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quarta-feira, abril 24, 2024

Admirador de Hitler em alta na Colômbia

Rodolfo Hernández dispara nas pesquisas e eleva tensão na campanha presidencial; pleito é no próximo domingo

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Num país no qual o apoio à democracia recuou 11 pontos percentuais entre 2020 e 2021 (caindo de 54% para 43%), de acordo com pesquisa realizada pela Latinobarómetro, o crescimento vertiginoso de um candidato antissistema na reta final da campanha para as presidenciais do próximo domingo acendeu uma luz vermelha na Colômbia.

O fenômeno eleitoral do momento chama-se Rodolfo Hernández, um ex-prefeito de 77 anos, empresário rico que promete acabar com a corrupção do sistema político, não tem um programa de governo claro, decidiu não participar dos últimos debates e provocou polêmicas no passado por dar um soco na cara de um vereador e reconhecer publicamente ser admirador de Adolf Hitler. Ambos episódios estão gravados e viralizaram nas redes.

Apelidado de “o engenheiro” ou “o velho”, Hernández passou de 8,2% para 20,3% de intenções de voto entre março e maio, em pesquisas realizadas pela EcoAnalítica, e de 13,1% para 20,9% (no mesmo período), segundo a empresa de consultoria Invamer. Outro estudo, da CNC, coloca o candidato que analistas locais definem como um populista de direita praticamente empatado com Federico Gutiérrez, da aliança de centro-direita Equipe Colômbia, até agora considerado o provável rival do esquerdista — e favorito — Gustavo Petro no segundo turno, em 19 de junho.

O fenômeno de Hernández é visto por jornalistas e analistas colombianos como um claro reflexo da enorme insatisfação que existe no país em relação aos partidos políticos tradicionais — incluídos os de esquerda —, ao governo do presidente Iván Duque e à situação econômica deixada pela pandemia. Alguns fazem um paralelismo com o perfil de Alberto Fujimori (um outsider que ninguém esperava que chegasse à Presidência de seu país), no Peru, na década de 90.

— Rodolfo capitaliza essa insatisfação muito bem, porque se mostra como alguém alheio ao sistema político, embora tenha dito, no passado, que contava com o apoio do ex-presidente Álvaro Uribe (2002-2010) — opina o colombiano Sergio Garcia, pesquisador do Centro Internacional de Estudos Políticos e Sociais (Cieps, com sede no Panamá).

O especialista em regimes democráticos na região enfatiza que o crescimento de Hernández preocupa porque a Colômbia tem mostrado não só uma queda do respaldo à democracia, mas, também, às eleições.

— Estamos falando de um empresário que faz política como faz negócios, por isso alguns o chamam de Trump colombiano. Hernández é conservador e eu diria que pode ter afinidades com Hitler, mas não diria que é um nazista. Ele é essencialmente um ignorante — frisa Garcia.

O candidato mais idoso da campanha colombiana nasceu numa família humilde e fez sua fortuna construindo e financiando casas para setores populares na década de 1990. Com o movimento Lógica, Ética e Estética venceu as eleições para prefeito da cidade de Bucaramanga, a quinta maior da Colômbia, em 2016. Foi uma enorme surpresa para a política local e para o tradicional Partido Liberal, que perdeu por menos de 80 mil votos.

Como prefeito, Hernández fez obras na cidade, mas também se envolveu, segundo informa a imprensa local, em supostos casos de corrupção que ainda estão sendo investigados. Foi durante sua gestão que, em entrevista à emissora de rádio RCN, disse ser “seguidor de um grande pensador alemão que se chama Adolf Hitler”. Muito tempo depois, o vídeo bombou nas redes e Hernández disse ter sofrido um lapso na época.

—Tive professores judeus, qualquer um pode ter um lapso… Peço desculpas ao povo judeu, às pessoas que posso ter ferido, mas tenho direito a errar, como qualquer pessoa — declarou.

Na avaliação de Rodrigo Torres, diretor da empresa de consultoria Valora Analitik, “o que ajuda o discurso de Hernández a penetrar socialmente é o fato de ele ser um empresário rico”.

— As pessoas acreditam que ele não vai roubar — explica Torres.

Em 2016, o candidato votou contra o acordo de paz com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), mas hoje diz que, se for eleito, vai respeitar o entendimento. E diz, ainda, que incluiria o Exército de Liberação Nacional (ELN), que em 2004 teria sequestrado e assassinado sua filha.

Algumas das propostas mais populares de Hernández são a redução de impostos e a eliminação de privilégios da classe política, sobretudo dos congressistas. Levantando a mesma bandeira que costuma defender o deputado e candidato à Presidência da Argentina, o direitista Javier Milei, o candidato colombiano ataca diariamente “a casta política”, segundo ele, o grande problema da Colômbia. Em sintonia com a esquerda e setores de centro, Hernández está a favor da legalização das drogas.

— Sistema para Hernández é a velha casta política que domina o Congresso e os partidos mais importantes. É como Trump, mas a grande diferença é que não pertence a um partido tradicional. Seu discurso está centrado em derrubar o sistema — explica o jornalista Roberto Pombo, ex-diretor do jornal El Tiempo e diretor dos veículos do grupo espanhol Prisa na Colômbia.https://87c48c4aeb69aeab85c2eac5923355cf.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-38/html/container.html

Para Pombo, o elogio a Hitler não foi um lapso, mas sim um deslize.

— Ele é um empresário rico, que nasceu pobre. Isso gera empatia em muitas pessoas. Não podemos esquecer que os colombianos acreditam principalmente na empresa privada e desconfiam dos políticos — analisa Pombo. (Janaína Figueiredo/O Globo, de Buenos Aires).

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