O telefonema entre Lula cá e Trump lá durou apenas meia hora, mas já valeu por um tratado de paz depois da guerra tarifária aberta pelo novo presidente dos EUA. Trump, sempre espalhafatoso, disse que a conversa foi “muito boa” e que Brasil e Estados Unidos “vão se sair muito bem juntos”. Traduzindo: ele quer aliviar a barra após ter metido uma sobretaxa de 40% nos produtos brasileiros, gesto que Lula não deixou barato.
Do lado brasileiro, a pauta foi clara: Lula pediu o fim da sobretaxa, lembrou a importância da soberania nacional e aproveitou para reforçar convites — de participar da cúpula climática em Belém ao eventual encontro em Washington. Do lado americano, ficou a promessa vaga de “novos encontros” e “parcerias”. Ou seja, palavras ao vento, enquanto o agronegócio daqui continua fazendo contas e a diplomacia brasileira testa seus limites entre pragmatismo e resistência.
A imprensa internacional fala em “descongelamento diplomático”. Faz sentido. Afinal, estávamos diante de uma crise de manual: tarifas punitivas, declarações hostis, mercado apreensivo e clima de quase-guerra comercial. Bastou uma ligação de Lula para que Trump ensaiasse o recuo retórico.
Mas há algo além das aparências. O presidente brasileiro saiu do telefonema com o discurso firme de quem não aceita interferência externa. E mais: colocou Trump diante do dilema de ser lembrado como o líder que tentou asfixiar o Brasil na marra ou o que recuou a tempo de não perder um parceiro estratégico nos BRICS.
Para o leitor douradense, fica a tradução direta: enquanto aqui se discute se Azambuja já garantiu cadeira cativa no Senado, no tabuleiro global Lula joga xadrez com Trump, tarifa contra tarifa, convite contra convite. E nessa dança, cada telefonema pode valer mais que uma eleição.