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sexta-feira, abril 26, 2024

Rose descarta plano B de Azambuja

Deputada federal trocou o PSDB pelo União Brasil para concorrer ao governo do estado

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Mesmo demonstrando ser boa de voto desde a primeira eleição em que disputou, para a Câmara de vereadores de Campo Grande, onde foi reeleita; depois, como vice-governadora de Reinaldo Azambuja (2014), chegando ao segundo turno das eleições para a prefeitura da capital em 2016 e campeã de votos como deputada federal (120 mil votos) – a mais votada, proporcionalmente, no Brasil – a então tucana Rose Modesto teve as asas cortadas ao tentar novamente disputar a prefeitura de Campo Grande em 2020, quando as pesquisas indicavam a possibilidade vitória, sendo obrigada pelo partido a apoiar a eleição de Marquinhos Trad. Aí, já sabia que não teria chances de competir, no ninho tucano, com o outsider Eduardo Riedel, que já vinha sendo preparado pelo governador Reinaldo Azambuja para as eleições de 2022. Veio o União Brasil e, com isso, a tão sonhada oportunidade de fazer o protagonismo na política estadual, descartando, pelo óbvio da coisa, a possibilidade de ser o tão cogitado plano B do governador Reinaldo Azambuja, caso a candidatura Riedel não emplaque.

De família de trabalhadores rurais de Culturama, na Grande Dourados, bolsista na Universidade, Rose Modesto sempre teve os olhos voltados para a questão social. Entre seus primeiros projetos, o “Tocando em Frente”, destinado a crianças e adolescentes, que já atendeu mais de dez mil crianças na periferia de Campo Grande. Quando vice-governadora de Reinaldo Azambuja, acumulou a secretária de estado de Direitos Humanos, Assistência Social e Trabalho, onde executou, entre outros, os programas “Vale Universidade” e “Vale Renda”.

Como deputada federal apresentou projetos que ampliaram as políticas públicas para a mulher, coibindo a violência e assegurando educação pública de qualidade. Integrante de várias comissões, como a Comissão Externa para acompanhar os casos de violência doméstica contra a mulher e crimes de feminicídio, foi vice-presidente da Comissão de Educação e vice-líder da bancada do PSDB. Hoje, integra a mesa diretora da Câmara Federal, como terceira-secretária.

Agora, candidata a governadora, descolando-se da imagem de “caixeira viajante” (deputados que só se preocupam em cavar dinheiro das tão polêmicas emendas parlamentares), promete continuar priorizando os projetos sociais para mudar a realidade do Mato Grosso do Sul, “um estado rico, que bate recordes de produção de alimentos, mas que tem mais de 21% de sua população vivendo na linha da pobreza”.

Nesta entrevista ao ContrapontoMS ela reclama também que a política ainda é um ambiente hostil para as mulheres, lembrando que na campanha de 2016 havia candidatos homens de cabelo crespo, grisalhos, até sem cabelo, mas apenas ela foi hostilizada, questionada, somente pela maneira que há muitos anos gosta de pentear meu cabelo.

Deputada, a senhora vem de Colônia Federal de Dourados – feito histórico do trabalhismo-getulista – berço político do emedebista André Puccinelli e do sempre liberal cacique Londres Machado, mas começou na política como militante da social democracia de Reinaldo Azambuja, de quem hoje está “adversária”, depois de abandonar o ninho tucano para se filiar ao União Brasil. Afinal, que ideal move sua candidatura ao governo do estado?

O ideal que me move é mudar a realidade que temos em Mato Grosso do Sul, um estado rico, que bate recordes de produção de alimentos, mas que tem mais de 21% de sua população vivendo na linha da pobreza, sobrevivendo com menos de meio salário mínimo. Temos milhares de sul-mato-grossenses que não conseguem emprego, que não possuem renda, e sem renda não tem dignidade, e sem dignidade não tem como combater as desigualdades. Quero ver o estado mais igualitário, que gere oportunidades para o grande, para o médio, mas principalmente para aqueles que mais dependem do poder público. Esse é um sonho que me move. Sonho de ver a educação abrindo caminhos, transformando vidas. Realizar o sonho de muitas famílias, de ver seus filhos formados, com uma profissão, empregados. Esse que foi, um dia, o sonho da minha família. Hoje estou aqui, por conta das oportunidades que recebi como aluna bolsista para fazer minha faculdade. Por isso acredito na educação, na igualdade, no progresso e na justiça social.

