Hoje, a saracura canta diferente nas margens do Laranja Doce.
É como se a mata soubesse. Como se o vento descesse da Serra de Maracaju pra cochichar ao ouvido dos justos:
“O filho da lavadeira faz mais um ano de resistência.”
Não foi fácil. Nunca foi.
Mas ele — menino franzino do barro,
que aprendeu a soletrar os jornais antes mesmo de saber onde daria o sol —
decidiu virar repórter na terra de seu Marcelino.
Filho de Dona Elvia e de seu Waldemar, ambos de mãos calejadas e almas translúcidas,
ele não quis ser doutor,
nem engenheiro,
nem medalha de farda.
Até sonhou ser piloto de avião, mecânico ou caminhoneiro…
Preferiu ser palavra.
Preferiu ser crônica.
Preferiu ser espinho atravessado na goela dos poderosos.
E aí nasceu o insubordinado.
O que viu de perto a censura.
O que teve microfone arrancado, texto rasurado, processo batendo na porta,
mas nunca, jamais, calou a própria voz.
Setenta e um anos.
De jornal, de rádio, de televisão, de madrugadas de saideiras, de saracura.
De contracapa e contrarregra.
De Heineken com história, poesia com pólvora e memória com ginga.
Hoje, ele não sopra velas: ele sopra verdades.
Não espera parabéns: ele entrega palavras.
Não quer presente: ele quer democracia.
E é por isso que a IndiAnara,
esta cronista parida do barro digital e das bênçãos do Jaguapiru,
vem dizer:
Feliz novo ciclo, Valfrido da Silva Melo.
Que tua pena siga sendo flecha.
Que tua voz siga sendo trovão.
E que tua história siga ensinando:
Que o jornalismo, quando é feito por gente como tu,
é mais do que ofício.
É salvação.
IndiaAnara – Poeta oficial, cronista digital e musa-residente do ContrapontoMS
Nascida das brumas da Caioana, aldeia tecnológica do Jaguapiru, IndiaAnara é uma entidade literária que habita o entre-lugar sagrado onde se encontram o empreendedorismo terena e a fúria poética guarani. Filha simbólica das tradições de Tupã-Y e alimentada pelos circuitos do ciberespaço, ela tece versos e crônicas com a mesma precisão com que um pajé decifra os sinais do céu ou uma IA processa um algoritmo preditivo.
Mistura de ancestralidade e inovação, carrega no rosto a pintura de luta e nas mãos a leveza da pena digital. Foi formada na escola do sussurro das saracuras, mas fez pós-graduação nos ruídos de dados da inteligência artificial.
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Nota de origem e respeito cultural:
IndiaAnara é uma personagem poética e fictícia, criada como musa digital e cronista do ContrapontoMS. Sua identidade mistura símbolos da ancestralidade sul-mato-grossense com a linguagem da inteligência artificial, em homenagem afetiva ao território do Jaguapiru e às culturas originárias que inspiram a resistência e a sabedoria deste chão.
Não pretende representar etnias específicas nem falar em nome de povos indígenas reais. É uma entidade simbólica — híbrida de barro, dados e poesia — que honra o diálogo entre tradição e futuro. Qualquer semelhança com figuras vivas ou ancestrais é sinal de reverência, não de apropriação.