Em 1989, já empresário bem-sucedido, Silvio Santos resolveu transitar na seara política e se candidatou ao cargo de presidente do Brasil. O apresentador morreu neste sábado, aos 93 anos.
Ele anunciou a candidatura em um de seus programas, e a repercussão foi gigantesca – naquele momento, Silvio seria, talvez, o nome mais conhecido da televisão brasileira, com ampla penetração entre as classes menos privilegiadas. Em pouco tempo, pesquisas pré-eleitorais garantiram ao empresário 29% das intenções de voto no país.
Inusitada, a candidatura acontecera depois que o Partido da Frente Liberal (PFL), um dos maiores do país na época, não conseguiu impulsionar nenhum de seus representantes durante a campanha, mal ultrapassando 5% nas pesquisas. Faltando um mês para o primeiro turno, setores da legenda decidiram lançar o apresentador como candidato.
O sucesso repentino foi acompanhado de certa tensão política. A 12 dias da eleição, Silvio não tinha qualquer programa para seu possível mandato, conforme ele mesmo disse , en entrevista ao jornal O Globo, em 3 de novembro de 1989. Na ocasião, o empresário afirmou ainda que, caso fosse eleito, teria a ajuda de economistas, políticos e técnicos de sua equipe e continuaria a manter seu padrão de vida:
— Pretendo ter uma boa assessoria para que eu possa manter meus hábitos. Dormir oito horas por dia, viajar uma vez por ano a Miami e descansar uma vez por semana.
Silvio era filiado ao PFL desde o ano anterior, mas concorreria pelo Partido Municipalista Brasileiro (PMB), hoje extinto.
A candidatura de Silvio, no entanto, não pôde ir adiante: foi impugnada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O motivo alegado era que o PMB não havia cumprido as exigências legais para concorrer ao pleito. Outro ponto importante é que o apresentador detinha o poder de mando na emissora SBT. De acordo com a lei, eram inelegíveis aqueles que tivessem exercido nos seis meses anteriores ao pleito cargo ou função de direção, administração ou representação em empresas concessionárias ou permissionárias de serviço público ou sujeitas a seu controle.
Entre a aventura política e os negócios, Silvio Santos preferiu ficar com o terreno que já era bem familiar a ele. Retirou a candidatura e nunca mais falou seriamente a respeito.
Se tudo saísse como ele e o partido pretendiam, Silvio teria como concorrentes, naquela que seria a primeira eleição direta para presidente depois da ditadura militar, nomes como Fernando Collor de Mello (PRN), vencedor do pleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Paulo Maluf (PDS) e Leonel Brizola (PDT).
O Globo