Na Bretanha, em Douarnenez, para o festival de cinema em sua 47ª edição. No ano passado, o Brasil foi o país convidado, e neste ano a programação seguiu com foco na Amazônia — que não é apenas brasileira. A quantidade de filmes evidencia a importância que os franceses, e este festival em particular, conferem ao Brasil neste ano especial de comemorações da amizade entre os dois países. Gente de muito longe vem, nesta época de férias, assistir aos filmes exibidos.
Ontem, sem ingressos para ver Manas, da cineasta Marianna Brennand — vencedora do Women In Motion Emerging Talent Award 2025, entregue no Festival de Cannes —, fui de sopetão, na esperança de que, em noite de chuva, alguns desistissem de ir. Deu certo.
Tenho feito amizades em Douarnenez, cidade de 15 mil habitantes à beira-mar, de rico patrimônio histórico — igrejas, capelas, patrimônio marítimo — e tradição ligada à pesca da sardinha. Aliás, no ano passado comemorou-se o centenário da greve das trabalhadoras da indústria de enlatamento de sardinha.
Uma dessas amizades é Mildred, de origem filipina, que comemora este ano 52 anos de casamento com o francês Jean Claude. Eles possuem um espaço de 800 m², a poucos metros do porto, cercado por um alto muro de pedras, tombado pelo patrimônio histórico, que no passado provavelmente correspondia aos muros de antigas casas.
E dentro desse espaço, o que encontramos? Pomar, horta e galinhas!
Não há mangueira nem mamoeiro; há parreiras e peral. Não há abacateiro nem goiabeira; há macieiras e marmeleiro. Há uma figueira com frutas ainda verdes neste momento. Belas cores de tomates redondos ou alongados: cereja, coração de boi, marmande, abacaxi, amarelo e até preto! Não há maracujá, conhecido aqui como “fruta da paixão”.
Berinjela, pepino e pimentão dão cores à horta, que também tem alho-poró, vagem comprida, ervas e temperos: manjericão, tomilho, salsinha, alecrim, hortelã, orégano e cebolinha. Há até quiabo e chuchu, duas plantas raras por aqui.
Não há lesmas nem caracóis, porque as galinhas adoram e comem logo que um aparece! As galinhas são peludas, ou seja, com penas volumosas, de tipos desconhecidos para mim, com galos pequenos e penas entre vermelho e marrom, diferentes das que conheci na minha infância: pescoço pelado, galinha-d’angola, garnizé…
- Mazé Torquato Chotil – Jornalista e autora. Doutora (Paris VIII) e pós-doutora (EHESS), nasceu em Glória de Dourados-MS, morou em Osasco-SP antes de chegar em Paris em 1985. Agora vive entre Paris, São Paulo e o Mato Grosso do Sul. Tem 14 livros publicados (cinco em francês). Fazem parte deles: Na sombra do ipê e No Crepúsculo da vida (Patuá); Lembranças do sítio / Mon enfance dans le Mato Grosso; Lembranças da vila; Nascentes vivas para os povos Guarani, Kaiowá e Terenas; Maria d’Apparecida negroluminosa voz; e Na rota de traficantes de obras de arte.
Em Paris, trabalha na divulgação da cultura brasileira, sobretudo a literária. Foi editora da 00h00 (catálogo lusófono) e é fundadora da UEELP – União Européia de escritores de língua Portuguesa. Escreveu – e escreve – para a imprensa brasileira e sites europeus.
