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quinta-feira, maio 29, 2025

O dia em que o patriotismo performático quase virou pancadaria no plenário

Sessão que aprovou lei de enfrentamento ao assédio quase terminou em pancadaria, após o destempero do vereador patriota Sargento Prates, que confundiu plenário com palanque e a bandeira com colete ideológico

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Por pouco o debate sobre a segurança das mulheres em Dourados, na votação do projeto “A Rua é Pública, Meu Corpo Não!”, do vereador Franklin Schmalz (PT), não terminou em pancadaria na Câmara Municipal. E tudo por conta do destempero e da ignorância ideológica do vereador bolsonarista Sargento Prates, mais conhecido como Sargento Suco, que entrou em cena com sua já conhecida fantasia patriótica: enrolado na bandeira do Brasil, como se fosse o manto da razão absoluta.

A confusão começou quando Franklin leu em plenário uma nota do Coletivo Setorial de Mulheres do PT, criticando o post Lei contra o desejo? O modismo e a fantasia perigosa dos decretos salvadores, aqui publicado dias antes, que abordava, com ironia e contundência, o modismo legislativo de criar leis que transferem responsabilidades e ignoram a complexidade dos problemas reais — como o assédio sexual.

A nota dizia que a matéria do ContrapontoMS recaía “na velha armadilha da revitimização”, ao insinuar que a forma de se vestir das mulheres poderia ser um fator para o assédio. Franklin usou a carta como uma resposta política ao texto e como forma de reforçar a importância do projeto. Até aí, o debate seguia dentro da normalidade democrática.

Foi então que o Sargento Suco resolveu explodir no meio da sessão, partidarizando tudo e tentando, aos gritos, retirar da tribuna qualquer menção ao PT ou ao coletivo de mulheres. Alegou que, por ser uma manifestação petista, reconsideraria seu voto — mesmo tendo votado a favor da matéria na primeira votação.

Pediu vistas. Foi derrotado por 20 votos a 1. E voltou a perder o controle emocional.

Começou a atacar verbalmente os vereadores do PT, em especial Elias Ishy, e não poupou sequer a presidente da Câmara, Liandra Brambila (PSDB), dirigindo-lhe impropérios incompatíveis com a mínima liturgia de um parlamento. Entre berros e gestos exaltados, só faltou atirar a bandeira brasileira contra os colegas.

Isso tudo quando Inês já era morta. O projeto já havia sido aprovado.

A campanha permanente “A Rua é Pública, Meu Corpo Não!”, que agora agora vira lei, prevê ações de enfrentamento ao assédio e crimes contra a dignidade sexual em vias públicas, por meio de parcerias com escolas, instituições e sociedade civil. A motivação veio de dados alarmantes: Dourados ocupa o 5º lugar no Brasil em taxa proporcional de estupros, segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

Antes da votação, estudantes da UFGD usaram a tribuna livre para pedir mais segurança no entorno da Fadir, após o estupro de uma jovem de 18 anos cometido por um motociclista na região universitária.

Mas nada disso pareceu comover o vereador bolsonarista. Para ele, o problema não era a violência contra as mulheres — era a sigla PT na nota lida. Para ele, o projeto perdeu valor por ter recebido apoio de um coletivo que discordou deste site.

E foi assim que, num momento simbólico, o que deveria ser um debate de políticas públicas virou um show particular de patriotada performática, verborragia engarrafada e ataques infantis.

A boa notícia?
O plenário resistiu.
O projeto vai virar lei.

E o suco… bem, o suco ferveu, espirrou, sujou o regimento e expos o símbolo maior da Pátria a mais um grande vexame. Saiu derrotado o vereador que tenta resumir o Brasil a um pedaço de pano e a política a um isolado grito rouco. Porque nesse dia, ao contrário do que prega o bolsonarismo performático, não mais uma vitória da direita contra a esquerda, não foi o comunismo que venceu — foi o bom senso. E isso, pra quem vive de delírio ideológico, dói mais que perder votação por 20 a 1.

Leia também: http://Entre a nudez européia e a violência brasileira: o direito de viver — e de debater — sem hipocrisia

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