Depois de um primeiro turno em que dez prefeitos conseguiram se reeleger, 15 capitais vão hoje às urnas com chances de confirmar a tendência de continuidade nas eleições deste ano. Os seis incumbentes que ainda estão no páreo chegam como favoritos e podem fazer o processo eleitoral ter o segundo maior percentual de reeleitos da História. O recorde ainda será de 2008, quando 95% dos comandantes de capitais conseguiram o beneplácito dos eleitores para um segundo mandato. Agora, caso os seis saiam vitoriosos, o índice chegaria a 80%, acima de todas as outras disputas desde 2000.
Entre os prefeitos que esperam das urnas a recondução está o de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), que disputa contra um Guilherme Boulos (PSOL) afetado pela alta rejeição na maior cidade do país. Depois do primeiro turno belicoso, pautado por Pablo Marçal (PRTB), o segundo foi morno. O apagão que deixou milhões de paulistanos sem energia elétrica movimentou um pouco a campanha e as pesquisas, mas Nunes ainda chega ao dia do pleito em vantagem.
Eleito vice-prefeito na chapa de Bruno Covas (PSDB) — também contra Boulos —, o emedebista assumiu o cargo com a morte do prefeito, vítima de câncer, e simboliza hoje a força intrínseca a quem conta com a máquina para se reeleger. Quando se tem a caneta, perder é exceção.
Outros prefeitos de capitais de peso, como Fuad Noman (PSD), em Belo Horizonte, e Sebastião Melo (MDB), em Porto Alegre, também despontam com favoritismo para conseguir um segundo mandato. A possibilidade de reeleição se repete em Manaus, João Pessoa e Campo Grande, embora a candidata do União Brasil, Rose Modesto, tenha tido uma melhora considerável na reta de chegada.
— A chamada vantagem do incumbente tem um peso. Prefeitos começam a campanha antes, têm um arco de alianças maior, mais tempo de TV e rádio. Além disso, a economia está relativamente estável, e não foi o que chamamos de uma eleição crítica — avalia o cientista político e sociólogo Antonio Lavareda.
Em várias capitais, o segundo turno marca um embate entre dois candidatos de direita, com fissuras no bolsonarismo. Das cidades mais populosas, destacam-se nesse aspecto Goiânia e Curitiba. No maior município do Centro-Oeste brasileiro, o apoiado pelo governador Ronaldo Caiado (União), Sandro Mabel, bate de frente com o apadrinhado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Fred Rodrigues. Trata-se de um bom termômetro das brigas internas da direita rumo a 2026 — Caiado tenta se viabilizar para a eleição presidencial, mas tem em Bolsonaro uma barreira para lá de recalcitrante.
Já na capital paranaense, o inimigo de parte do bolsonarismo virou o PSD. Só que isso provocou uma anomalia política: o partido de Bolsonaro tem o vice da chapa de Eduardo Pimentel, mas o ex-presidente abraçou em cima da hora a jornalista Cristina Graeml, do nanico PMB. Por lá, as pesquisas mostram um embate acirrado, com leve favoritismo de Pimentel.
Para a esquerda, o segundo turno virou os acréscimos de uma partida que vem perdendo de goleada, a esperança de marcar uma espécie de gol de honra. Se o resultado geral das eleições não é favorável ao campo político do presidente Lula, este domingo pode terminar em vitória do PT na maior cidade do Nordeste, Fortaleza, com Evandro Leitão. Ele enfrenta o jovem bolsonarista André Fernandes (PL), cuja campanha contou com um uso bem-sucedido das redes sociais — foi o campeão de engajamento diário no segundo turno em todo o país, segundo estudo da FGV Comunicação — e pouquíssima associação a Bolsonaro.
Até na bolsonarista Cuiabá, com Lúdio Cabral, o partido de Lula se mantém confiante. Ao contrário do que se viu em Fortaleza, no entanto, o candidato petista na capital de Mato Grosso precisou fazer gestos ao conservadorismo. Assim, continuou no páreo.
Em Natal e Porto Alegre, o partido até está vivo no segundo turno, mas as chances de virada são bem mais remotas. O mesmo diagnóstico negativo para o PT se repete na maior parte das cidades fora das capitais que também irão às urnas.
Consolidando-se a lógica de uma eleição de continuidade, o balanço é ruim para a esquerda. Afinal, os partidos progressistas fizeram poucas prefeituras há quatro anos, e, com alta taxa de reeleição, o processo eleitoral favorece grupos políticos que já estão no poder desde então.
Caio Sartori/O Globo