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quarta-feira, abril 24, 2024

Geraldo Resende: “Dourados precisa parar de fazer política fraticida”

Ex-secretário de saúde do estado cobra coerência da classe política de Dourados, diz acreditar na eleição de Eduardo Riedel para o governo, e faz um alerta ao prefeito Alan Guedes

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O ex-secretário de saúde do estado Geraldo Resende já se prepara para mais uma campanha rumo à Câmara Federal. Incansável, não se deixa abater pelos dois últimos reveses eleitorais; não por isso abandonando o “tratorzinho” que era sua marca como o deputado que mais conseguiu trazer recursos para a região, mas, pelo trabalho que conseguiu realizar como secretário durante a pandemia da Covid, dando uma pista de sua próxima logomarca: “talvez o ‘Geraldinho’, caracterizado por um médico com uma seringa na mão, uma em alusão à logística que construímos para sermos referência nacional em imunização”.

Sobre esse trabalho, seu grande trunfo nessas eleições, diz que como cristão acredita em algo muito diferente (do que a prefeitura e seu quinto retorno à Câmara Federal) que estava reservado a ele, como uma missão a ser cumprida. Ele poderia ter assumido como deputado federal, como primeiro-suplente de Tereza Cristina, que deixou a Câmara para ser ministra do governo Bolsonaro, mas preferiu aceitar o convite do governador Reinaldo Azambuja, sem jamais imaginar o tamanho da missão que teria pela frente.

Preocupado a perda da representatividade da região no Congresso Nacional, Geraldo Resende adverte que os agentes políticos de Dourados precisam repensar o jeito de fazerem política. “É uma forma da qual eu discordo, e que é fruto da falta de unidade no enfrentamento das demandas que a cidade nos oferta”, diz.

Reforçando essa crítica a esses “agentes políticos”, desabafa: “há, em Dourados, uma luta fraticida, em que esses agentes tentam crescer em cima da derrota dos outros”. E lamenta que haja algumas ditas lideranças em Dourados quem fazem a política da destruição dos adversários e até dos aliados, enquanto outros atuam na base do “quanto vale” financeiramente cada um. Mais lamentável, para ele, “é Dourados se contentar com as migalhas que caem da mesa de Campo Grande, com o eleitor caindo nessas armadilhas de pulverização de candidaturas sem lastro em outros municípios que garantam sua viabilidade eleitoral”.

Geraldo Resende aposta todas as suas fichas na eleição de Eduardo Riedel para o governo do Estado, mas não é tão otimista assim quanto à administração Alan Guedes, a quem recomenda um cavalo-de-pau para não passar à história como um dos piores prefeitos da terra de seu Marcelino.

Era para ser uma entrevista convencional, nessa série que o site vem fazendo com os candidatos nesse período de pré-campanha eleitoral, mas, por se tratar de um personagem tão polêmico, depois de todo o imbróglio uragânico, até como satisfação aos milhares de leitores, nada mais natural que uma mea-culpa daqui, com uns salamaleques dali. Ele fez questão de começar quebrando o protocolo:

“Há mais de 50 anos, eu trabalhei junto com você, Valfrido, na “Folha de Dourados” e desde então tenho acompanhado sua trajetória de sucesso como jornalista, que se transformou numa referência em Mato Grosso do Sul.

De meu lado, já naquela época, tinha o sonho de ser médico e, também adquiri o costume de assistir discursos políticos que me fizeram pensar na possibilidade de um dia atuar na política para buscar melhores condições de vida para nossa gente.

Considero-me muito feliz e realizado por ter conseguido cumprir dois sonhos que, aparentemente, seriam conflitantes, mas que para mim são complementares: ser médico e político. Ao longo de minha vida, tenho conciliado essas duas atividades, exercendo duas vezes mandato de vereador, uma de deputado estadual, quatro de deputado federal (no quinto, como suplente) e secretário estadual de saúde por duas vezes.

Ao deixar agora a Secretaria Estadual de Saúde para ser candidato a deputado federal, considero-me muito gratificado por essa passagem e agradeço a Deus por ter me dado saúde, forças, energia e discernimento para os enfrentamos que fiz; ao governador Reinaldo Azambuja pela oportunidade; aos milhares de servidores da saúde não apenas do Estado mas também dos 79 municípios sul-mato-grossenses por ombrear comigo nas batalhas que tivemos; aos gestores municipais (prefeitos e secretários municipais de saúde), bem como aos vereadores que apoiaram e estiveram lado a lado conosco, cobrando e apontando ações; e também à imprensa, por ter sido parceira de todas as horas, dando voz aos apelos constantes que fizemos, e trazendo à população as informações necessárias para que pudéssemos chegar ao momento atual, no qual começamos a voltar à normalidade pós-pandemia.

