24.3 C
Dourados
sábado, julho 26, 2025

Morre o coronel que matou o Lobisomem

- Publicidade -

04/03/2021 – 13h32

Adib Massad, que criou o GOF (hoje DOF) e tinha fama de matador, foi uma lenda das polícias dos dois Mato Grossos

Quando a Unigran ainda era Socigran e funcionava no Educandário Santo Antônio, anexo da Catedral Imaculada Conceição, funcionava no local um barzinho – o Sucupira –, que era o ponto de alunos, professores e afins, como eu, que nunca quis estudar, mas que tinha ali meus interesses, não apenas jornalísticos. Um belo dia, proseando com meu guru Harrison de Figueiredo e com o vereador Ramão Perez, fui surpreendido com a chegada de uma viatura da PM, da qual desceram dois praças que vieram em nossa direção. Não foi bem um “teje preso”, mas um dos policiais convidou-me a acompanhá-lo, pois o coronel Adib me aguardava no Batalhão. Isso, ali pelas 22h o que fez com que meus companheiros de mesa, ambos advogados, se dirigissem até o Batalhão, mas quando lá chegaram já havia terminado meu “interrogatório”.

Estávamos na metade da década de 1970. Eu trabalhava na Rádio Clube e fazia uns frilas para a Folha de Dourados. Chegando à sede da PM fui conduzido à sala onde se encontrava o coronel famoso. Ele havia acabado de chegar da região da fronteira e, sempre afável e com um largo sorriso, foi logo jogando uma foto sobre a mesa: “esta é exclusiva para você, acabamos com a ‘festa’ do Lobisomem”, e, com brilho nos olhos, pedindo apenas para que não dissesse (que deixasse para quando ele morresse) que foi ele quem deu o tiro de misericórdia, depois de pedir para que seus homens deixasse para ele o trabalho de liquidar com o bandido que havia tempo vinha amedrontando a população do Sul do estado, pelos requintes de crueldade que impunha às suas vítimas.

Daí, a lenda. Lenda que se consolidou depois que o coronel Adib foi flagrado nesse tipo de inconfidência durante uma conversa que imaginava em off, enquanto aguardava para gravar uma entrevista com o jornalista Roberto Cabrini, para um programa jornalístico do SBT. Não que já não fosse famoso quando chegou a Dourados, transferido da PM do Mato Grosso, no início dos anos 1970, a pedido de um grupo de lideranças políticas, de entidades e, principalmente, de fazendeiros, que se uniram para tentar conter a onda de violência que fazia lembrar o tempo dos bandoleiros, quando dezenas de pessoas eram assassinadas, por exemplo, por conta de um ovo de ema.

O coronel não desmentia essas histórias. Fazia até graça com um problema que tinha num dos olhos, dizendo que fora uma “providência divina”, já que aquilo facilitava a mira. Dizia que não matava ninguém, que só apertava o gatilho, que quem matava era Deus. Remorso? “Só depois da primeira vez. Acostuma. Um trabalho com qualquer outro”, justificava. Para amenizar a situação dizia que não era tudo isso, que o bom resultado de seu trabalho era mais por sua peculiar estratégia. Quando prendia um grupo de bandidos, soltava um deles e mandava o dito cujo avisar os comparsas que se escafedessem, pois se insistissem em ficar na região aí sim a conversa seria diferente.

Seus homens eram escolhidos a dedo. Principal requisito, claro, ser bom de gatilho. Um de seus preferidos, Lídio Sarate, foi assassinado logo no início de sua saga na região. Todos cortavam um dobrado com os rigores do chefe. Num desses encontros políticos em Ponta Porã, dois deles se empolgaram com a mordomia (era campanha de Zé Elias ao governo do Estado) e assinaram nota de um litro de uísque que tomaram e deixaram para o coronel pagar. Ao conferir a nota chamou um assessor da comitiva do candidato e afirmou: vou me demitir hoje da polícia, perdi o respeito. Só bebo água e tenho que pagar bebida alcoólica para esses rapazes.

Aliás, foi no dia em que Zé Elias foi proclamado candidato pela convenção do PDS em Campo Grande, que Adib Massad me revelou seu grande sonho. Sabedor de minha proximidade com o candidato oficial, puxou-me para um canto, durante as comemorações na varanda casa do governador Pedro Pedrossian, nos altos da Afonso Pena, e cochichou ao meu ouvido: “Vou fazer a segurança da campanha, mas o doutor José Elias virando governador você me ajuda. Quero encerrar minha carreira como secretário de segurança pública do Estado”. Nem uma coisa, nem outra. Zé Elias perdeu a eleição e o lendário coronel resolveu antecipar sua aposentadoria, com um argumento, para ele, irrefutável: “depois que inventaram esse negócio de Direitos Humanos a gente não consegue mais trabalhar”.

Coronel Adib Massad, que morreu hoje em Campo Grande aos 91 anos de idade

- Publicidade -
- Publicidade -
- Publicidade -

Últimas Notícias

Últimas Notícias

- Publicidade-