09/02/2011 – 11:02
Com as saracuras em silêncio, depois do tanto de chuva que têm mandado nos últimos dias, nada melhor que o murmúrio das águas do Laranja Doce para arejar as ideias, abrir o coração e soltar a língua de quem foi parar na cadeia por confiar demais naqueles que insistem em fazer uma leitura enviesada de “O Príncipe”, de Maquiavel, levando ao pé da letra o conceito de que os fins justificam os meios. Só isso para justificar tanta lambança, vinda a público agora, no rescaldo da operação Uragano, com um monte de histórias, não tão controvertidas, de roubalheira do dinheiro público, traições, tentativas de atentados, espionagem e, como não poderia faltar, no enredo de um espião pra lá de trapalhão, de amor e muito sexo.
É aquela velha história. Alguém tem que puxar a fila. Bastou uma foto típica de coluna social do blogueiro num bate papo com um dos uraganos para que os demais se encorajassem. E assim, ontem à tarde, pude inteirar-me de mais detalhes da roubalheira da turma do Valdecir na prefeitura de Dourados. Detalhes como o do montante roubado e seu provável destino.
Não. O Valdecir não embolsou R$ 35 milhões. Não pode. Ele não seria um ator tão bom assim. Não estaria agora com as mãos calejadas de tanto pegar no guatambu, não precisaria vender queijo na rua com sua Maria e, pior, muito menos passar pelo constrangimento de ser vingado por um suíno que quase lhe decepa a mão. Mas quem, então, pegou essa dinheirama toda? No máximo, o Valdecir, se pegou, foram uns cinco paus (milhões), na avaliação de um dos mais íntimos ex-colaboradores. Mesmo assim, espalhafatoso como é, já teria dado pistas de onde está investindo esta pequena fortuna. Mas e os outros trinta paus (milhões) quem embolsou? Os uraganos saboreiam um cafezinho feito pela Anita e vão embora, deixando-me mais encafifado ainda.
Corro para o computador. Vai sair um belo texto! Meu anjo da guarda intervém: “você acaba de sair lá das Pequenas Causas, onde transacionou com os poderosos da mídia; ta querendo pagar mais umas cestas básicas?”. Ufa! O negócio é dar uma espairecida. Depois de muito rodar, sem cruzar com uma viva alma disposta a uma cervejinha, lembro-me de meu tio Rubens, aquele das previsões fatídicas quanto ao governo Dilma Rousseff. Perfeito! O papo com ele, que estava num dia inspiradíssimo, serviu para acabar com o enigma do sumiço e do provável destino dado ao dinheiro desviado da prefeitura.
Pegando como gancho o meu medo de Saci-Pererê, revelado na entrevista à Folha de Dourados, tio Rubens desfia histórias de assombração, descrevendo nos mínimos detalhes a noite em que um disco voador pousou no fundo de seu quintal, ali na Vila Matos, fazendo o vizinho escafeder-se no raiar do dia, até relembrar de alguns conhecidos de antigamente que se ajeitaram na vida com os chamados “enterros” – nada mais nada menos, segundo a lenda, que pequenos tesouros de potes de libras esterlinas escondidos debaixo da terra. É quando consigo meu o primeiro aparte, elucubrando sobre a possibilidade de procedência das muitas versões de que também o Valdecir tinha este hábito de esconder dinheiro debaixo da terra, lá no sítio do Porto Cambira. Ele concordou comigo, mas, sarcástico, sem perder a mania de me contestar, disse que o sumiço dessa grana toda poderia também ser coisa do serelepe Saci-Pererê.
Já terminando a primeira cerveja ponderei a ele que Saci-Pererê poderia até se dar também a este tipo de traquinagem, mas não há notícias de que seja tão avaro assim, muito menos violento e maquiavélico. Sim, porque não é só o roubo, em si, do dinheiro público, que está em questão. Para meter a mão nessa grana toda se fez – ou, pelo menos, tentou-se – de tudo. A explosão do parque gráfico do Diário MS tinha dia e hora marcados para acontecer. Até um croqui da sede do jornal, com mapa do quadrilátero, em que altura da rua e por qual janela o coquetel molotov deveria ser jogado, de modo que atingisse em cheio a impressora. Não sei o que aconteceria comigo, que denunciei o esquema criminoso desde o início, já que na estratégia para calar blogueiros de menos audiência, como Jr. Bitencourt, a recomendação era para mantê-lo vivo, mas todo quebrado, de modo que precisasse passar um bom tempo numa UTI.
E o que fazer com a mídia aliada, mas às vezes indócil pela demora na divisão do bolo orçamentário da Secom? Jabá neles! “Purfas” (pagamento por fora) não só ao pessoal da redação como também aos diretores. Tudo agendado, em agendas muito bem guardadas que, na hora certa, deverão engrossar os autos do já volumoso processo da Uragano.
Ah, e as gravações que o Valdecir mandou fazer para comprometer aliados, principalmente vereadores? Business. Cem (mil reais) paus na mão e elas desaparecem! Como a grana atrasou, foram parar nas mãos do xerife Galloni. Falando em business, já que é para quebrar o monopólio dos serviços funerários, com um milhão de reais dá para liberar o alvará de funcionamento. É muito, para esquema do propinoduto? É, mas em suaves prestações mensais. E assim vai se formando o bolo dos estimados R$ 35 milhões surrupiados da barrosa.
Tudo bem que o Valdecir tinha fama de maluco, mas, sozinho, não seria capaz de tamanha engenharia. Quanto ao Saci-Pererê, será? Saltitante, pobrezinho, com uma perna só, teria condições de viajar tanto para o exterior, inclusive para o mais famoso dos paraísos fiscais – a Suíça? Será que é lá que está o “tesouro”, ou pote de ouro?