Particularmente, o meu muito obrigado a você, Valfrido, por esse espaço generoso que, seguramente, vai levar meu ponto de vista a milhares de pessoas, pela audiência extraordinária do seu blog.”

A entrevista:

Depois de dois insucessos políticos, mesmo com a chance de continuar deputado, como suplente, você preferiu aceitar o convite do governador Reinaldo Azambuja para este retorno à Secretaria de Saúde. Por que tomou essa decisão?

Vejo sempre pelo lado positivo. Tive vários sucessos políticos e continuo tendo uma carreira política exitosa. Em dois momentos, o resultado não foi o esperado: como candidato a prefeito de Dourados e na última eleição para deputado federal, quando fiquei como primeiro suplente da coligação. Nas duas ocasiões, os resultados me surpreenderam, mas como democrata que sou, respeitei a decisão soberana do povo nas urnas. Aceitei o convite de assumir a Secretaria Estadual de Saúde ao invés do mandato de deputado federal, por entender que poderia contribuir na formulação de políticas públicas para consolidar o SUS, sistema pelo qual lutei ainda quando estudante de Medicina

Daria para mensurar o prejuízo que Dourados teve com sua ausência de Brasília?

Nesse período, e até mesmo depois que não conquistei a cadeira de prefeito de Dourados na eleição retrasada, nunca deixei de trabalhar por minha cidade e por Mato Grosso do Sul, sempre procurando superar as limitações que a nova condição me impunha. Não sou eu quem diz, mas todas as vezes que encontro um ou uma douradense, a fala é de que, na verdade, quem perdeu foi a população desta cidade e do interior. Quando fui candidato a prefeito, tinha o entendimento de que poderia fazer uma verdadeira revolução administrativa na segunda maior cidade do Estado, pela experiência e pelo trânsito que tinha (e ainda tenho) junto a todos os escalões em Brasília e em âmbito estadual. Mas o povo não compreendeu dessa forma. Depois, ao não ser reeleito em 2018, assumi a pasta da saúde estadual e o resultado é o que todos estão vendo. De modo que os dois últimos resultados eleitorais não diminuem minha trajetória política.

O fato de Dourados não ter eleito deputado federal entre os candidatos residentes na cidade trouxe prejuízos?

A ausência de um representante em Brasília foi ruim para Dourados e cidades vizinhas. Espero que o povo entenda que a cidade e toda a região tiveram um retrocesso político muito grande, quando lembramos que já tivemos três deputados federais no Congresso, e hoje não temos nenhum. Inúmeras demandas que poderiam ser levadas para Brasília nesse período estão, em muitos casos, aguardando encaminhamento em nossa na capital federal. Eu acho que isso vai ser corrigido à medida em que o eleitor entender a importância de ter sua representatividade no Congresso Nacional.

Acredita que tenha sido coisa dos deuses, para que você pudesse bater no peito e dizer aos douradenses, particularmente, “olha aí a oportunidade que vocês perderam…”

Não vou bater no peito para afirmar isso. Mas como cristão, acredito que algo muito diferente estava reservado para mim, como uma missão a ser cumprida: atuar na saúde pública, com o advento da Covid-19. O governador Reinaldo me convidou para a tarefa de concluir a regionalização da saúde, mas logo no início da caminhada tivemos um desafio muito maior e que não esperávamos. Neste processo, com a ajuda de milhares de pessoas nos 79 municípios do Estado, apresentamos resultados positivos, que foram copiados Brasil afora. Em vez de me lamuriar e apontar culpados pelos resultados eleitorais, sinto-me muito gratificado por ter conseguido, na Secretaria Estadual de Saúde, construir uma equipe formidável e uma unidade com todos gestores municipais, fazendo Mato Grosso do Sul ser destaque na imunização e em outras ações de combate à pandemia. Outra conquista que me deixa muito feliz é o fato de, neste segundo mandato do governador Reinaldo Azambuja, termos conseguido avançar no processo de regionalização da saúde.

O que vem a ser essa “regionalização” da qual você fala?

