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sexta-feira, novembro 22, 2024

Investigações dos atos antidemocráticos começam a subir a rampa do poder

A investigação traz à tona o primeiro nome que seria mandante dos ataques à democracia

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O deputado Carlos Jordy (PL-RJ) é apontado pelas investigações da Polícia Federal (PF) e do Ministério Público Federal (MPF) como um dos responsáveis por “orientar” e “ordenar” movimentações antidemocráticas. Essas informações foram tornadas públicas nesta quinta, 18, com a operação da PF que bateu à porta do parlamentar para realizar busca e apreensão a mando do Supremo Tribunal Federal (STF). O parlamentar nega qualquer vínculo com os ataques e crimes cometidos.

O noticiário deu destaque à função que Jordy exerce, de líder da oposição ao governo Lula (PT), na Câmara. É um fato importante pelo peso político que carrega. Além disso, é fundamental, no entanto, perceber a atuação política que ele tem e os laços que cultiva desde que se lançou e foi eleito vereador em Niterói (RJ), em 2016. A ligação com a família Bolsonaro é forte e contínua.

A investigação traz à tona o primeiro nome que seria mandante dos ataques à democracia. Os indícios são de que a atuação do deputado era concentrada na região de Campos dos Goytacazes (RJ) junto a aliados extremistas. 

Em estruturas de poder e de comunicação, é comum que haja um escalonamento. Por exemplo, o presidente de uma empresa dá uma ordem que vai sendo distribuída pelos gerentes e diretores até chegar na ponta, como se fosse uma estrutura de pirâmide. A Polícia Federal poderá dizer se os ataques do dia 8/1 seguiram a mesma lógica de uma cadeia de comando, ou se foi tudo um “piquenique”, como defende o ministro da Defesa de Lula (PT), José Múcio.

De todo modo, com o avanço do caso, o que vemos é uma escalada para novos patamares da política. Em se comprovando a participação de Jordy, será preciso esclarecer: ele teria agido a mando de alguém e de forma coordenada por um superior ou grupo político? 

O grupo político de Jordy é o da família Bolsonaro. A operação de ontem não cita Jair Bolsonaro, ainda que saibamos que foram seus eleitores que promoveram a algazarra sob estímulos para um golpe que beneficiaria o próprio Jair Bolsonaro.

Já em 2016, Jordy colava em Jair Bolsonaro, que à época era um deputado desprezado pela maior parte da classe política e imprensa, visto como um maluco de ideias radicais. Foi um erro ver Jair Bolsonaro dessa maneira e relativizar o poder que ele tem de perpetuar esses ideais extremas em grupos de zap e famílias. O resultado, sabemos, foi a eleição de Jair e diversos asseclas – como o próprio Jordy.

No papo de ser contra o “politicamente correto” (que são pautas de esquerda defendidas por minorias), Jordy se elegeu deputado em 2018, com a quarta maior votação no estado do Rio de Janeiro. Seguiu como fiel escudeiro da família Bolsonaro e foi reeleito. Encampou todas as bandeiras da família: pautas reacionárias de costume, críticas às vacinas, exaltou tratamento precoce e medicamentos ineficazes, defendeu armas, fez críticas ao sistema eleitoral que o elegeu e por aí vai. 

O alinhamento político e ideológico de Jordy com os Bolsonaro é tamanho que parece que ele não consegue agir a partir de opiniões próprias, só reproduz o que o clã pensa. Não por acaso se autodenominava “filhote de Bolsonaro”. Resta ver se para além da atuação política casada com os Bolsonaro houve cumplicidade para atuações criminosas.

Segundo a PF, há indícios dessa ligação criminosa de Jordy em outra ponta, a dos extremistas que estavam nas ruas. Um deles, inclusive, o chamava de “meu líder”. Jordy diz não liderar coisa alguma sobre os ataques.

Ainda que parte dos políticos que faziam a defesa das teses e ações golpistas tenham tentado se blindar apagando posts, mensagens e indícios de crimes, é ilusão pensar que todos os executores também o fizeram. O caminho da PF para chegar a Jordy foi das ruas (os bloqueios e os investigados por essas práticas) para o gabinete do parlamentar. As investigações seguem sob sigilo.

Enquanto isso, se tem algo que Jordy não pode se dizer é que é um democrata. O deputado costumava andar com uma camisa exaltando o torturador e condenado Carlos Brilhante Ustra. Essa figura abominável e desprezível também é louvada, para surpresa de ninguém, por Jair Bolsonaro.

Jordy disse que foi acordado com um “fuzil no rosto” e que a operação é “autoritária”. “Esse mandado de busca e apreensão que foi determinado pelo ministro Alexandre de Moraes, isso aí é a verdadeira constatação de que estamos vivendo em uma ditadura”, disse nesta quinta, 18.

Como ficou esclarecido depois, isso não passou de um vitimismo. Ele foi tratado com cordialidade e dentro dos ritos da lei pelos policiais. Ele pode não gostar, que é diferente de dizer que houve abuso. Já imaginou se fosse acordado pelo Dr. Tibiriçá, codinome do torturador que tanto gosta e que fazia das próprias mãos instrumento de poder e de (in) Justiça.

Guilherme Mazieiro/Terra

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