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sexta-feira, dezembro 5, 2025

Ipês amarelos e brancos antes da volta

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As imagens dos ipês brancos, amarelos e roxos se confundem na memória como um mosaico de cores que atravessa o tempo. Passado e presente se encontram nas ruas floridas e campos do nosso Mato Grosso do Sul, lembrando-me de que cada retorno é também uma despedida. Mais uma vez chegou a hora de dizer tchau à terra amada.

Foram dias intensos: revi amigos de tantas jornadas, estive com familiares que são raízes vivas de minha história, e apresentei minhas obras a novos olhares. Recebi uma moção honrosa da Câmara de Dourados, gesto que me encheu de gratidão e responsabilidade. Conversei com estudantes curiosos e atentos, compartilhei fragmentos de minhas pesquisas e ideais, e deixei nascer projetos que certamente florescerão no futuro.

Entre os encontros, uma presença especial brilhou: Lucy Citti Ferreira: a pintora esquecida do modernismo. A doce Lucy, que por tanto tempo permaneceu invisível, encontrou um público ávido por conhecimento. Estudantes de artes e de literatura se sensibilizaram com sua trajetória, reconhecendo não apenas a artista talentosa, mas também a mulher que soube viver entre telas, cores e sentimentos. A cada olhar atento percebi que Lucy conquistava espaço no coração daqueles que me ouviam.

E, entre uma atividade e outra, me deixei levar pelos sabores e imagens que só o chão natalino pode oferecer: vi nuvens engolindo sóis ao entardecer; comi coxinha de massa de mandioca, sabor de infância e de casa; colhi amoras direto do pé, com as mãos ainda manchadas pelo roxo da fruta; e sonhei com as manguinhas que logo virão, promessa de outro tempo, de outro reencontro.

É verdade que não consegui abraçar todos os amigos que desejava — tantos ficaram à espera, e peço desculpas a cada um deles. Mas outros atenderam à chamada, e cada reencontro trouxe consigo a alegria das conversas interrompidas e retomadas como se o tempo nunca tivesse passado.

Volto com o coração repleto: de saudades, de memórias e de esperanças. Os ipês continuam a florescer, lembrando-me que o ciclo nunca se fecha por completo: sempre haverá um novo retorno, uma nova despedida, e uma nova colheita de afetos.

  • Mazé Torquato Chotil – Jornalista e autora. Doutora (Paris VIII) e pós-doutora (EHESS), nasceu em Glória de Dourados-MS, morou em Osasco-SP antes de chegar em Paris em 1985. Agora vive entre Paris, São Paulo e o Mato Grosso do Sul. Tem 14 livros publicados (cinco em francês). Fazem parte deles: Na sombra do ipê e No Crepúsculo da vida (Patuá); Lembranças do sítio / Mon enfance dans le Mato Grosso; Lembranças da vila; Nascentes vivas para os povos Guarani, Kaiowá e Terenas; Maria d’Apparecida negroluminosa voz; e Na rota de traficantes de obras de arte.
    Em Paris, trabalha na divulgação da cultura brasileira, sobretudo a literária. Foi editora da 00h00 (catálogo lusófono) e é fundadora da UEELP – União Européia de escritores de língua Portuguesa. Escreveu – e escreve – para a imprensa brasileira e sites europeus.
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