Sábado, dia de feira e de pé grande, como dizia o poetinha. É também o dia em que os grupos de WhatsApp se transformam em varal de figurinhas indecorosas — sempre com a promessa da novidade absoluta, quando na verdade não passam de reedições pobres daquilo que já vimos há quarenta anos.
Nos anos 1980, quando a Playboy ainda ditava modas e ousadias, Vera Fischer mostrou ao Brasil uma floresta tropical em sua versão mais exuberante. Não havia podas, nem minimalismos — apenas o testemunho fiel de um país que ainda se reconhecia como Amazônia estética. A foto virou ícone porque, para além da nudez, havia a metáfora: um corpo que não temia ser mato.
Hoje, em contrapartida, viraliza-se em grupos um registro tão depilado, tão raso, que mais parece imagem de desmatamento. No lugar da mata fechada, restou o deserto. No lugar do trópico úmido, o sertão árido. Não é apenas estética, é também metáfora de um país que desfolhou a própria alma — que substituiu a vitalidade tropical pelo simulacro do vazio.
A charge ajuda a ilustrar: de um lado, a mata atlântica da musa dos anos 80; do outro, o chão rachado de WhatsApp. O que era natural virou artificial. O que era provocação virou padronização.
E assim seguimos, entre florestas e desertos, tentando decifrar se a depilação é apenas moda ou se já não passa de mais um sintoma de que andamos raspando a identidade nacional até o osso.