É a estratégia que consiste em propiciar saúde de boa qualidade cada vez mais próxima dos cidadãos. Para tanto, temos obras importantes em todos os quadrantes do Estado, quer seja na atenção primária, quer seja na atenção hospitalar, com a ativação do Hospital Regional de Três Lagoas, nos próximos meses; término do Hospital Regional de Dourados e do Hospital do Câncer de Campo Grande. Temos ainda intervenções que fizemos em todos os municípios do interior, quer seja numa revitalização, construção ou ampliação de estruturas hospitalares que vão, de fato suprir lacunas importantes que vêm desde a criação do Estado. Temos ainda dois projetos que entendo que não são projetos de governo, mas sim de Estado: a construção do Hospital do Idoso, junto ao Hospital São Julião e do Hospital Materno Infantil, junto à Maternidade Cândido Mariano, ambos em Campo Grande.

Voltando a falar em eleições, em algum momento pensou em abandonar a política depois da derrota para a prefeitura e, pior, daquele tropeço para mais um retorno consecutivo para a Câmara Federal?

Tenho saudade da minha atividade enquanto médico. Lutei muito para me formar nessa profissão, e, mais do que ninguém, o entrevistador conhece a minha saga para poder entrar no curso de Medicina da Universidade Federal do Ceará e para fazer, depois, uma pós-graduação na USP de Ribeirão Preto e durante mais de quinze anos atendi mulheres de Dourados e região com compromisso, sacrifícios e dedicação para dar o melhor de mim na saúde pública. Enquanto político, me considero, como já disse, com uma trajetória exitosa. Dito isto, fica claro que nunca me passou pela cabeça abandonar a atividade política, mesmo porque já me encontro numa fase da vida que, olhando para trás, não me arrependo das decisões que tomei no campo profissional e de atuação política.

Aliás, na sequência, o deputado Barbosinha foi vítima do mesmo “fenômeno” das forças ocultas que atuam na política douradense. Não acha que está na hora de achar a tal cabeça de burro que diz a lenda estar enterrada lá debaixo do monumento ao herói Antônio João?

Eu acho que os agentes políticos de Dourados, há muito tempo, precisam repensar o jeito de fazerem política. É uma forma da qual eu discordo, e que é fruto da falta de unidade no enfrentamento das demandas que a cidade nos oferta. Há, em Dourados, uma luta fraticida, em que agentes políticos tentar crescer em cima da derrota dos outros. Tem gente em Dourados que faz a política da destruição dos adversários e até dos aliados, enquanto outros atuam na base do “quanto vale” financeiramente cada um. Enquanto existirem essas práticas, vamos ficar na política rasteira e medíocre que faz com que muitas lutas não tenham resultado positivo.

Nisso tudo entra a tão reclamada falta de protagonismo das lideranças políticas locais no contexto político estadual. Até que ponto esse bairrismo atrapalha?

Dourados sempre se queixa de que Campo Grande não a deixa crescer, e às vezes não enxerga que o problema está na própria cidade. Nós nunca tivemos uma luta comum e eu sempre chamei a atenção para isso. E, infelizmente, até as entidades de classe têm dificuldade em construir essa unidade que falta na política para discutirem o enfrentamento de gargalos na infraestrutura, como por exemplo na luta pelo aeroporto, na questão da UFGD, que só saiu pela dedicação de poucos atores, e também na construção do ramal da Ferroeste. É assim no enfrentamento da questão da saúde, que há pouco só resolvemos porque o governador Reinaldo Azambuja nos deu carta branca para atacarmos os principais problemas de saúde dos 79 municípios do Estado.

Até que ponto essa falta de unidade prejudicou o crescimento da cidade?

Apesar disso, Dourados continua se desenvolvendo, mais pela força econômica que a cidade experimenta no setor do agronegócio e pela capacidade da iniciativa privada, que supre essa lacuna, mesmo que às vezes as entidades que representam determinados segmentos econômicos tenham desacertos em encaminhar e em chamar as forças políticas para ajudarem em projetos que poderiam ser grandiosos para a cidade.

É por isso que Dourados não consegue eleger, por exemplo, um senador?

Não consegue eleger um senador, ficou sem representação na Câmara dos Deputados e hoje se contenta com as migalhas que caem da mesa de Campo Grande. Felizmente temos um governo, que eu espero que tenha continuidade, que supriu muitas deficiências e nos últimos cinco anos tem sido prefeito desta cidade, tanto na atual administração, quanto na passada. As grandes obras que acontecem em Dourados, em todos os sentidos e em todas as áreas foram executadas pelo Estado. Se não fosse o Estado, estaríamos realmente numa situação muitas vezes pior do que a atual.

