempre a mesma tropa, o mesmo discurso, o mesmo gado. Enquanto os EUA repõem soldados a cada ciclo eleitoral, aqui só resta repetir mantras na esperança de que a tornozeleira do mito brilhe como farol de salvação.
E a frase de Pirro ecoa no curral do século XXI: mais uma vitória como essa, senadora Tereza, e o boi não atravessa nem o rio Paraguai. Mais uma vitória como essa, gordinho do Bolsonaro, e o churrasco vai ser de osso. Mais uma vitória como essa, e sobra carne para o povo e falta narrativa para o palanque.
