32.5 C
Dourados
sexta-feira, abril 26, 2024

A eterna briga pela paternidade da UEMS

- Publicidade -

Ninguém me falou, sou testemunha ocular deste inusitado e emblemático capítulo da história da terra de seu Marcelino. A câmara municipal de Dourados funcionava num sobrado acanhado, em nossa principal artéria, bem em frente à antiga Distribuidora Mato-grossense, empresa editora da Folha de Dourados, próximo à praça Antônio João. Para chegar ao plenário, tão apertado que dependendo da lotação os convidados precisavam entrar ou sair de lado; cadeiras desconfortáveis, de madeira e com pernas bambas, com um ladrilho daqueles que brilhavam nos dias de sessões à custa de muito muque de servidores supervisionados por Maria Eustáquia Pereira, sob a direção de Sidney Gomes. Pois foi nesse ladrilho o desfecho do inusitado evento. Não, não é nada disso que vocês estão pensando. Apenas o desfecho de um discurso que passaria à história.

O autor da façanha, o maior idealista da política douradense. O vereador udenista Celso Muller do Amaral. Ele já havia brigado pela mesma causa como deputado estadual, lá, ainda, na velha capital Cuiabá. Estávamos ainda no limiar de um novo século – antes, para os futuros mato-grossenses do Sul – e da divisão do estado do Mato Grosso. A briga por boas escolas, em todos os níveis, era a bandeira de Celso Amaral. Trazendo na bagagem copias de requerimentos, projetos e leis comprovando sua luta e de sua família pela educação, saltou à frente, como vereador, quando surgiu a ideia, a princípio absurda (pelas condições que a sede da Universidade Estadual [UEMT] oferecia em Campo Grande) de uma faculdade de agronomia em Dourados. Ante confronto inevitável com a futura capital, o disparo, da tribuna do Jaguaribe:

– Por esta causa dou meu sangue, minha vida e até meus dentes – disparou Celso Amaral, deixando a tribuna e saindo agachado e escorregando pelo ladrilho recém-encerado do plenário por onde deslizara a dentadura que havia saltado de sua boca tanta fora a veemência de seu discurso. O episódio mereceu um sobre título – “Dentadura voadora” – para uma manchete de página da Folha de Londrina, num texto por mim redigido, como correspondente em Dourados do jornal paranaense.

Por que a repetição dessa história a essa altura do campeonato? Diria que a razão disso talvez seja o período de solipsismo (não é só blogueiro que sofre desse mal) pós-poder de mamãe Délia do decaído ex-deputado Roberto Razuk. Reflexo, certamente, do zum-zum-zum de que vem aí um livro de memórias do ex-deputado Walter Carneiro que, como já sabido, foi quem introduziu na Constituição do Mato Grosso do Sul a instalação da sede da Universidade Estadual em Dourados, já que a antiga UEMT, com sede em Campo Grande, havia sido federalizada no vácuo da criação do novo Estado.

Por esta causa dou meu sangue, minha vida e até meus dentes

Vereador Celso Muller o Amaral

Roberto Razuk sempre pousou com “pai da UEMS”. Tanto que agora, ante a perenização dessa história em livro, por Walter Carneiro, apressou-se por convocar o radialista Antônio Carlos Ruiz, apresentador de um quadro de entrevistas do Dourados News para, em meio às chorumelas de sempre de sua conturbada história, embutir a parte em que se apresenta como autor de uma emenda constitucional quando da adaptação da Constituição Estadual à nova Constituição da República, isso depois, já nos anos 1980.

Como não é de meter a mão em cumbuca, até por sua condição de poeta, Antônio Carlos Ruiz deu, salomonicamente, já na entrevista seguinte, aquilo que seria um direito de resposta a Walter Carneiro. Até porque tinha um baita gancho: o lançamento do livro com a biografia do ex-deputado cuiabano, e sua passagem pela Assembleia Legislativa, inclusive quando dela foi seu presidente. Aproveitou, claro, educadamente, sem tocar no nome de Razuk, para colocar os pingos nos is. E certamente que essa história vai merecer destaque no livro, já que o ghost-writer de Carneiro, Edson Moraes, acompanhou de perto toda essa trajetória.

A eterna briga pela paternidade da UEMS
Reunião histórica, em que o ex-governador Garcia Neto decidiu instalar a faculdade de Agronomia em Dourados

Mas, que seja Carneiro ou Razuk. Antes um pouco, precisou o então governador cuiabano Garcia Neto dar um histórico murro na mesa, no gabinete do então prefeito José Elias Moreira, ameaçando demitir o então Reitor João Pereira da Rosa, que era contra, para que o tão sonhado curso de Agronomia viesse para Dourados. Agronomia que, uma vez instalada, acabaria sendo o embrião não apenas da Universidade Estadual como da UFGD. E tudo porque lá atrás o deputado Celso Amaral levantou essas bandeiras, empunhadas também pelo então governador do Mato Grosso, Pedro Pedrossian. Portanto, se o governador Garcia Neto é o verdadeiro pai da Agronomia, o governador Pedro Pedrossian é o pai de tudo, UEMT, UEMS, UFGD, enfim, por sua visão do macro da história, como grande líder obreiro e gênio da política, enfim, um estadista.  

- Publicidade -
- Publicidade -
- Publicidade -

Últimas Notícias

Últimas Notícias

- Publicidade-