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sexta-feira, dezembro 5, 2025

O veneno que cai do céu sobre os Guarani e Kaiowá

Enquanto o governo se cala e o agronegócio prospera, crianças Guarani e Kaiowá respiram veneno no recreio e veem suas roças morrerem sob a pulverização de agrotóxicos

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Não bastasse a guerra histórica pela terra, travada à bala e à foice contra os fazendeiros, não bastasse o preconceito que insiste em tratá-los como estrangeiros em seu próprio chão, não bastasse a desnutrição, a falta de água potável e o descaso crônico do poder público, agora os povos Guarani e Kaiowá convivem com uma nova arma de extermínio: os agrotóxicos lançados a poucos metros de suas escolas e roças de subsistência.

A denúncia partiu da deputada estadual Gleice Jane (PT), uma das raras vozes que ousam enfrentar, na tribuna, os interesses da monocultura envenenada. Em visita às comunidades Guyraroká e Passo Piraju, nos municípios de Caarapó e Dourados, ela viu de perto o que os relatórios técnicos muitas vezes tentam suavizar: crianças intoxicadas, plantações comunitárias devastadas, famílias sem o mínimo de segurança alimentar. A escola municipal indígena Ñandejara: Mbo’eroga Guyra Arandu Roká está a poucos metros de lavouras pulverizadas. A denúncia é clara: o veneno que alimenta o agronegócio mata as hortas que alimentam as crianças.

Violência e silêncio oficial

Quando os indígenas tentaram impedir a pulverização, ocuparam a Fazenda Ipuitã, dentro dos limites já reconhecidos da Terra Indígena Guyraroká. A resposta veio rápida e previsível: a Tropa de Choque da Polícia Militar, em operação sem ordem judicial, desalojou a retomada com truculência, disparos e bloqueio de acessos. Nos dias seguintes, a violência se repetiu em Passo Piraju e em novas ofensivas contra Guyraroká.

O detalhe é que a própria Funai já declarou Guyraroká como área de ocupação tradicional. Falta apenas a homologação definitiva, que emperra na máquina burocrática do Estado, alimentada pelo lobby ruralista e pelo silêncio cúmplice das autoridades. Enquanto o papel não anda, o veneno escorre.

Uma pergunta que insiste

Quantas crianças precisam adoecer para que se entenda que a pulverização aérea de agrotóxicos é também uma forma de genocídio? Quantas retomadas terão de ser esmagadas pela tropa de choque para que o direito originário à terra seja respeitado? Quantos relatórios, quantos requerimentos, quantos discursos serão necessários até que se olhe para o óbvio: os Guarani e Kaiowá não são invasores — são os donos da terra.

Gleice Jane protocolou requerimento exigindo explicações do Governo do Estado e da Secretaria de Segurança Pública. Explicações, no entanto, já não bastam. O que se pede é ação: interromper imediatamente a pulverização, responsabilizar os agressores e garantir a sobrevivência digna de quem resiste há mais de cinco séculos ao veneno do preconceito e ao chumbo da repressão.

Enquanto isso, as crianças de Te’yikue respiram o veneno no recreio.

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