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sexta-feira, abril 26, 2024

Parlamentares ou caixeiros-viajantes?

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“Apenas punição não basta para coibir o feminicídio”, deputado Barbosinha. “Senador Nelsinho Trad destrava concessão de benefícios do INSS”. “ (Deputado) Amarildo Cruz adota racismo como bandeira de mandato”. Isso tudo, ao lado de outro destaque (manchete) mais alvissareiro ainda: “Para Riedel Bioceânia é só o começo de um novo tempo”. Exceção a Eduardo Riedel, que não é parlamentar, mas, de cara, já querendo entrar na política como governador, não deixa de ser interessante constatar que ainda existem deputados e senadores que não fazem de seus mandatos meros escritórios de repasse dos inesgotáveis recursos públicos. Principalmente nesses tempos em que é mais fácil achar uma agulha num palheiro do que um político que não esteja na ciranda dos retornos, não deixa de ser gratificante também saber que ainda existem aqueles que não pensam só “naquilo”, buscando, quase sempre sem disfarçar, a locupletação ampla, geral e irrestrita.  

Acho que já escrevi em algum lugar, não sei se aqui ou em algum dos rascunhos de livros que vivo ameaçando mandar para o prelo, em todo caso vamos lá, de novo, ao ponto que interessa – o de interrogação, em títulos como o deste texto. Aprendi, nos tempos idos, diante de um mural na redação da Folha de Londrina, como os dois pontos ou o ponto de interrogação comprometem o produto jornalístico final, que é a boa informação. Em duas capas do mesmo dia, o concorrente do jornal de João Milanez – o Panorama, de Paulo Pimentel – indagava sobre os mesmos assuntos que a Folha estampava, mas de forma afirmativa. Tanto que, para quem não sabe ou não se lembra, durou pouco a tentativa do poderoso Pimentel (governador e quatro vezes deputado federal pelo Paraná) de desbancar João Milanez. Aqui no estado, ainda hoje, alguns ditos coleguinhas não conseguem fazer um título sem um ponto de interrogação. Ou seja, nunca sabem de nada, e, se sabem, preferem não meter a mão em cumbuca.

Que se dê aos parlamentares monetaristas a desculpa pelo excesso do sempre tedioso trabalho, que dificulta o pensar, de seus assessores – e eu sei bem o que é isso, pois também tive meus momentos chapa-branca, quando dourar a pílula era o que importava. Principalmente diante da ansiedade de aparecer de políticos que insistem em dizer que entendem, literalmente, da matéria, mas que não sabem diferenciar um lide jornalístico de uma lida em busca de votos na tal da Vila Querosene, como gosta de dizer José Nunes, um dos gurus do vice-governador Murilo Zauith e presidente da UDAM (União das Associações de Moradores de Dourados).

Como se o dinheiro só brotasse na Esplanada dos Ministérios pela força de um regador levado por um prefeito ou por um vereador

Os adjetivos recheados de cifrões abundam nos títulos, esses, claro, sem interrogações. O que tem de deputado e senador “conquistando” milhões para uma ou outra obra ou serviço não é brincadeira. Como se isso fosse a razão de ser de seus mandatos, quando todo mundo sabe que nada mais é do que uma rotineira movimentação de rubrica orçamentária. Quando chega o final do ano, então, período em que se fecha o orçamento para o exercício seguinte, é um deus-nos-acuda! Uma correria à Brasília, como se estados e municípios não tivessem seu quinhão, por direito, como retorno, ops!, da arrecadação de impostos de cada um. Como se o dinheiro só brotasse na Esplanada dos Ministérios pela força de um regador levado por um prefeito ou por um vereador. Aí, ao longo do ano, quando sai uma grana, por menor que seja, é aquela festa! Ou, uma “conquista”, como costuma aparecer nos títulos menos criativos, aí sem interrogação, dos releases dos caixeiros-viajantes da política.

Pode parecer um texto meio sem pé nem cabeça (sem gancho, como se diz no jargão jornalístico), talvez pela ausência de grandes debates institucionais provocados por tribunos do mais alto quilate, que não se preocupavam com esse negócio de retornos. Ficando apenas na bancada do estado no Congresso Nacional, parlamentares como o senador campo-grandense cassado (não por corrupção, como Delcídio do Amaral, mas por oposição ao regime militar) Humberto Neder e os também senadores Mendes Canale, Wilson Martins e Ramez Tebet; deputados Weimar Torres, Sergio Cruz, Antônio Carlos Nantes de Oliveira e Ivo Cersósimo. Enfim, era um tempo em que se fazia política ideológica, não mercadológica.

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