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sexta-feira, outubro 18, 2024

Próxima novela da Globo desagrava grupo empresarial de Dourados envolvido em crime financeiro

O diretor Walcyr Carrasco escolheu a região de Dourados, onde passou parte da infância, como cenário de sua próxima novela

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No entremeio da prisão inicial e a condenação em primeira instância, por crime contra ordem tributária – o famigerado esquema de “Regime Especial” – e, antes mesmo da absolvição que viria nas instâncias superiores, o empresário Fernando Rocha, do grupo Campina Verde, costumava jactar-se nas rodas de uísque, principalmente nos grandes leilões de gado, dizendo que o episódio em nada abalaria suas empresas, muito menos suas famílias. “Ganhamos dinheiro para a vida inteira” e, mais, insinuando que toda esta grana estava “muito bem guardada”. Pela segurança com que falava, dando a entender que se tratava de algum paraíso fiscal. Pois não é que os protagonistas de um dos mais emblemáticos casos de polícia do Mato Grosso do Sul são agora os anfitreões dos protagonistas da trama da próxima novela “das oito” da Rede Globo?

Dezessete anos depois do início das investigações que levaram para a cadeia, além de Fernandão Rocha, seu pai Nilton e o irmão Aurélio Rocha, tido como o cérebro do esquema criminoso, eis que as palavras do chefão cerealista da época começam a fazer sentido. Num daqueles clássicos exemplos em que a ficção se mistura com a realidade, a TV Globo, a maior produtora de conteúdo de teledramaturgia do planeta, encarrega-se de exibir para o Brasil e para o mundo o potencial do grupo Campina Verde. Sim, porque é na “joia da coroa” dos irmãos Rocha, a fazenda Annalu, que produz e vende commodities agrícolas, que o diretor Walcyr Carrasco resolveu gravar 80% das cenas de “Terra Vermelha”, a novela que irá substituir “Travessia”.

Próxima novela da Globo desagrava grupo empresarial de Dourados envolvido em crime financeiro
O consagrado Tony Ramos e Lelinho (foto: Facebook da família Campina Verde)

Enquanto Fernandão se esbaldava e bravateava com a dinheirama conseguida por meios tido como ilícitos pelo Ministério Público e pela Polícia Federal, o irmão, Aurélio cuidou de bem-formar um dos filhos – Aurélio Rolim Rocha, um misto de empresário, assessor governamental e até entrevistador de personalidades do mundo dos negócios para um programa “jornalístico” de uma emissora de rádio local. No currículo de “Lelinho”, entre tantos encargos, o de assessor, dos mais chegados, da ex-ministra da agricultura bolsonarista Tereza Cristina, o que pode explicar essa “redenção” de um grupo que esteve tão implicado com a polícia e com o judiciário. Ministra Tereza Cristina que, quando candidata a senadora se recusou a dar uma entrevista ao ContrapontoMS para se esquivar de uma pergunta sobre seu possível envolvimento com o grupo JBS, outro ainda mais encalacrado com a Justiça.

Nas redes sociais, a família Campina Verde anda “toda-toda” comemorando antecipadamente o sucesso de “Terra Vermelha” e, de quebra, a consolidação de seu mais vistoso empreendimento. De mamando a caducando, estão em fotos e mais fotos com os globais na paradisíaca fazenda. Até com o longevo Tony Ramos “devorando” uma leitoa assada, depois de uma pose para os anais da história com Lelinho. O mesmo Lelinho que aparece noutra selfie com o diretor Walcyr Carrasco na “capelinha” da fazenda onde a família deve ter esfolado os joelhos em cima de grãos de milhos em preces no turbulento período das vacas magras.  

Próxima novela da Globo desagrava grupo empresarial de Dourados envolvido em crime financeiro
Lelinho e Walcyr Carrasco, na “capelinha” da Fazenda annalu (foto: Facebook)

Como de praxe, Walcyr Carrasco faz suspense sobre a novela, mas sempre vazando uma ou outra informação. Como o autor baseia sua trama em filigranas de recordações de sua infância passada na casa de parentes nos tempos em que a terra vermelha assustava quem chegava a Dourados, talvez tenha buscado subsídios em livros como “Viajantes da Ilusão” da jornalista Goretti Dal Bosco, onde, entre tantas histórias “da terra”, ela narra de forma magistral a tragédia entre as famílias Palhano e Torraca em que dezenas de pessoas morreram por causa de um ovo de ema. E, para não cair na mesmice das novelas globais, queira Deus que ele tenha se inspirado nos “causos” do lendário Liberato Leite de Farias, retratados no livro “Até aqui o Laquicho vai bem”, do professor Wilson Valentin Biasotto, garantindo antecipadamente o sucesso do núcleo lúdico da novela.

Por fim, caso Walcyr queira fazer jus ao sobrenome – Carrasco –, carregando mais nas tintas quando for tratar de temas mais densos, como a violência e a corrupção, tão em voga nos últimos tempos na telinha da vênus platinada, talvez nem seja o caso de se recorrer aos já manjados atores “especialistas” em papéis de vilões, de tão fácil que está de achar esses tipos da vida real em seu entorno, na terra de seu Marcelino. Sim, “Atores” nativos para contracenarem, por exemplo, com Tony Ramos no papel de fazendeiro. Principalmente nesses tempos bolsonaristas. Afinal, são incontáveis os poderosos do agronegócio (de onde deve rolar o merchandising que vai alavancar a receita da produção) envolvidos em falcatruas e com contas a ajustar, ainda, com a Justiça. Também atrizes locais ad hoc, dessas que na vida real “não gostam de pobre”, para dar mais veracidade ao papel de uma das vilãs da novela, conforme trecho do script de “Terra Vermelha” vazado nas redes sociais.  

PS.: Um dia após a publicação deste texto o autor Walcyr Carrasco anunciou o nome definitivo da novela Terra e Paixão. Isto porque já existe um filme, rodado também em Dourados, com o nome de Terra Vermelha.

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