Do idealismo para o pragmatismo político. Sua candidatura é tida como um plano B do governador Reinaldo Azambuja, caso naufrague a candidatura oficial de Eduardo Riedel…

O PSDB, desde 2020 vem me preterindo das disputas, nessa eleição negou a legenda para minha candidatura para prefeitura de Campo Grande. Mesmo as pesquisas indicando que eu poderia vencer as eleições, decidiram apoiar a reeleição de Marquinhos Trad. Logo após o pleito, fui informada que o candidato ao governo do PSDB, em 2022, seria Eduardo Riedel. Infelizmente, não encontrei respaldo e abertura, mesmo com todas as pesquisas demonstrando nosso potencial, me informaram que não levariam isso em consideração. Respeito a decisão do PSDB, mas nossos caminhos ficaram opostos e a ruptura foi inevitável. Minha candidatura nunca foi um plano B para o PSDB, pelo contrário, por orientação do partido eu não seria nem candidata, pois não é o que eles querem.

Tanto que manteria intocáveis alguns de seus correligionários em cargos estratégicos no governo do estado…

As pessoas que estão trabalhando no governo, muitas delas inclusive, trabalharam comigo, enquanto era Vice-governadora, ajudaram o governador em sua eleição, reeleição e continuam contribuindo para o governo em suas atribuições. Todo servidor público, mesmo comissionado, tem como função servir ao estado, a população e não servir a política. A decisão é do governador, de quem ele mantém em seu time, se está fazendo um bom trabalho. Não acredito em retaliação, essa é uma prática da velha política. Quem está no governo, acredito que esteja cumprindo com suas obrigações, prestando um bom trabalho à população. Manter ou não no cargo é inerente à avaliação do gestor e não se está servindo politicamente ao candidato A, B ou C. Existem algumas pessoas mais ligadas ao nosso projeto que já saíram do governo, outras que já estão nesse processo, e que vão caminhar comigo, esse movimento é natural e não obrigatório.

Por essas circunstâncias, uma candidata de Culturama, com um pé em Fátima do Sul outro em Glória de Dourados, faz lembrar a história do candidato Yassuo Morishita, de Glória, nos tempos da ARENA (partido único do período militar), que recorreu ao ex-prefeito José de Azevedo, que havia se mudado para São Paulo, para ajudar a somar votos para ele numa sublegenda, só que Azevedo somou além do esperado por Morishita e acabou, ele, elegendo-se prefeito. Seria essa a inspiração de sua candidatura?

Acredito que olhar para o passado nos mostra duas coisas importantes: o que fazer e o que não fazer. Uma das maiores inspirações para esse passo gigante que estamos dando é ver milhares de pessoas acreditando junto, caminhando junto e construindo uma base forte. É uma responsabilidade muito grande carregar a bandeira dos sonhos e anseios de uma parcela significativa da nossa população, faço isso com muito respeito, atenta a todos os caminhos que vamos encontrar, fiel ao nosso projeto e fiel ao sentimento de mudança que acreditamos.  

A deputada Rose Modesto está sendo só mais uma caixeira-viajante nesse contexto de emendas parlamentares e orçamento secreto ou tem algum projeto apresentado ou em tramitação que pretenda usar como bandeira de campanha?

Absolutamente não. Temos um mandato consistente, atuante, que propõe, que debate, que ouve e que busca atender as demandas da população. Durante esses anos o mandato foi bastante participativo. Toda busca de recurso foi feita a partir da demanda da população, dos vereadores, prefeitos, entidades. Todos meus projetos vão ao encontro das minhas bandeiras, como quando lutamos pela manutenção do Fundeb, para educação de qualidade e valorização dos trabalhadores da educação, quando apresentamos mudanças nas leis para torná-las mais rígidas em casos de feminicidio, incentivando políticas públicas consistentes para as mulheres, e nosso estado é recorde nesse crime. Temos como bandeira também a valorização e o respeito aos servidores, e como governadora quero fortalecer ainda mais os servidores públicos, pois são eles quem estão à frente do atendimento à população. Vimos a importância de melhorar nosso sistema de saúde, em 2021, ano mais pesado da Pandemia; destinamos muitas emendas para esse setor, socorrendo o interior e a capital, e em nosso governo não vamos, em um primeiro momento, construir hospitais e sim equipar os existentes para dar atendimento integral a população. Outro ponto importante do nosso mandato que vou levar comigo é a questão da geração de renda e dignidade, atuamos em Brasília para aprovar a continuidade do Auxílio Brasil, acredito na transferência de renda, mas acredito mais ainda na capacitação e na oportunidade para essas pessoas saírem de uma situação de vulnerabilidade, e isso só é possível com emprego, com economia girando, com empresas fortes, com o agro pujante. Teremos a coragem de fazer uma discussão sobre a carga tributária do Mato Grosso do Sul que é a mais pesada do Brasil. Hoje as contas públicas do estado estão organizadas, arrecadamos R$ 25 bilhões, temos uma despesa fixa de R$ 18 bilhões, e mesmo ainda com outras despesas, acumulamos um superávit de quase R$ 4 bilhões, isso já demonstra que é possível promover justiça fiscal, aliviar os impostos, para os empresários, principalmente os pequenos e médios que geram muitos empregos, aumentando a geração de renda, promovendo dignidade para população. Temos que fazer essa roda girar para todos.