Como você avalia a “enxurrada” de candidatos a deputado federal de Dourados?

É uma coisa inexplicável. Isso já foi feito como estratégia de lideranças políticas no passado para derrotar os deputados federais ou estaduais com mandato, ou seja, que tinham grande alcance eleitoral e, portanto, com chances de reeleição. E o povo cai nessas “armadilhas” de pulverização de candidaturas sem lastro em outros municípios que garantissem sua viabilidade eleitoral. Portanto, a pulverização já foi e pode continuar sendo usada como estratégia por determinada liderança política da cidade no sentido de prejudicar seus desafetos políticos. E isso, muitas vezes resultou em Dourados diminuir ou ficar sem representação em Brasília.

Você teve uma oportunidade para sair por cima, naquele episódio de combate veemente aos negacionistas da vacina. Não acha que ali, ao ser desautorizado publicamente pelo governador, seria o caso de marcar posição, como fez o ministro Mandetta, insubordinando e ganhando mais ibope ainda, o que facilitaria até voos mais altos na política, como, por exemplo, uma candidatura ao Senado?

Eu respeito quem tenha essa visão, mas eu nenhum momento fui desautorizado pelo governador. Eu participo de uma equipe de governo e dentro dele me deram todas as condições de trabalho. Sou muito grato ao governador por ter me possibilitado ser secretário de Saúde e ter mostrado a Mato Grosso do Sul e ao país que conseguimos construir uma equipe que verdadeiramente foi um caso de sucesso não só no enfrentamento da pandemia, mas de outras demandas de saúde pública do Estado, que vai deixar um legado de modificações profundas na área de saúde. Acredito que o episódio do enfrentamento dos negacionistas e dos antivacinas, ao lado dos desafios que já tínhamos nas demandas de saúde, foi de fato um marco. Na verdade, hoje eu colho frutos importantes disso.

Não se arrepende da sua fala naquele momento, então?

Não me arrependo. A minha posição contrária àqueles que fazem apologia da volta às trevas, que negam os avanços da ciência e ultimamente fazem a campanha antivacina, com o propósito de diminuir nosso esforço em vacinar grupos como o das crianças e idosos, continua a mesma. Ao contrário do que muitos possam imaginar, nossa determinação em avançar no processo de imunização fez com que tenhamos um reconhecimento em todos os municípios do Estado. Na capital, por exemplo, nos poucos ambientes que eu frequento, sempre sou abordado por pessoas simples do nosso povo que agradecem e elogiam nosso trabalho à frente da Secretaria Estadual de Saúde.

A propósito essa sua desincompatibilização agora é para tentar um retorno à Câmara Federal ou algo maior, senador, vice-governador…

Faço parte de um projeto e a posição para qual estou escalado – de pré-candidato a deputado federal -, me satisfaz porque penso que ainda posso servir muito bem Mato Grosso do Sul, lá em Brasília, com a bagagem que adquiri, com a experiência e com o vigor que, apesar da idade, eu ainda tenho. Todos sabem o meu diferencial: um trabalhador inveterado. Acredito que posso e preciso contribuir cada vez mais com a população de Mato Grosso do Sul e, principalmente, de Dourados.

E por que não governador? Cadê aquele Geraldo idealista, guerreiro, dos movimentos estudantis?

Como disse, participo de um partido que tem a construção de uma aliança com vários outros partidos, cuja definição, aliás, contou com a minha participação e que tem como pré-candidato a governador o ex-secretário Eduardo Riedel. Sinto-me muito à vontade, hoje, de ser pré-candidato a deputado federal e penso que no atual estágio da minha vida não tenho mais idade para aventuras políticas.

O ex-prefeito Tetila diz sempre que a Saúde é um saco sem fundo, quanto mais o governo investe, maiores são as demandas, concorda?

