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segunda-feira, março 17, 2025

Em manifestação no Rio, Bolsonaro diz que não vai sair do Brasil e que será um problema preso ou morto

Ex-presidente reúne apoiadores no RJ, chama denúncia da PGR de "historinha de golpe" e pede anistia a envolvidos no 8/1

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O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou a apoiadores neste domingo (16) que não vai sair do Brasil e que será um problema “preso ou morto”. Declarou também que deixa outras lideranças na direita e pediu: “se alguma covardia acontecer comigo, continuem lutando”.

As declarações foram feitas em ato em Copacabana, no Rio de Janeiro, convocado sob o mote de anistia aos envolvidos nos ataques golpistas de 8 de janeiro de 2023. O ato no caminhão de som, com discursos de lideranças, congressistas e dois governadores, durou cerca de duas horas.

Bolsonaro chegou a falar na expectativa de 1 milhão de pessoas, mas a mobilização ocupou pouco mais de três quarteirões. Uma estimativa do Monitor do Debate Político no Meio Digital em parceria com a ONG More in Common apontou 18,3 mil presentes. A medição foi realizada por meio fotos tiradas por drones e sistemas de inteligência artificial (IA). O mesmo levantamento citou a presença de 64,6 mil pessoas em Copacabana no ato bolsonarista de 7 de setembro de 2022.

O evento teve a presença do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), cotado para representar o bolsonarismo na eleição de 2026. Ele criticou o governo Lula (PT) e ironizou as punições pelo 8 de janeiro. “O que fizeram? Passaram batom?”, perguntou, em referência a mulher presa após ser flagrada vandalizando com batom estátua diante do STF.

Em seu discurso, por sua vez, Bolsonaro criticou as investigações sobre a trama golpista de 2022, pela qual ele foi denunciado ao STF (Supremo Tribunal Federal). “Só não foi perfeita esta historinha de golpe para eles porque eu estava no Estados Unidos [no 8 de janeiro]. Se eu estivesse aqui, estaria preso até hoje ou quem sabe morto por eles. Eu vou ser um problema para eles, preso ou morto”, discursou ele.

O ex-presidente também sugeriu que sua campanha na disputa de 2022 foi prejudicada por ações de Alexandre de Moraes, presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) na época. “Não podia colocar imagem do Lula com ditadores do mundo todo. O outro lado podia fazer tudo. Me chamavam de misógino, de fascista, até de assassino da Marielle Franco”, disse ele.

Acrescentou que o pleito de 2026 “será conduzido com isenção” e que “eleições sem Bolsonaro é negar democracia no Brasil”. Na disputa do ano que vem, o ministro Kassio Nunes Marques, indicado para o STF por Bolsonaro, será o novo presidente do TSE.

Inelegível, o ex-presidente chegou a sugerir que tinha nomes do seu grupo político para a presidência, ao contrário “do lado de lá”. “Meu ciclo vai se esgotar um dia. Mas nós estamos deixando muitas pessoas capazes de me substituir no futuro. O lado de lá não tem nenhuma liderança”, afirmou ele. Mas, em seguida, repetiu que estaria disposto a concorrer. “Eleições sem Bolsonaro é negar a democracia no Brasil. Se eu sou tão ruim assim, me derrote”, afirmou ele.

Bolsonaro também criticou o atual governo e ouviu gritos de “Lula ladrão” do público. “Se tirar das mãos do PT a falsa bandeira em defesa da democracia, o PT não existe. Não tem o que apresentar para vocês. Nem para alimentar o pobre. Nem isso tem mais”, continuou o ex-presidente.

Durante discurso, Bolsonaro também voltou a sugerir que sua inelegibilidade poderia ser revertida, minimizando e distorcendo os motivos das suas condenações. “Afinal de contas, me tornaram inelegível por quê? Pegaram dinheiro na minha cueca? Alguma caixa de dinheiro no meu apartamento? Algum desfalque em estatal? Porque me reuni com embaixadores. A outra [condenação] porque subi no carro de som do Silas Malafaia”, disse ele.

Em junho de 2023, o TSE tornou Bolsonaro inelegível por 8 anos por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação em reunião com embaixadores estrangeiros, em 2022, na qual o então presidente fez afirmações falsas sobre o processo eleitoral. Em outubro do mesmo ano, ele foi condenado novamente pelo TSE, pelo uso eleitoral do 7 de setembro.

“O que eles querem? É uma condenação. Se é 17 anos de prisão para as pessoas humildes, é para justificar 28 anos para mim”, continuou o ex-presidente neste domingo, acrescentando que “se alguma covardia acontecer comigo continuem lutando”.

O foco da manifestação foi pressionar o Congresso Nacional a votar o projeto de lei de anistia aos acusados do 8 de janeiro de 2023, quando um grupo de apoiadores do ex-presidente invadiu e depredou as sedes dos três Poderes, em Brasília, apenas dias após o início do governo Lula 3.

O ataque de teor golpista gerou denúncias no STF contra 1.682 envolvidos. Até início deste ano, 375 réus já tinham sido condenados, com penas que variam de um ano de detenção, substituído por medidas alternativas, a 17 de prisão.

“Hoje vamos falar sobre a vida de inocentes. Sobre a vida de pessoas que estão sendo injustiçadas. Eu jamais esperava estar lutando um dia por anistia de pessoas de bem, de pessoas que não cometeram nenhum ato de maldade, que não tinham intenção e nem poder para fazer aquilo de que estão sendo acusadas”, afirmou ele, ao defender a anistia.

Recentemente alvo de críticas por uma fala misógina, Bolsonaro também mencionou que “qualquer coisa contra uma mulher é uma polêmica enorme no Brasil” e citou nomes de mulheres com mais de 60 anos que estariam condenadas a mais de dez anos de prisão pelo 8 de janeiro. “Essas senhoras têm força para quebrar alguma coisa?”, acrescentou ele.

Com o ato deste domingo, Bolsonaro também tenta manter capital político para fortalecer sua defesa no STF. O ex-presidente convocou seus apoiadores para o ato no Rio às vésperas do oferecimento da denúncia contra ele pela PGR (Procuradoria-Geral da República), que o acusou em 18 de fevereiro de ter liderado uma trama golpista para impedir a posse do presidente Lula, vitorioso nas urnas de 2022. Além de Bolsonaro, a PGR denunciou outras 33 pessoas ao STF.

A denúncia começa a ser analisada pela Primeira Turma do STF em dia 25 de março. Nesta data, os ministros iniciam o debate sobre se os 34 acusados devem se tornar réus.

A PGR diz que o ex-presidente editou uma minuta golpista, buscou apoio dos chefes das Forças Armadas à conspiração, anuiu com um plano para matar o ministro do STF Alexandre de Moraes e foi um dos responsáveis pelos ataques às sedes dos três Poderes em 8 de janeiro de 2023.

Ele foi denunciado pelos crimes de tentativa de abolição violenta do Estado democrático de Direito e de golpe de Estado, de dano qualificado pela violência e grave ameaça contra patrimônio da União, deterioração de patrimônio tombado e participação em uma organização criminosa.

Na hipótese de Bolsonaro virar réu e ser condenado pelo STF ao final do processo, ele pode pegar mais de 40 anos de prisão e aumentar sua inelegibilidade, que hoje vai até 2030.

Folha de S.Paulo

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