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sexta-feira, dezembro 5, 2025

Simone Tebet: a grande incógnita das eleições de 2026 no MS

Ministra de Lula que comanda o Orçamento da República, Simone Tebet vira a incógnita que pode embaralhar o xadrez político sul-mato-grossense e deixar Riedel numa saia justa em pleno ano pré-eleitoral

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Enquanto a direita sul-mato-grossense tenta recompor o eixo após a prisão de Bolsonaro, uma personagem antes tratada como coadjuvante em Brasília passou a se mover com a precisão de quem sabe o peso que carrega: Simone Tebet. A ministra do Planejamento de Lula entrou no tabuleiro de 2026 com desenvoltura e autoridade, amparada pelo poder de quem comanda o trilionário Orçamento da União. E ninguém parece mais sensível a esses movimentos do que o governador Eduardo Riedel, apontado pelas pesquisas como virtualmente reeleito, mas agora obrigado a agir com o cuidado de quem lida com alguém capaz tanto de destravar recursos, como ela vem fazendo até aqui, quanto de puxar, quando necessário, o facão dos contingenciamentos.

A equação é tão irônica que parece piada pronta: Simone é ministra de Lula, mas seu marido, Eduardo Rocha, era até outro dia o braço-direito de Riedel na Casa Civil. Operava no coração do governo enquanto a esposa operava o orçamento da União. Rocha deixou o cargo para tentar voltar à Assembleia, mas não deixou a relação com Riedel — muito menos a ponte direta com Simone. E, nesse meio, quem faz a sustentação política do governo é justamente Reinaldo Azambuja, agora o maior porta-voz do bolsonarismo institucional do estado, o mesmo bolsonarismo que Simone precisará enfrentar caso resolva entrar no jogo sucessório para valer. Dá para ouvir o estalar das placas tectônicas mesmo antes delas romperem.

Como se tudo isso já não fosse material suficiente para incendiar um estado inteiro, o PL de Azambuja encarregou-se de fritar a própria base bolsonarista. Promessa pública de Bolsonaro de que Gianni Nogueira, esposa do deputado Rodolfo Nogueira — o bolsonarista mais orgânico, mais legítimo e mais reconhecido do MS — seria candidata ao Senado? Rasgada. A vaga foi tomada pelo próprio Azambuja, num gesto visto pela militância como traição explícita. E quando a poeira parecia já suficiente, Valdemar Costa Neto tirou do freezer o Capitão Contar, ressuscitando uma candidatura pelo PL que ninguém pediu. O PL virou o partido que usa Bolsonaro, mas não respeita seus aliados, e transformou Rodolfo e Gianni nos mártires ideais de um bolsonarismo local traído pelos novos donos do partido.

Nesse ambiente tóxico, quem fez o movimento mais inteligente foi justamente quem menos devia ao bolsonarismo: Eduardo Riedel. Bolsonaro não o apoiou em 2022, preferiu Capitão Contar e ainda assim Riedel foi ao Instagram manifestar solidariedade ao ex-presidente preso. Não por devoção, nem por cálculo emocional, mas porque entende a matemática do agro matogrossulense: o fazendeiro bolsonarista não aceita silêncio. E, com o PL em guerra interna, Riedel se colocou como o “moderado que respeita”, deixando claro que não quer perder a base conservadora para ninguém — muito menos para um partido que conseguiu a façanha de trair o próprio bolsonarismo que diz representar.

A grande peça solta dessa engrenagem, porém, não é nem Azambuja, nem Rodolfo, nem Contar, e muito menos Valdemar. É Simone Tebet. Porque, ao contrário de todos os outros, Simone não precisa brigar no varejo. Ela opera no atacado. Ela tem o orçamento federal, tem a caneta, tem o prestígio de Lula, tem espaço em Brasília e tem partido — aliás, tem vários partidos à disposição, caso precise trocar o MDB por outra sigla da base de Lula. Simone pode ser candidata ao Senado. Pode ser candidata ao governo. Pode ser a articuladora invisível da eleição. Pode ser tudo isso ao mesmo tempo. E, se não for candidata a nada, continua sendo ministra. E ministra do Planejamento não sai enfraquecida de derrota nenhuma: sai com uma planilha e um sorriso discreto, acompanhada de uma equipe capaz de decidir quem recebe suplementação e quem fica com o pires na mão. Isto, na perspectiva, já, de uma dupla reeleição, de Lula e de Riedel.

É essa realidade que coloca Riedel numa saia justa histórica. Ele é favorito à reeleição, mas não quer confusão em Simone, não pode desprezá-la, não pode tratá-la como ameaça, muito menos como irrelevante. Ela é a figura que, só pelo DNA de Ramez Tebet, secretário de Justiça do estado, prefeito de Três Lagoas, governador, ministro e presidente do Congresso Nacional, embaralha qualquer jogo. É a personagem que o PT nacional abraça, o MDB respeita e que o governo estadual não pode desafiar. E, para completar, Simone ainda está presente em uma frente onde poucos prestam atenção: a do contato direto com prefeitos e lideranças municipais. Porque prefeitos, ao contrário de caciques partidários, têm memória curta e contas impagáveis com o orçamento municipal. Preferem quem destrava verba, não quem declara fidelidade ideológica.

Por fim, parafraseando Lula com a precisão que a ironia exige: nunca antes na história desse estado Simone Tebet andou tão presente nos municípios — e tão sorridente nas redes sociais — como nesse ano pré-eleitoral. E sorrisos, na política, nunca são gratuitos. Só parecem.

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