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sexta-feira, dezembro 5, 2025

Lei de Talião: a parábola mórbida do capitão que ria da morte

Quem zombou do sofrimento alheio na pandemia agora enfrenta, entre internações e soluços, o eco cruel da própria encenação.

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Se preocuparam tanto com o Xandão, acionaram até o velho Trump como se fosse o Hulk do além-mar, mas esqueceram da Lei de Talião: olho por olho, soluço por soluço. E falar que a informação dos dez segundos do pai sem ar foi dada em entrevista, pelo filho, senador Flávio Bolsonaro — nunca antes na história tão temente a Deus — neste domingo, durante a internação do ex-presidente num Hospital de Brasília. É uma dessas ironias que nem a ficção ousaria escrever.

Naqueles tempos sombrios da pandemia, quando os hospitais viraram trincheiras e o oxigênio passou a valer mais do que ouro, o capitão-presidente transformava a dor coletiva em espetáculo circense. Debochava de jornalistas tossindo na sua frente, imitava pacientes sufocados diante das câmeras e minimizava a tragédia com frases como “E daí?” e “Não sou coveiro”. O país contava corpos; ele contava piadas.

Era o auge do bolsonarismo cru, insensível e cruel. Enquanto Manaus implorava por cilindros de oxigênio, Bolsonaro aparecia nas lives com sua claque virtual, reproduzindo tosses falsas e gargalhadas mórbidas. O deboche não era apenas gesto isolado — tornou-se método de governo, política de comunicação, uma forma de reafirmar a indiferença como bandeira ideológica. Rir da dor dos outros, ali, era ato de poder.

Corta para 2025. O mesmo Bolsonaro que debochava da falta de ar passa a ser notícia por episódios de soluço e lapsos de respiração. Dez segundos sem oxigênio — explicam os médicos — bastam para causar sequelas neurológicas graves. Dez segundos que, para os que perderam familiares na pandemia, soam como ironia histórica. A Lei de Talião, tão invocada em parábolas bíblicas, agora se insinua como metáfora política: quem zombou do sufoco alheio descobre na própria carne o peso da hipocrisia.

Mas o bolsonarismo, psicopatia política já diagnosticada pela psicóloga Marta Suplicy, não conhece introspecção. Em vez de assumir a ironia do destino, tenta transformar o soluço em ato de resistência, quem sabe até em salvo-conduto para novas manobras jurídicas. As “saidinhas médicas” viram pretexto para sonhar com o içamento milagroso do hepicóptero de Trump rumo à embaixada americana em Brasília.

No entanto, a cena é patética: o ex-presidente, outrora soberbo no deboche, agora reduzido ao papel de paciente que inspira memes. A internet devolve, em loop, os vídeos em que imitava doentes em agonia, como quem lhe entrega o recibo moral atrasado. A História tem dessas ironias: aquilo que foi riso cínico volta como soluço constrangido.

Agora, Bolsonaro se transforma numa parábola mal contada do Brasil recente: o homem que não conseguia respirar diante da verdade, que usou a tosse como arma de escárnio e que, diante de suas próprias limitações físicas, enfrenta a impiedosa lei do retorno. Ops! O país sobreviveu à pandemia com cicatrizes; ele sobrevive a si mesmo, com soluços.

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