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quinta-feira, abril 18, 2024

Antes de Bolsonaro, única candidatura do PL teve embate com Collor e Guedes de ‘guru’

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O estilo bastante formal do candidato pouco lembra a verborragia de Jair Bolsonaro. O partido e o porta-voz do programa econômico, porém, são os mesmos. Um de seus principais adversários também. Trinta e três anos depois, o PL (Partido Liberal) voltará a ter em 2022 uma candidatura própria à Presidência da República.

A única vez que isso tinha ocorrido foi em 1989, na primeira eleição da redemocratização, com o paulista Guilherme Afif Domingos, então deputado constituinte, na cabeça de chapa.

Por grande coincidência, o principal nome da candidatura no campo econômico será novamente Paulo Guedes, à época um jovem economista e dirigente do IBMec (Instituto Brasileiro do Mercado de Capitais), hoje ministro da Economia de Bolsonaro.

Afif atualmente é integrante da equipe econômica, como assessor especial do ministro. Hoje é filiado ao PSD.

À época, chegou a frequentar o rol dos candidatos favoritos, diante de um cenário bastante embolado na corrida eleitoral. Concorreu com um forte apelo à classe média e um discurso de renovação política, embalado pelo jingle com o bordão “Juntos, chegaremos lá”, que marcou época na televisão.

“Quanto maior o estado, mais empregos [políticos] vão ter para seus protegidos”, dizia em seu horário eleitoral na TV.

A condição de nome em ascensão motivou uma sequência de ataques, por exemplo, de Fernando Collor (então no PRN), líder nas pesquisas, e de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que também será candidato na eleição presidencial agora, tal como 33 anos atrás.

Um dos trunfos do candidato, na época com 46 anos, era a bandeira da modernização na economia, tema extremamente relevante em um período pré-plano Real, com o país imerso em uma hiperinflação persistente e em meio à chamada “década perdida”.

O postulante criticava a “estatocracia” e prometia “menos governo e mais empresas” e foco no pequeno empreendedor.

Guedes aparecia nos jornais com planos que até soam familiares ao eleitor hoje, como reforma administrativa, privatização e controle de gastos.

Não que Afif precisasse de um economista fiador para sua campanha, papel que o atual ministro da Economia acabaria exercendo com Bolsonaro em 2018. Com trajetória de atuação em entidades empresariais, tinha já bastante simpatia nesse meio.

O jornal O Globo registrou que, em debate com economistas dos candidatos na Firjan (federação das indústrias do Rio), as propostas de Guedes foram as que mais agradaram à plateia e anotou que “a espirituosidade” dele arrancou aplausos dos espectadores.

Em outro texto publicado na época, o economista sugeria uma nova moeda para o país, chamada de “Brasilis”, com a sigla BR$. Seria a maior experiência do atual ministro na política até a eleição de Bolsonaro.

Afif, hoje, diz que defendia já naquela época no programa de combate à inflação um “colchão social” nos moldes do atual auxílio emergencial.

“Nós nos conhecemos porque eu fui o primeiro candidato que vinha com uma bandeira liberal, por um partido liberal. Então, você atrai. Nos encontramos por intermédio de amigos, tinha uma turma que se entusiasmou com a minha campanha. Procuravam aqueles com que se identificavam”, relembra Afif.

Em discursos, o então presidenciável prometia um governo de apenas 13 ministérios. Acordos voluntários de trabalho, extinção de autarquias, Banco Central independente e revisão de incentivos fiscais eram alguns dos itens incluídos em seu programa.

Com a vitória de Bolsonaro e o convite de Guedes para ingressar no governo, foi possível colocar algo dos planos de três décadas atrás em prática?

“Você tenta, né… Muita coisa está acontecendo, principalmente no campo que eu defendo. Nunca se teve um sistema de crédito tão forte para a pequena empresa como agora”, diz o ex-presidenciável.

Na eleição de 1989, Afif saiu do 1% nas pesquisas da pré-campanha para marcar 8% no Datafolha já durante o horário eleitoral na TV, patamar expressivo em uma disputa muito acirrada.

Vinha com o status de um dos deputados mais votados do país em 1986. Obteve apoio de dissidentes de outros partidos, como Jorge Bornhausen, do PFL, e de dezenas de colegas parlamentares.

O PL, que conquistara o registro eleitoral apenas em 1988 a partir de uma cisão do PFL, ainda possuía poucos deputados e não tinha a atual tendência de proximidade com evangélicos.

“Eu era um outsider. Não tinha pedido a bênção a nenhum cacique [partidário]”, diz.

De olho no eleitorado mais à direita, Collor encerrava seu espaço na televisão com ataques, questionando posições de Afif na Assembleia Constituinte, como a contestação ao voto de jovens de 16 anos.

A iniciativa era vista como uma estratégia de atacar o conservadorismo de um adversário para ser visto como mais progressista. O candidato do PL rebatia com insinuações sobre o financiamento do rival e acusações de “molecagem”.

Como foi comum naquele ano, a rivalidade se converteu em confusão entre militantes nas ruas. No interior de Minas, seus apoiadores causaram tumulto em comício de Collor, segundo relatou a Folha na época.

“A mídia apostava nos grandes partidos, na máquina fabulosa do PMDB, Ulysses Guimarães, no PFL. Eu apostava que o novo iria vingar naquela eleição. As máquinas partidárias tradicionais eram ‘fora da especificação’ do mercado consumidor: o povo queria novidade”, recorda Afif.

O fôlego da candidatura, porém, foi se perdendo na reta final. Collor consolidou a liderança, e a outra vaga no segundo turno foi decidida quase voto a voto na esquerda, entre Lula e Leonel Brizola, do PDT. Afif ficou apenas na sexta posição, com menos de 5% dos votos válidos.

O ex-governador de Alagoas acabaria eleito em segundo turno contra Lula. Hoje, é senador pelo Pros de Alagoas e apoiador do atual presidente.

Bolsonaro, naqueles tempos, ainda era um vereador novato no Rio de Janeiro —coincidentemente pelo partido PDC, que estava coligado com o PL.

A carreira do ex-presidenciável não voltaria mais a ter tamanho destaque. Afastou-se da política após perder uma eleição para o Senado em São Paulo e só voltaria a ser eleito novamente para um cargo público em 2010, pelo DEM, como vice de Geraldo Alckmin no Governo de São Paulo, então no PSDB.

Ainda naquele mandato, se aproximou da então presidente Dilma Rousseff (PT) e se tornou ministro da pasta da Micro e Pequena Empresa. Hoje, descarta ter participação na campanha de Bolsonaro.

O PL, que se chamou PR de 2006 a 2019, chegou a lançar à Presidência em 1994 o então deputado Flávio Rocha, que desistiu ainda no início da campanha.

Só teve papel relevante em uma eleição presidencial em 2002, quando indicou o vice na vitoriosa chapa de Lula, com José Alencar, já sob as ordens de Valdemar Costa Neto, atual chefe da legenda. (Felipe Bächtold/Folha de S. Paulo).

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