O ex-governador Zeca do PT voltou à cena política com o vigor e a ironia que sempre o caracterizaram. Durante um podcast da TV Morena, ele não apenas fez críticas ao bolsonarismo, como também disparou contra o “azambujismo” — um modo de fazer política que, segundo ele, mistura pragmatismo frio, oportunismo eleitoral e um flerte perigoso com a extrema direita.
Zeca afirmou que Reinaldo Azambuja “escolheu uma péssima hora para voar do ninho tucano ao cercadinho bolsonarista”, numa referência direta à movimentação do ex-governador, que deixou o PSDB e se aproximou do PL. Para o petista, a guinada ideológica de Azambuja pode “complicar a vida do governador Eduardo Riedel”, seu herdeiro político. Até pouco tempo, Riedel era tido como favorito absoluto à reeleição, sustentado pela máquina, pela popularidade interna e pela inércia de uma oposição fragmentada. Mas o movimento abrupto de seu padrinho político, segundo Zeca, pode ter criado fissuras onde antes havia apenas continuidade.
“Reinaldo fez uma escolha errada e num momento pior ainda. O eleitorado já percebeu que esse pulo de ninho não é convicção — é conveniência. E conveniência, na política, o povo castiga”, disse o ex-governador, num tom entre advertência e provocação.
A fala de Zeca ecoa como um sinal de que o PT volta a calibrar sua artilharia em Mato Grosso do Sul, mirando dois alvos ao mesmo tempo: o avanço bolsonarista no Estado e o desgaste moral do azambujismo. Para ele, o gesto do ex-governador simboliza mais que uma troca de legenda — é um abandono de princípios, capaz de redesenhar alianças e comprometer até a imagem de Riedel, que tenta se equilibrar entre a gestão técnica e o legado político do seu antecessor.
Com sua habitual verve, Zeca ainda ironizou a tentativa de Azambuja de se reposicionar sob o guarda-chuva de Jair Bolsonaro, dizendo que “quem se abriga no cercadinho acaba virando poste de outro”. E completou: “O Mato Grosso do Sul precisa de independência, não de bajuladores de Brasília.”
O diagnóstico do ex-governador não é apenas político — é simbólico. O tucanato, outrora hegemônico, parece desorientado diante de um bolsonarismo que perdeu o fôlego nacional, mas ainda resiste nos redutos do agronegócio e das corporações mais conservadoras do Estado. A transição de Azambuja ao PL, que em tese visava fortalecer seu grupo, pode acabar expondo rachaduras na base governista e forçar Riedel a rever sua rota de neutralidade calculada.
Como sempre, Zeca mistura análise e provocação — sem economizar ironia nem historicidade. Ao revisitar o papel do PSDB no Estado e o flerte com o bolsonarismo, ele reposiciona o PT no debate e acende um alerta para o futuro político de Mato Grosso do Sul: o eleitor cansou de reinos hereditários e está começando a farejar autenticidade.