Entendo que temos o melhor sistema de saúde do mundo, que é o SUS. No entanto, ele é subfinanciado, ou seja, há recursos limitados para abarcar tantas exigências que a sociedade oferece. Além disso, há modificações extremadas, ou seja, surgem equipamentos cada vez mais sofisticados, mais caros e os recursos não acompanham a evolução dos custos. E quando você contempla hoje uma demanda que há algum tempo estava represada, amanhã outras demandas se apresentam. Por isso sempre digo que é preciso ter defensores da saúde lá no Congresso Nacional e é por isso que me coloco à disposição para ser o deputado da saúde, com a experiência e bagagem de ter sido duas vezes secretário estadual de saúde, com a formação de médico… Alimento a expectativa de que em Brasília tenhamos uma bancada da saúde muito maior, no próximo mandato. Dos 27 secretários de saúde do país, dez vão ser candidatos a deputados federais e todos eles com possibilidade serem eleitos. Assim, vamos melhorar a qualidade da representação da saúde e ativar frentes como a Frente Parlamentar da Saúde – cuja presença decaiu sensivelmente – e fazer a discussão sobre os recursos para o setor, a fim de que tenhamos um orçamento mais robusto para enfrentar as atuais e futuras demandas. Felizmente, temos um avanço enorme da ciência e da tecnologia, que aponta a necessidade de equipamentos, estruturas e serviços modernos e mais eficientes para serem disponibilizados à população.

Você conseguiria imaginar o combate à pandemia sem o SUS?

Não consigo imaginar. Quem sustentou o enfrentamento e não deixou o país colapsar foi esse sistema vigoroso, o qual precisamos fortalecer cada vez mais; e por isso hoje a terminação de construir uma candidatura, porque quero ser, mais uma vez, defensor ferrenho do SUS, como já o fiz em outros mandatos e agora muito mais, com o revigoramento que tive nessa passagem de três anos e três meses na Secretaria Estadual de Saúde.

Um exemplo da escassez de recursos: a palavra de ordem hoje na mídia é o “caos” na Saúde em Dourados. Esses R$ 70 milhões que você deixou alocados para o custeio ao longo do ano foi divulgado como uma panacéia, mas não demora e voltam as manchetes negativas…

O governo estadual foi muito generoso com Dourados. Por meio da nossa intervenção junto ao governador, apontamos um elenco de ações que poderão tirar Dourados dessa tragédia que hoje temos na área de saúde, com a falta de simples EPI’s para uso diário, apesar dos equipamentos que mandamos durante a pandemia e os recursos financeiros repassados lá atrás… esses R$ 70 milhões, na história da cidade e de Mato Grosso do Sul são um montante que cidade nunca teve. Espero que agora Dourados deixe de ser esse muro de lamentações não só da população humilde que tem acesso ao meu telefone, mas de profissionais da saúde como médicos, odontólogos, enfermeiros, outros profissionais da saúde e agentes políticos que faziam apelos para que a gente pudesse socorrer a cidade. Fizemos uma espécie de socorro, mas precisamos entender que a saúde de Dourados não é só questão de falta de recursos, mas sim, de gestão. Se não tivermos gestores que entendam melhor o Sistema Único de Saúde e que possam fazer intervenções duras, para modificar inclusive a visão do próprio setor, isso será apenas um paliativo.

Quais intervenções deverão ser feitas, de imediato, com esses R$ 70 milhões?

Desse total, R$ 14 milhões são para construir o mais moderno centro de diagnóstico e centro de imagens que teremos em Mato Grosso do Sul, talvez na região Centro-Oeste, sendo que parte desse valor eu tinha conseguido enquanto deputado federal. Temos ainda R$ 10 milhões para resolver atrasos de pagamentos de servidores e fornecedores; temos recursos para melhorar a saúde indígena, quer seja o SAMU específico, quer seja apoio ao Hospital Porta da Esperança, que precisa ofertar um atendimento diferenciado para usuários de drogas e álcool. Temos recursos para melhorar estruturas que estão deterioradas e que colocam em risco a vida de pessoas que trabalham lá, e dos usuários, como as unidades de Vila São Pedro, de Indápolis, do Jardim Leste e a Clínica da Mulher. E o governador apontou inclusive na recuperação da UPA. Temos recursos, há mais de cinco anos, que encaminhei enquanto deputado federal, para obras que nem iniciaram e outras que estão paradas, como o Centro Homeopático de Dourados e o posto de saúde do Jardim Ouro Verde. E o administrador de Dourados precisa procurar os onze parlamentares, porque tenho certeza que cada um deles pode colocar recursos para revitalizar as demais unidades de saúde. Reitero: precisamos recuperar não apenas a obra física, mas superar a desmotivação que existe no setor de saúde de Dourados, colocando os profissionais como protagonistas de uma mudança radical no atendimento à população local e regional, que nos reporta a rotina diária de negativas no atendimento que Dourados deveria ofertar e que não o faz, muito embora isso esteja pactuado nas devidas instâncias do SUS.

