Mesmo perdendo, compulsoriamente, o “cargo” informal de guardião de tornozeleira do chefe Bolsonaro, seu Gordinho, o deputado Rodolfo Nogueira ainda alimentava uma grande chance de reeleição. Não por obra, graça ou milagre do mandato — mas pela fidelidade canina, dessas de raça treinada, sempre dedicada ao ex-presidente. Fidelidade essa que, convenhamos, costuma render mais votos do que qualquer projeto legislativo.
A aposta era simples: latir no tom certo, mostrar os dentes quando o chefe ordenasse e aguardar. Sempre aguardar. Afinal, 2026 está logo ali — esse “logo ali” que o bolsonarismo repete desde 2019, como quem promete voltar para buscar o casaco esquecido no sofá.
A carona eleitoral na candidatura da esposa, a vice-prefeita de Dourados, Gianni Nogueira, ao Senado, era apenas um bônus. O principal ativo político de Rodolfo nunca foi a gestão, a articulação ou a produção de leis. Sempre foi o chefe. Defender o chefe. Posar com o chefe. Repetir o chefe. Um papagaio de pirata convicto, desses que sabem exatamente onde ficar na foto e quando abrir o bico — ainda que, na prática, funcione muito mais como um boneco de ventríloquo político, repetindo discursos alheios enquanto alguém, fora de cena, move a boca.
Apresentando-se como fazendeiro — título adquirido por vias tão criativas quanto discretas — Rodolfo se tornou uma das figuras mais histriônicas do Congresso Nacional na defesa das pautas conservadoras, especialmente aquelas que cabem em frases curtas, fáceis de gritar em microfones alheios durante apartes ensaiados. Sempre à espreita da mesa diretora, sempre próximo de qualquer equipamento de som, como se a democracia dependesse exclusivamente da potência de sua voz.
Foi nessa condição de militante messiânico que Rodolfo voltou a experimentar seus cinco segundos de fama na grande mídia e a viralizar nas redes sociais. O contexto, porém, não ajudou. O chefe, aproveitando um cochilo do então guardião informal da tornozeleira, tentou se livrar do aparato eletrônico com um ferro quente — cena digna de um pastelão político que terminou com a antecipação da prisão definitiva do comandante em chefe da tentativa de golpe.
Nada disso abalou a fé do deputado douradense. De volta ao Congresso, Rodolfo seguiu firme, convicto de que tudo seria revertido, de que o sistema seria desmascarado e de que 2026 continua logo ali, agora talvez um pouco mais ali do que antes.
O que ele não poderia imaginar era que, em meio aos escombros do fiasco político, cairia no colo dos bolsonaristas uma oportunidade tão espetacular quanto… um par de sandálias.
Sim, elas, aquelas que não deformam e não soltam as tiras. As havaianas.
A chance surgiu com uma propaganda cuidadosamente “despretensiosa”, dessas que fingem casualidade enquanto enfiam os dois pés — e mais um pouco — na jaca ideológica. Aproveitando o embalo de um filme mais leve encenado por Fernandinha Torres, que ainda está aqui, alguém achou uma excelente ideia associar política, patriotismo tropical e calçados de borracha. Porque nada traduz melhor um projeto de país do que uma sandália que não solta a tira.
E foi assim que Rodolfo Nogueira, de guardião de tornozeleira de um ex-presidente condenado, foi rebaixado — ou promovido, depende do ângulo — a vendedor entusiasmado de sandálias da marca Ipanema, produto da Grendene, numa tentativa quase comovente de fazer frente às Havaianas da concorrente Alpargatas.
Patético? Sem dúvida. Ridículo? Bastante. Bizarro? Só até lembrarmos que, no Brasil, a linha entre política e merchandising já foi dissolvida há tempos.
Rodolfo posou, sorriu, apontou para os próprios pés e entregou ao país uma metáfora perfeita de sua trajetória: começou como acessório, tentou segurar o chefe pelo tornozelo e terminou promovendo algo feito para andar para trás sem fazer barulho.
A menos, é claro, que estejamos diante de mais um golpe de mestre. Afinal, como lobista informal da Grendene no Congresso Nacional, Rodolfo pode repetir o mesmo pulo de gato que deu com o grupo Irã Garcete, do Paraguai, onde entrou como estafeta de Irãzinho Garcete e saiu fazendeiro respeitável.
Quem sabe esteja aí, ressuscitada, sua chance de reeleição a deputado federal. Ou até de substituir a própria esposa como candidato ao Senado. Porque, convenhamos, ninguém no Mato Grosso do Sul encarna o bolsonarismo com tanta entrega, tanta fidelidade e tanta… borracha.
Santas havaianas…
