09/05/2012 – 09:05
Por sua condição “felomenal” (como diria o impagável bicheiro Giovani Improtas, personagem de José Wilker na novela global Senhora do Destino) o ex-prefeito Ari Valdecir Artuzi (na foto,encarcerado) embora sem pretensão matusalêmica (ainda mais depois de curado, como se diz, do câncer que corroeu seu intestino), uma vez condenado como chefão da Uragano poderá cumprir pelo menos parte da pena que, no seu caso, pode passar dos 500 anos de prisão. A questão, como todo mundo sabe, é que pela legislação brasileira nenhum condenado, independente da duração da pena, pode puxar mais que trinta anos de cana em regime fechado. Não só ele, pois, como seus comparsas podem dormir sossegados, já que não correm risco de mofarem na cadeia, mesmo que a soma das penas de alguns deles, sugerida pelo Ministério Público, seja igualmente assustadora.
Talvez pelo histórico de impunidade na Justiça brasileira, principalmente quando se trata de políticos, a maioria dos uraganos não está nem aí para o abacaxi, alguns agindo como se nada tivesse acontecido, arriscando-se até para poses em coluninhas sociais. O próprio Valdecir continua fazendo política no mesmo ritmo – 24 horas por dia “inclusive à noite” -, e até tendo algumas recaídas, como a do início desta semana, quando foi até a Câmara Municipal atrás de uma brecha no regimento interno que lhe possibilite embasar mais um recurso junto ao Tribunal de Justiça do Estado para tentar reaver o cargo ao qual diz ter sido coagido a renunciar.
A maioria dos crimes é por corrupção passiva e formação de quadrilha. Para os advogados que atuam no caso, um deles prometendo grandes surpresas no máximo em 30 dias, além do Valdecir, ironicamente, a situação processual mais delicada é de seu ex-assessor jurídico dos tempos de deputado, depois secretário de governo, Alziro Moreno. Só no artigo 317 do Código Penal, que prevê uma pena de dois a 12 anos de prisão, são 13 incidências, sendo que 11 delas aumentadas em 1/3, pelo que estabelece seu parágrafo primeiro. No total, incluídos os crimes previstos também nos artigos 299 e 312 e seus agravantes, Moreno pode ser condenado a uma pena que varia de 66 a 443 anos de prisão. Acusada dos mesmos crimes, mas em dosagem menor, sua mulher, Tatiane, secretária de administração da malfadada administração Valdecir, também pode voltar para a cadeia.
Outros ex-secretários bastante encrencados são Darci Caldo e Inês Boschetti de Medeiros. Caldo, o antecessor de Moreno na Secretaria de Governo, com penas que podem variar de 41 a 243 anos de prisão. Inês, que abriu mão da gerência de um banco para assumir a Secretaria Municipal de Fazenda, podendo amargar uma condenação de cinco anos e quatro meses a 32 anos de prisão.
Entre os ex-vereadores a situação mais difícil é do ex-presidente da Câmara Sidlei Alves, apontado como deputado eleito no pleito de 2010, ano em que estourou a Uragano. Pior, em caso de retorno ao presídio Harry Amorim Costa, seria pela quarta vez, já que puxou a fila como expoente da Owari, depois voltando mais duas vezes, como uragano e, por último, responsabilizado pelos empréstimos consignados da operação Câmara Secreta. Se condenado, pode puxar de 37 anos e oito meses a até 223 anos.
Pelos rigores do Ministério Público não poderiam escapar diretores de um hospital com fachada de filantrópico, mas acusado de superfaturar notas fiscais de serviços para desviar dinheiro da saúde. Afinal, “a vida (dos vereadores beneficiados pelo caixa-dois) não podia parar”, enquanto pacientes do SUS esperavam na fila para conseguir pelo menos uma cadeira de fio para se “internar” em seus corredores. Por esse tipo de “caridade” o pastor presbiteriano e diretor do Evangélico Marco Aurélio Areias pode receber condenação de 35 a 207 anos de cadeia, a mesma pena para o administrador Eliezer Branquinho. Para seu antecessor no cargo, o engenheiro Paulo Roberto Nogueira, de 33 a 195 anos.
Quando se fala em tantos anos de cadeia para tanta gente envolvida em retornos, não poderia faltar, claro, um empreiteiro. Nesta privilegiada lista, destaque para Geraldo Alves da Silva, sempre contemplado com um bom volume de obras executadas com recursos de emendas do xará e parceiro de primeira hora, deputado Geraldo Resende. A pena prevista para Geraldinho, de 24 a 151 anos de prisão.
A esperança dos uraganos, que continuarão aguardando as sentenças em liberdade, até o último recurso, não é propriamente uma pizza, que, mesmo tamanho família não daria para matar a fome e manter o sonho de liberdade dos 69 acusados. Alguém, afinal, há de pagar o pato. Para eles, algumas porções de sashimi como as a que enganaram a fome da turma da Owari já está de bom tamanho.