Eduardo Riedel, decola?

Não só decola, mas será o futuro governador do Estado, pela força de um governo que, sem sombra de dúvidas, foi o melhor da história de Mato Grosso do Sul, cujo governador tem sido prefeito dos 79 municípios, com obras em todos os setores da vida das cidades, seja na infraestrutura, no saneamento básico, na saúde, na educação, esporte, segurança e nos grandes projetos sociais que tem feito. Com o apoio da maioria esmagadora dos vereadores, os prefeitos, eu não tenho dúvida que no momento em que a nossa população estiver voltada para o debate eleitoral, o Eduardo Riedel vai se despontar, porque é um gestor que demonstrou competência enquanto secretário de governo e de infraestrutura. Foi o braço direito do governador Reinaldo nessas mudanças e quando a população o conhecer melhor, não tenho dúvidas, de que fará o reconhecimento da atual gestão e vai entender que não podemos experimentar retrocessos.

Alan Guedes, vai ou não vai?

Torço por Dourados. Não sou daqueles que fazem a política do “quanto pior, melhor”. Mesmo estando em campo oposto ao Alan Guedes na eleição passada, torço pelo sucesso da cidade. No entanto, como já se passaram quinze meses da atual gestão, acredito que o prefeito está devendo muito à cidade. O impacto negativo de quem passa ou chega a Dourados é muito grande, por ver a cidade em completo abandono. Particularmente, conheci por dentro a questão da saúde, que me parece que poderá ser revertida com o aporte de recursos que estamos apontando. Mas há outros setores que clamam por mudanças radicais. Na área da educação, temos uma greve que se arrasta há muito tempo, sendo urgente que o prefeito, de fato, junto às lideranças do sindicato, encontre uma saída para não prejudicar nossas crianças. Há demandas na área de infraestrutura e de habitação que, transcorridos 15 meses, já deveriam ter sido enfrentadas, sob pena de, se não houver uma resposta efetiva, daqui a pouco poderemos ter processos de total esgarçamento do pouco de apoio que ainda resta ao gestor douradense. Há um inconformismo generalizado da nossa população, inclusive daqueles que o fizeram prefeito. Isso é um caldo de cultura que pode levar, dentro de pouco tempo, a situações de crise muito maior do que a atual.

Se Dourados for mal, afeta toda região…

Totalmente. Dourados é uma cidade-centro, referência não apenas na saúde, mas na prestação de serviços, no comércio e na educação de 33 municípios da macrorregião. Quando Dourados vai mal, todas essas cidades têm perdas importantes que precisam ser revertidas. Torço para que o prefeito Alan Guedes possa reverter essa situação, mesmo que eu não alimento expectativa muito grande de que ele possa mudar completamente o rumo da atual administração.

O prefeito de Dourados, por comandar a segunda maior cidade do Estado, não deveria assumir um papel de protagonismo e liderança na região?

Eu acredito que qualquer prefeito ou prefeita de Dourados precisaria assumir essa liderança. Mas acho que, infelizmente, passou o momento do atual prefeito construir isso. No entanto, ele pode, ainda, buscar a bancada federal para viabilizar recursos que possam ser injetados em Dourados para superar essa situação de total distanciamento que a administração douradense tem de seus eleitores. É preciso que o Alan Guedes faça um verdadeiro cavalo-de- pau, caso tenha a pretensão de não passar como o pior prefeito da história de Dourados.

Pra encerrar, o tratorzinho já está na revisão, pronto pra voltar para o trecho?

O tratorzinho foi um símbolo que eu usei em mandatos anteriores, que teve uma aceitação muito grande, simbolizando a nossa capacidade de trabalho. Agora, estou pensando e aceito sugestões de qual será o meu próximo símbolo… (risos). Será que vai ser o “Geraldinho” como médico com uma seringa na mão, em alusão à logística que construímos para sermos referência nacional em imunização? Mas respondendo a sua pergunta: realmente, estou pronto para percorrer o trecho, rever amigos e companheiros, muitos dos quais não pude encontrar nesse período por causa da pandemia e da rotina de trabalho da Secretaria Estadual de Saúde. Com certeza, vou matar a saudade de abraçar milhares de amigos que fiz ao longo de minha vida pública em todas as cidades de Mato Grosso do Sul.

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