A missiva em epígrafe (alas, La Torraca!) é endereçada não a qualquer anônimo, mas a Bibi e a Vlad, senhores de guerra que acreditam mover peças no tabuleiro da História. Escreve-lhes não um chanceler de gabinete, nem um papa da ONU com seu sermão protocolar, mas um simplório — e insubordinado — escrevinhador do Jaguapiru. Audácia? Talvez. Mas se até o presidente de turno dos EUA, Donald Trump, resolveu mandar suas epístolas atravessadas ao Brasil, por que eu, com minha pena de ferro enferrujado, não poderia enviar-lhes uma carta aberta em nome da paz mundial?
Vi — como descreveu Léon Denis, o apóstolo do Espiritismo, em seu livro “Depois da Morte” — as cidades famosas de outrora, hoje apenas pó e silêncio. Cartago, outrora formigueiro humano, transformada em monturo de ruínas. Roma, com aquedutos quebrados e túmulos abertos. Civilizações inteiras devoradas pela esfinge dos séculos. Multidões que marcharam, gritaram, guerrearam e, no fim, se dissiparam como fumaça. Soberanos, tiranos, heróis, todos convertidos em espectros truanescos, embriagados de glória por uma hora, antes que o túmulo os recebesse com pressa.
Eis o espetáculo que o tempo me mostra, Bibi e Vlad: os impérios que se acreditavam eternos jazem como colinas silenciosas, pedras amontoadas, sepulturas sombreadas por arbustos raquíticos. Nada restou de suas conquistas, senão a memória dos massacres que encheram páginas de História — páginas que o futuro se apressa em esquecer.
Por isso vos digo: de que vale tanto tanque, tanto míssil, tanta bomba, se ao fim sereis apenas mais uma ruína no catálogo da eternidade? O sangue que derramam não há de engrandecer suas pátrias, mas apenas adubar o desprezo das gerações futuras. Quem se ufana de conquistar territórios termina conquistado pelo esquecimento.
Não pensem que se trata aqui de lirismo piegas. É só constatação: em sua pressa de serem senhores do mundo, arriscam-se a não ser lembrados nem como rodapé nos manuais escolares. A glória que procuram já vem com prazo de validade vencido: fumaça, pó e epitáfios que o vento da noite murmura em línguas que ninguém mais entenderá.
Benjamin Netanyahu e Vladimir Putin, se nem a filosofia os convence, se nem a lembrança das cidades soterradas os comove, e se nem o espirito de Léon Denis lhes diz algo sobre a inutilidade da morte e da violência, então só lhes restará aguardar o terceiro profeta do Apocalipse — Donald Trump, presidente de turno dos Estados Unidos. E aí, meus caros, nem Cartago nem Vesúvio; nem a Palestina nem a Ucrânia terão metáforas suficientes para explicar o tamanho do desastre.
Assina,
um insubordinado do Jaguapiru, que ainda acredita que a paz mundial pode nascer de um bilhete rabiscado numa corrutela.
