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sexta-feira, dezembro 5, 2025

O circo da impunidade: nova facção bolsonarista perde discurso e ganha mais réus no MS

No MS, a facção bolsonarista perdeu o bordão “Lula ladrão” e ganhou um palanque de condenados, investigados e herdeiros da contravenção

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O destino às vezes é cruel com os pregadores da moralidade seletiva. Para uma facção política que se acostumou a berrar “Lula ladrão” em cada esquina, o silêncio que se impõe agora em Mato Grosso do Sul é ensurdecedor. Afinal, como sustentar o grito de guerra quando o “novo bolsonarismo” estadual exibe no palanque condenados por improbidade, investigados por crime organizado e delinquentes de colarinho branco?

Edson Girotto foi só a abertura do espetáculo. A sua condenação acende luz vermelha para o PL no Estado, que já tem a vergonha de alinhar em sua tropa de elite nomes como Neno Razuk e Jamilson Name. O primeiro só não provou as grades por ser deputado, o segundo, também deputado e seu colega na bancada do jogo do bicho na Assembleia, por carregar o sobrenome que dispensa apresentações. Filho do poderoso chefão Jamil Name — aquele mesmo que morreu atrás das grades da penitenciária federal de Mossoró — e irmão de Jamilzinho, sucessor direto que cumpre pena em segurança máxima, Jamilson é a metáfora viva da simbiose entre crime organizado e política de palanque.

A ironia é grotesca: Bolsonaro construiu a narrativa da tentativa de reeleição com a cantilena “Lula presidiário”. Agora, o que se vê em MS é um palanque onde o presidiário, o investigado e o réu posam de renovação moral. Dois motes perdidos, logo de cara: já não há “Lula ladrão” para sustentar discurso, nem “presidiário” para apontar o dedo.

E a lista de constrangimentos não para por aí. Reinaldo Azambuja, chefe da facção, carrega a própria capivara da Lama Asfáltica, o que levou o ex-governador a censurar o ContrapontoMS, pela publicação Governo Azambuja começa atolado na Lama Asfáltica, processo que se arrasta até hoje no STF. No mesmo palanque, representantes de segmentos da contravenção penal, como o jogo do bicho e a máfia do cigarro, além dos medalhões do colarinho branco. Nelsinho Trad, por exemplo, senador e caixeiro-viajante das emendas parlamentares, continua tentando se explicar no caso Gisa, que investigou desvio de recursos milionários da saúde em Campo Grande durante sua gestão como prefeito. O processo é emblemático: milhões evaporaram enquanto hospitais padeciam.

E como esquecer o episódio pitoresco — e vergonhoso — do roubo de propina? Isso mesmo: em um Estado onde a corrupção já era regra, houve quem roubasse até a “caixinha” que deveria ser dividida entre comparsas. Mato Grosso do Sul conseguiu inventar o surrealismo da política: o crime dentro do crime, o furto da propina.

No fim, o palanque bolsonarista no MS parece menos comício e mais espetáculo de variedades criminais. Enquanto figuras de toga e farda investigam, a facção perde seu discurso moralista e ganha apenas a herança da lama. O eleitor, esse, assiste estupefato, perguntando se é circo, se é quadrilha ou se é só mais um capítulo da tragicomédia local.

Nota do ContrapontoMS

As informações sobre o ex-governador Reinaldo Azambuja os deputados estaduais Jamilson Name e Neno Razuk estão fundamentadas em decisões e processos judiciais já tornados públicos.

  • Jamilson Name foi condenado pela 1ª Vara Criminal de Campo Grande a 8 anos de prisão por lavagem de dinheiro e organização criminosa, em processo ligado à Operação Omertà (TJMS, confirmado em recursos ao STJ). Também responde a outras ações, inclusive no âmbito da Justiça Federal, e teve pedidos de habeas corpus e de trancamento negados pelo STJ.
  • Neno Razuk tornou-se réu na Operação Sucessione, que investiga esquema de jogo do bicho, roubo majorado e organização criminosa, conforme denúncia recebida pela 4ª Vara Criminal do TJMS. O parlamentar já prestou depoimento no processo e segue respondendo à ação penal, sem prerrogativa de foro após decisão judicial.
  • Reinaldo Azambuja, ex-governador de MS, é réu no STJ em ação decorrente da delação premiada dos irmãos Joesley e Wesley Batista (JBS), que apontaram pagamento de propinas milionárias em troca de incentivos fiscais no Estado. O processo segue em tramitação e já foi objeto de sucessivas denúncias do Ministério Público Federal.
  • Os registros podem ser consultados nas bases públicas do TJMS, STJ e nos autos da Operação Lama Asfáltica, além de terem sido amplamente noticiados pela imprensa estadual e nacional.

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