Como um dos maiores partidos do país o União Brasil está com a burra cheia para fazer campanha. Isso basta para enfrentar uma máquina tão azeitada como a que banca a campanha de Eduardo Riedel ou será necessário passar a sacolinha aos sempre problemáticos financiadores de campanha?

Acredito que a questão não é quem terá mais dinheiro para fazer campanha, mas sim quem tem o melhor projeto para Mato Grosso do Sul, e o eleitor está atento a isso. As pesquisas mostram o desejo de mudança e não de quem tem mais recurso. Já vi muitas campanhas com muito recurso e que não conseguiram conquistar a confiança do eleitor. 

Entre seus adversários, um ex-governador que ficou 52 dias na cadeia, que usou tornozeleira eletrônica, acusado de corrupção; outro, apoiado por um governador, pelo mesmo motivo, todo encrencado na justiça. Seria a lógica para um embate Rose x Marquinhos num segundo turno?

Essa é uma decisão do povo. A população está atenta! Hoje com a comunicação mais democratizada as pessoas têm acesso à informação, sabem o que cada um fez, as promessas não cumpridas e até a trajetória pessoal e política de cada candidato. O eleitor tem condições de votar muito mais consciente, de encontrar o projeto que ele defenda e acredita, e não cair em conversa de promessas fáceis, que não são cumpridas. Em um embate importante como é de um governo do estado, não dá pra ficar escolhendo adversário, o caminho que será mais fácil, tem que ter convicção de suas propostas, projetos e condições de governar. Eu estou muito segura do papel importante que estamos representando.

Neste caso, não teme perder a coerência de seu discurso, caso venha a ter os perdedores em seu palanque num segundo turno?

Todo candidato deve discutir um plano de governo com a população, apresentando as propostas, as diretrizes, as políticas e bandeiras que defende. A coerência do 2° turno, ao buscar apoio de um partido, e não de uma pessoa, é extrair do programa de governo desse partido as melhores propostas, que possam contribuir para um projeto conjunto em um eventual governo. Não podemos personalizar o debate. Mato Grosso do Sul e o Brasil precisam da união de muitas frentes para voltar a crescer, gerar emprego, riquezas e acabar com a fome de milhares de famílias.

Num áudio vazado na internet e senhora se insinuou como “a morena mais bonita de Mato Grosso do Sul”. Até que ponto o fato de ser mulher, evangélica, cantora e violeira ajuda a alavancar uma campanha desse porte, num universo ainda tão machista?

A política ainda é um ambiente hostil para as mulheres. O fato de ser mulher não é condição para as pessoas votarem em mim, mas isso também não pode jamais ser impeditivo para receber um voto, somente por eu ser mulher. Já tivemos 11 governadores homens neste Estado, e há 20 anos nenhuma mulher se sentiu segura ou respaldada para se candidatar. É muito difícil para mulher ser questionada pela sua roupa, seu cabelo, pela sua maneira de falar, por se achar bonita. Na campanha em 2016, tínhamos candidatos homens de cabelo crespo, grisalhos, até sem cabelo, mas apenas eu fui hostilizada, questionada, somente pela maneira que há muitos anos eu gosto de pentear meu cabelo. O que deve ser questionado em uma eleição são a competência, a capacidade e os projetos de um candidato ou candidata. Porque somente com as mulheres isso é diferente? Precisamos mudar essa realidade, por isso também estou aqui.

Murilo Zauith. Seu novo companheiro de partido pode ser, mesmo, como divulgado nos últimos dias, também seu companheiro de chapa?

Murilo é um gestor capaz, empresário de sucesso, uma pessoa íntegra que engrandece qualquer projeto. Sinto-me honrada de poder ser sua companheira de partido. A chapa, estamos discutindo em conjunto. Esse não é um projeto meu e sim de milhares de pessoas, e o Murilo é um grande parceiro nessa jornada. 

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