Após a publicação do texto “Marçal Filho e o espelho do sucesso para evitar encrencas“, em que descrevi o roteiro que o futuro prefeito deveria seguir na escolha de seu secretariado, recebi uma mensagem via WhatsApp de um dos mais aguerridos apoiadores de sua última campanha. Encafifado, ele queria saber como eu havia conseguido conversar com o dito-cujo, engrossando o coro daqueles que, depois da campanha, estão ansiosos para ouvir o tão famoso “alô você” – agora em tom de chamamento para contribuir com a administração. Aproveitando a ocasião, contou uma historinha interessante, que só comprova as peculiaridades destes tempos em que os algoritmos ditam o ritmo de nossos pensamentos.
Segundo o enciumado apoiador tucano, em conversa com Marçal Filho antes das eleições, o então candidato lhe teria garantido que seguiria o exemplo de José Elias Moreira, não só como gestor, mas já começando pelos critérios de escolha do secretariado. A gestão de Zé Elias é, até hoje, tida como o maior exemplo de competência em Dourados, graças à assertiva na escolha do secretariado, enfrentando os coronéis políticos da época e indiferente às críticas da imprensa. Aliás, vale abrir um parêntese: Zé Elias, no início de sua gestão, não apanhava da imprensa “insubordinada”, mas de seus próprios aliados – entre eles, ninguém menos que Jorge Antônio Salomão, o radialista que foi o mestre de Marçal Filho na arte de desancar o poder público. E, assim como Marçal agora, e pelas mesmas razões, lá atrás Salomão também se elegeu prefeito.
Depois de toda essa prosopopéia, com a devida vênia aos colegas de ofício e aos corneteiros de plantão, pela inversão de fatores que esses novos tempos permitem não apenas pelos algoritmos, mas também pelos links que facilitam a vida do redator ao conectar cada ponto ao lead – a abertura do texto. Isso tudo, para enfatizar o que o futuro prefeito precisa fazer para não errar escolha do secretariado, com isso podendo ter tanto ou mais sucesso como administrador do que como fenômeno do rádio para, aí, sim, encarar o verdadeiro desafio como sugere o título deste texto.
Não se trata apenas de entregar as obras e os serviços prometidos. Até porque nisso terá tido uma ajuda providencial de Alan Guedes, aquele que tanto criticou, mas de quem não receberá uma herança tão maldita como a deixada quatro anos atrás, por Délia Razuk. Mais importante que isso, a promessa de retomar o protagonismo político de Dourados no cenário estadual. Promessa essa feita já como prefeito eleito, ao sair de seu casulo, depois da contagem dos votos, com o testemunho da emblemática arara-azul no paredão do prédio de sua emissora de rádio.
Como uma coisa puxa a outra, tudo começa, inevitavelmente, pela montagem de um secretariado competente (conforme detalhado no link da primeira linha), o que lhe permitirá circular com desenvoltura e driblar as raposas políticas do estado. Dribles que exigem habilidade para escapar tanto das artimanhas dessas raposas quanto da pressão dos velhos coronéis da política – desafios que já começam na própria composição do secretariado.
Para tanto, Marçal Filho precisará cerrar os dentes e mostrar o que essas mesmas raposas e coronéis sempre desconfiaram – e temeram: que ele é capaz de se tornar uma grande liderança política. Mas como consolidar essa liderança, quase como num passe de mágica, após tantos anos de atuação como coadjuvante?
A resposta está no equilíbrio. Ele deve evitar a ousadia desmedida de Braz Melo e Ari Artuzi, que tinham tudo para alcançar essa posição, mas acabaram sucumbindo: um por apostar em forças sobrenaturais e outro por não saber conciliar a condição de fenômeno eleitoral com a de articulador político. Mais importante ainda, Marçal não pode pensar pequeno, como alguns de seus aliados paroquianos, como Murilo Zauith, o maior exemplo de pusilanimidade (vou detalhar isso num próximo texto) na política estadual. Mesmo tendo mais oportunidades que Braz ou Artuzi, o poderoso dono da Unigran falhou muito mais pela frieza do que pela soberba, fugindo aos enfrentamentos e se apequenando por colocar sempre seus interesses empresariais acima das questões de estado, de sua responsabilidade, quando delegadas pelos eleitores.