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sexta-feira, abril 19, 2024

A tentação de Murilo

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Ponha-se o leitor-eleitor no lugar de Murilo Zauith. Empresário dos mais bem-sucedidos do Mato Grosso do Sul, político idealista, avesso ao clientelismo e ao carreirismo, que nunca alardeou, mas que também nunca escondeu o desejo de um dia chegar ao governo do estado ou – pretensão até maior, por seu perfil – ao Senado da República. Este, aliás, o sonho de todo político que se preze, o de encerrar a vida pública no “céu”, como é conhecido o Senado. Ainda mais ele, que como deputado federal tinha como rotina atravessavar do salão verde para o azul do Congresso, e, no plenário da Casa vizinha, sempre cobiçando uma daquelas cadeiras para um legítimo representante da Grande Dourados (não custando repetir que Soraya Thronicke [que à época nem sonhava com isso] é douradense de nascimento, mas não com a representatividade política que a terra de seu Marcelino tanto anseia e merece).

Agora, convalescendo da Covid, depois de quase um ano entre o céu e o inferno, com tempo de sobra para refletir sobre a vida, revendo conceitos e mirando atitudes para o futuro, aí incluídas novas estratégias para o projeto que sempre teve em mente, para Dourados e para o estado; sem ódios ou rancores, como bom cristão que é, mas remoendo tudo o que passou nos dias que antecederam o calvário da Covid (quando deixou a poderosa secretaria de Infraestrutura, por conta de mexericos de assessores desautorizados a falar em seu nome), eis que chega uma proposta que, a princípio, poderia parecer até ofensiva, mas que olhada e analisada de forma mais pragmática seria um atalho, pelo menos, para a transformação em realidade desse sonho acalentado pelos douradenses há tantos anos.

Esse o drama de Murilo, só de pensar na oportunidade perdida de “ganhar” uma cadeira de senador por pelo menos quatro anos

É que nesse ócio forçado da convalescência, com tempo até para rever  coisas como “o processo” de cassação de Dilma Roussef, no Netflix, certamente que o vice-governador não ficou alheio às mazelas político-administrativas do estado e do país, e, se não assistiu, deve ter ficado sabendo de uma fala de Jair Bolsonaro, numa das lives presidenciais das quintas-feiras, cujo teor continha um ingrediente capaz mexer com seu ego, e começando a encher sua cabeça de caraminholas. Foi o dia em que o presidente da república reconvidou publicamente sua ministra da agricultura, Tereza Cristina, para continuar no cargo, uma vez, claro, reeleito, mas para isso devendo ela primeiro se eleger senadora.

Para atiçar ainda mais o tal do bicho-carpinteiro que vira-e-mexe insiste em tirar o sempre paciente Murilo do sério, foi também por esses dias do inusitado reconvite à ex-ministra que ele também foi tentado, pela primeira vez. Como udenista escolada, com o bisavô e o avô (Pedro Celestino e Fernando Corrêa da Costa), senadores e governadores do velho Mato Grosso, Tereza Cristina não quis fazer o convite diretamente, para evitar o constrangimento de ouvir um não. Assim, mandou um preposto sondar Zauith. Para ser seu suplente na candidatura senatorial. Pego de supetão, ele saiu pela tangente, o que foi atribuído ao estresse pós-Covid, mas começando aí a sentir urticárias.

Dos riscos – numa campanha que promete ser das mais renhidas da história do ainda jovem Mato Grosso do Sul –, o menor. Bolsonaro reeleito e, pela longevidade que conseguiu neste primeiro governo, Tereza Cristina não teria tempo de sequer esquentar a cadeira no Senado, indo lá apenas para o protocolo de posse, ato contínuo, como fez quando empossada no segundo mandato de deputada federal, franqueando a cadeira ao suplente. Esse o drama de Murilo, só de pensar na oportunidade perdida de “ganhar” uma cadeira de senador por pelo menos quatro anos E, quiçá, pela mais que cristalina tendência golpista de Bolsonaro, até podendo cumprir o mandato integral.

Para agravar de vez o quadro que pode estar levando Zauith a adicionar doses cada vez mais fortes de ansiolíticos à sua lista de medicação para as sequelas da Covid, eis que o presidente Bolsonaro dá sinais de reação e começa a fungar no cangote de Lula da Silva. Isto porque, compor uma chapa majoritária com Tereza Cristina, do Progressistas, significa estar no palanque do tucano Eduardo Riedel, o candidato do governo a ele que pertence, mas do qual é hoje visceral adversário.

Menos mal que num contraponto ao espectro lulo-petista que transforma em pesadelo este sonho dourado de Murilo, e aí ele já se livrando também das visões aterradoras que tem com Azambuja e Riedel, um outro sonho, menos perturbador, não para dar vazão a esses momentos de fraqueza em que vem à tona o desejo de vingança, que ele jura não ter, mas para uma sobrevida, dele e de Dourados, na política – o sonho com uma morena bonita, falante, faceira e boa de voto, que aparece até em sua sagrada sesta, insinuando-se e prometendo maravilhas, como o direito de pedir música no fantástico! Três vezes vice-governador, na expectativa, apenas, do cargo? Não, isso não é mais coisa para quem já tem as coronárias cheias de stents! Esta, a segunda tentação. A terceira, criar coragem e partir para o ataque, para o protagonismo, como candidato a governador ou a senador.

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