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sexta-feira, dezembro 5, 2025

Novo curso da UFGD busca pacificar índios com a comunidade urbana

Em Dourados, onde a maior aldeia indígena urbana do país se vê cercada por muralhas de concreto e preconceito, a UFGD decide abrir um caminho que atravessa fronteiras, físicas e simbólicas — um curso que tenta aproximar o Brasil que constrói do Brasil que resiste

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Com o boom desenvolvimentista dos últimos Dourados passou a viver cercada. De um lado, a Reserva Indígena — um território ancestral transformado em bairro, aldeia e abrigo. Do outro, os condomínios fechados, erguidos como fortalezas modernas, que margeiam a Jaguapiru e a Bororo com muros altos, cercas elétricas e o silêncio seletivo de quem teme o que não conhece. Entre asfalto e trilhas, dois mundos correndo, mas não a mesma história.

Nos anos setenta, quando uma sequência de suicídios entre jovens indígenas assustou o país e o mundo ficou claro que o problema não era apenas espiritual, mas social. Superpopulação, miséria e exclusão transformaram a aldeia em espelho da cidade — e, no reflexo, Dourados viu o quanto o preconceito podia matar em silêncio.

Agora, meio século depois, a UFGD tenta virar a página sem rasgar o passado. A Faculdade Intercultural Indígena (FAIND) acaba de lançar o Curso Superior de Tecnologia em Agroecologia, com 40 vagas destinadas prioritariamente a indígenas com sentença criminal transitada em julgado e ensino médio completo. O gesto é simples, mas revolucionário: abrir portas para quem vive atrás delas — sejam de celas, de cercas ou de estigmas.

O curso, em regime de alternância, é dividido em períodos na universidade e nas comunidades, levando o saber acadêmico de volta à terra que o ensinou primeiro. É uma tentativa de unir o que o urbanismo separou: o direito de aprender e o direito de existir.

Se der certo, os muros dos condomínios que cercam a aldeia talvez não precisem mais ser tão altos, nem o arame farpado tão denso. Porque o medo que ergue muralhas é o mesmo que alimenta o preconceito — e nada desarma o medo como o conhecimento que atravessa o portão.

Em tempos de intolerância e muros até no pensamento, ver uma Universidade plantar pontes no coração de Dourados é mais do que um ato administrativo: é um gesto de reparação. E quem sabe, um dia, os filhos do Jaguapiru e os filhos dos muros vizinhos possam dividir o mesmo horizonte — sem que ninguém precise se proteger da esperança.

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