Alguns leitores me censuraram pelo termo considerado chulo com o qual atribuí um sentimento do prefeito Marçal Filho em duas situações distintas, num post de quinta-feira passada. Primeiro, ele “cagando” para ninguém menos que Maquiavel. Segundo — pelo óbvio da situação —, mais feio ainda, para os vereadores, que teriam saído de nariz torcido com ele de uma reunião em que, já que é pra “baixar” o nível, “tirou o dele da reta” e nomeou o secretário de Governo, João Alcântara, e o chefe de gabinete, Juarez de Oliveira, como responsáveis por atender às demandas do Jaguaribe.
“Eles estão ganhando muito bem para isso”, teria dito o prefeito, ante a estupefação — principalmente dos novatos, alguns deles sem saber não apenas onde enfiar a cara, mas, principalmente, as listinhas com os nomes da cupinchada para as tão sonhadas sinecuras municipais.
Mas o próprio Marçal Filho acabou quebrando o galho do jornalista desbocado no dia seguinte, com um termo também chulo — embora abreviado — ao se deparar com uma daquelas barbaridades rotineiras que contrastam com o tão pomposo cognome em inglês da cidade: Golden City. A minha querida — lá atrás empoeirada — e perfumada terra de seu Marcelino.

“Estou pê da vida, pê da vida mesmo”, repetiu o prefeito várias vezes em uma live, depois de se deparar, em seu périplo investigativo pelos bairros, com o “despacho” de restos de construção largados sobre a calçada, bem no centro da cidade.
Aliás, como essa não é uma função da Agetran e a Guarda Municipal perdeu o chance do flagrante, seria o caso de o prefeito ter emendado a galopeira, aproveitando a onda dos palavrões: “Chama o Mito, chama o Mito, porra!”. Não. Não seria o caso de chamar o ex-presidente Bolsonaro, mas, sim, o empresário murilista pioneiro no serviço de caçambas de recolhimento de entulhos na cidade.
Ora, “pê da vida” é só a forma carinhosa de se dizer que se está puto da vida. Que diferença faz, para quem já “cagou” para Maquiavel e, pelo jeito, vai continuar “cagando” para os vereadores?
Uma bobagem. Excesso de zelo dos puristas. Afinal, este é o português claro, direto — o que o povo entende. Exemplo maior: a cloaca que é a boca de Lula — pior ainda, a do seu antecessor, e que se ponha os pingos os is e as devidas aspas, o ex-“mito” e, ao que tudo indica, futuro presidiário, Bolsonaro. Ah como são interessantes as voltas que o mundo dá.

Uma pena, aliás, que tanta merda política jogada no ventilador não produza o mesmo efeito daquela “merda” pronunciada entre atores, quando um colega está prestes a subir ao palco: um desejo sincero de sucesso e aplausos à performance. Não. A merda da política fede mesmo — e aduba pouca coisa.
Agora, Marçal Filho que se prepare. Vai ter muitos motivos para se emputecer mais ainda, diante de tantas situações que vão exigir reforço nas luvas que ele anda usando para ajudar os garis a recolher o lixo por onde passa.
Se a denúncia feita num texto anterior — aqui mesmo — já mostrava o abuso de quem usa as calçadas como estacionamento particular, as fotos de hoje (24/03) escancaram algo mais grave: o surgimento dos “madeireiros urbanos”.
A menos que seja só coincidência: os cupins que “ameaçam” as árvores da cidade só aparecem em locais onde, como por milagre, nascem novos “empreendimentos”. Como o restaurante que vai funcionar na antiga loja da “granfinagem”, do Zito — José Jorge Leite Filho, todo-poderoso guru da ex-primeira-dama Cecilia Zauith. Ou uma loja de tintas recém-instalada no prédio da antiga padaria Xitus, onde, sob árvores frondosas, reunia-se a elite do empresariado local — além de políticos e jornalistas — tão aprazível era o local. Tudo no centro da cidade.

Além da balela do corte de árvores “ameaçadas” por cupins, Marçal Filho ainda deveria se emputecer com “cidadãos” folgados, como um morador da Rua Monte Alegre, subesquina da Hayel Bon Faker. Esse aí “cagou” até para o todo-poderoso Roberto Razuk que — num de seus rompantes, quando achou que podia “prefeitar” com a dona (Délia Razuk) — mandou um de seus homens acabar com a mordomia. Além de impedir a livre circulação de pedestres em sua calçada, inclusive no piso tátil parta deficientes visuais, plantando árvores fora do regramento urbanístico da cidade, também fez de uma área pública seu estacionamento particular. Interessante que vira e mexe a Agetran e a Guarda Municipal fazem ponto no local para suas blitezes e ninguém se atentou à infração.

Outra exemplo de aberração para emputecer não apenas o prefeito, mas qualquer cidadão com um mínimo de senso de civilidade, é a de uma rede de docerias cujo proprietário resolveu demarcar, com cavaletes e cones, a área de estacionamento em frente às suas lojas. Uma gambiarra que, se virar moda, vai bagunçar ainda mais o já escasso espaço de vagas para estacionamento na parte alta da cidade.
A propósito do verbo emputecer, usado pelo próprio Marçal Filho, seria interessante que a vereadora Isa Cavala Marcondes também tivesse uma recaída — e também se emputecesse com esse estado de coisas, já que até agora seus vinte colegas de bancada não se atentaram para este acinte de uma minoria que se acha dona da cidade.