O contraponto hoje é com a presidente da Câmara de Dourados, Liandra Brambilla, e não por acaso: em uma Casa onde há vereador disputando quase a tapas um lugar mais alto no pódio das redes sociais, ela segue administrando tudo de maneira discreta, quase silenciosa — e justamente por isso, eficiente. Enquanto metade da turma vive atrás do celular e a outra metade sonha com a próxima selfie política, Liandra escolhe o caminho oposto: entrega trabalho, não disputa olímpica de visibilidade.
E isso se comprova na aprovação, nesta segunda-feira (1º), do projeto que institui o Código Municipal de Leis da Mulher Douradense, uma consolidação inédita de todas as políticas públicas voltadas às mulheres aprovadas entre 1986 e 2025. Nada de invenção do dia, nada de firula legislativa: apenas a coragem rara de organizar o que já existe — e que estava espalhado como pecinhas de dominó esparramadas pelos labirintos da burocracia do Jaguaribe.
No Brasil, organizar é revolucionário. E no Legislativo douradense, onde a pressa por curtidas supera a pressa por conteúdo, é quase insubordinação.
O Código sistematiza leis sobre saúde da mulher, violência doméstica, igualdade de oportunidades, proteção social, maternidade segura, combate ao assédio e discriminação — todas políticas que, quando jogadas soltas, se perdem; mas quando reunidas, ganham força, visibilidade e potencial real de fiscalização.
Liandra fez algo simples e, por isso mesmo, difícil: não abandonou sua pauta de origem, mesmo quando sua colega Isa “Cavala” tentou dar braçadas largas e nadar sozinha nesse rio temático. Em vez de correr atrás de holofote, Liandra correu atrás de coerência. E, convenhamos, isso já é ruptura suficiente no ecossistema politiqueiro local.
O Código vem organizado por décadas, permitindo que se acompanhe a evolução das políticas voltadas às mulheres desde os tempos do papel carbono até a era do story de 24 horas. E, para não virar peça de museu, permite que novas leis sejam incorporadas automaticamente — um raro caso de legislação que não nasce com prazo de validade vencido.
Feito de mulher pra mulher — e de vereadora pra cidade — o projeto consolida direitos, facilita acesso, dá clareza e, acima de tudo, exige do Poder Público aquilo que ele mais teme: continuidade.
E isso acontece num momento em que o feminicídio avança como epidemia. Num Estado que figura entre os mais perigosos do país para se nascer mulher. E numa cidade onde, lamentavelmente, a violência doméstica deixou de ser exceção e virou manchete frequente demais para ser ignorada.
Por isso organizar as leis que protegem mulheres não é gesto político nem bandeira de ocasião: é ato de urgência. É ato de decência. É ato de sobrevivência.
