A entrevista de Lauredi Sandim, diretor do IPEMS, ontem, aqui no ContrapontoMS, só confirma o que já se cochichava nos labirintos do poder e, principalmente, nas rodas de fuxico, como a da famosa padaria Everaldo News, da esquina da Cuiabá com a Independência, em Dourados: o “azambujismo” não é apenas uma força, é hoje a engrenagem dominante da política sul-mato-grossense. Mas, não custa lembrar, em ano ainda pré-eleitoral, amostragens eleitorais têm o humor volátil do eleitor como termômetro. Números sobem e descem ao sabor de circunstâncias, abrindo espaço até para zebras inesperadas, como já aconteceu com as melhores “casas do ramo” nas últimas décadas.
Menos mal que vão longe os tempos em que “institutos” de pesquisa não publicavam seus trabalhos de campo antes de uma “revisada” final de um conhecido cacique político que tinha o estranho fetiche de embaralhar as cartas, na tentativa de influenciar o eleitor com números fantasiosos. No pós Pedrossian-Wilson Martins, André Puccinelli, por exemplo, fez carreira como o rei da bravata e da pizza, dominando manchetes e microfones, mas atolado nas próprias narrativas. Londres Machado, por sua vez, reinou como o síndico vitalício da província de Fátima do Sul, batendo recordes de mandatos na Assembleia Legislativa, desde os tempos do velho Mato Grosso uno, cultivando o talento de estar sempre no poder — ainda que fosse apenas como líder submisso na Assembleia de um governo que ele não comanda.
Foi nesse cenário que surgiu, discreto e calculista, Reinaldo Azambuja. Enquanto os outros se enroscavam em bravatas ou em permanências sem brilho, ele foi costurando alianças, unindo prefeitos, vereadores e deputados até se tornar o verdadeiro arquiteto do poder no estado. Não por acaso, na recente crise do tarifaço de Trump, foi justamente o político da “fala mansa” quem deu o recado mais duro — um pito que soou como lição ao presidente Lula, acostumado a bradar em palanques. Ironia das ironias: até André Puccinelli, outrora rei da bravata, assistiu à cena já domesticado, como dócil aliado do silêncio calculado de Azambuja.
Outra prova disso? Azambuja conseguiu, até outro dia, ter até o arquirrival PT no colo, com Zeca do PT acompanhando docilmente no voto as orientações do líder do bancada governista, Londres Machado, em favor do governo. Só na semana passada os petistas desembarcaram, tarde demais para impedir que Azambuja fixasse seu domínio.
E como se não bastasse, o governo Riedel/Azambuja mantém no comando da Casa Civil ninguém menos que Eduardo Rocha, marido da ministra Simone Tebet, estrela do governo Lula. Um paradoxo digno de manual: a musa nacional da “concertação democrática” com seu consorte despachando dentro do coração do governo tucano-bolsonarista do MS. Resta saber apenas para onde Simone vai apontar sua flecha em 2026.
A entrevista de Sandim só reforçou o óbvio ululante: o eleitorado já percebe que Azambuja não apenas joga, mas move todas as peças. E, ainda que as pesquisas oscilem com o humor das esquinas, o retrato do momento é contundente.
Até lá, Azambuja segue discreto, distribuindo sorrisos contidos e apertos de mão silenciosos — mas é bom não se enganar: no tabuleiro da sucessão de 2026, quem parece apenas observar pode, no movimento final, anunciar o inevitável xeque-mate.
